Se a Umbanda é uma religião
nova, seus valores religiosos fundamentais são ancestrais e foram
herdados de culturas religiosas anteriores ao Cristianismo.
A Umbanda tem na sua base de informação os cultos afros,
os cultos nativos, a doutrina espírita kardecista, a religião
católica e um pouco da religião oriental (budismo e hinduísmo)
e também da magia, pois é uma religião magística
por excelência o que a distingue e a honra, porque dentro dos
seus templos a magia é combatida e anulada pelos espíritos
que neles se manifestam incorporando nos seus médiuns.
Dos elementos formadores das bases da
Umbanda surgiram as sua principais correntes religiosas, as quais interpretamos
assim:
1ª Corrente: Formada
pelos espíritos nativos que aqui viviam antes da chegada dos
estrangeiros conquistadores. Esses espíritos já conheciam
o fenômeno da mediunidade de incorporação, pois
o xamanismo multimilenar já era praticado pelos seus pajés
em suas cerimônias. Eles já acreditavam na imortalidade
do espírito, na existência do mundo sobrenatural e na capacidade
de “os mortos” interferirem na vida dos encarnados. Também
acreditavam na existência de divindades associadas a aspectos
da natureza e da Criação Divina. Tinham um panteão
ao qual temiam, respeitavam e recorriam sempre que se sentiam ameaçados
pela natureza, pelos inimigos ou pelo mundo sobrenatural. Também
acreditavam na existência de espíritos malignos e de demônios
infernais, mas sem a elaboração da religião cristã
que aqui se estabeleceu.
2ª Corrente: Os
cultos de nação africana, sem contato com os nativos brasileiros,
tinham essas mesmas crenças, só que mais elaboradas e
muito bem definidas. Seus sacerdotes praticavam rituais e magias para
equilibrar as influências do mundo sobrenatural sobre o mundo
terreno e também para equilibrar as pessoas.
Acreditavam na imortalidade dos espíritos
e no poder deles sobre os encarnados, chegando mesmo a criar um culto
para eles (o culto de egungum dos povos nigerianos).
Também cultuavam os ancestrais
por meios de ritos elaboradíssimos e que perduram até
hoje, pois são um dos pilares de suas crenças religiosas.
Sua cultura era transmitida oralmente
de pai para filho, na forma de lendas, preservando conhecimentos muito
antigos, como a criação do mundo, dos homens e até
eventos análogos ao dilúvio bíblico.
A Umbanda herdou dos cultos de nação
afro o seu vasto panteão Divino e tem no culto às divindades
de Deus um dos seus fundamentos religiosos, tendo desenvolvido rituais
próprios do religamento do encarnado com sua divindade.
O panteão Divino dos cultos afros
era pontificado por um Ser Supremo e povoado por divindades quês
são os executores e manifestadores Dele junto aos seres humanos,
assim como são seus auxiliares Divinos que o ajudaram na concretização
do mundo material, demonstrando-nos que, de forma simples, tinham uma
noção exata, ainda que limitada por fatores culturais,
da forma como se nos mostra Deus e seu universo Divino.
3ª Corrente: Formada
pelos kardecistas de mesa, que incorporavam espíritos de
índios, de ex-excravos negros, de orientais, etc. Criaram a corrente
denominada “Umbanda Branca”, nos moldes espíritas,
mas na qual aceitavam a manifestação de caboclos, pretos-velhos
e crianças.
Esta corrente pode ser descrita como
um meio termo entre o espiritismo, os cultos nativos e os afros, pois
se fundamenta na doutrina cristã, mas cultua valores religiosos
herdados dos índios e negros.
Não abre seus cultos com cantos
e atabaques, mas sim com orações a Jesus Cristo. As suas
sessões são mais próximas dos kardecistas que das
umbandistas genuínas, que usam cantos, palmas e atabaques.
Seus membros se identificam como Espíritas de Umbanda.
4ª Corrente: A
magia é comum a toda a humanidade e as pessoas recorrem a ela
sempre que se sentem ameaçadas por fatores desconhecidos ou pelo
mundo sobrenatural, principalmente pela atuação de espíritos
malignos e por processos de magia negra ou negativa.
Dentro da Umbanda, o uso da magia branca
ou magia positiva se disseminou de forma tão abrangente que se
tornou parte da religião, sendo impossível separar os
trabalhos religiosos espirituais puros dos trabalhos espirituais mágicos.
Muitas pessoas desconhecem a magia classificada como magia religiosa.
Mas esta nada mais é que a fusão da religião com
a magia.
Estas são as principais correntes
religiosas e doutrinarias que formam as bases da Umbanda. E isso sem
falarmos do sincretismo religioso, pela qual a religião católica
nos forneceu as suas imagens que, colocadas em nossos altares, facilitaram
o processo de transição de católicos para a Umbanda.
A estrutura religiosa espiritual da
Umbanda já está pronta e só falta ser estruturada
aqui, no plano material, para dar-lhe uma feição uniforme,
quando seus valores religiosos e seus fundamentos Divinos serão
definitivos, deixando de mudar ao sabor das suas correntes mais expressivas.
Os mensageiros espirituais nos
alertam que esta estruturação deve ser feita de forma
lenta e muito bem pensada. Nós temos certeza de que no futuro
a Umbanda terá uma feição religiosa muito bem definida,
pois suas correntes formadoras se unificarão e se uniformizarão,
fortalecendo a Umbanda como religião.
Texto extraído do livro
do autor “Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada - A Religião
dos mistérios - Um hino de amor à vida”.
- Editora Madras
Rubens Saraceni, Umbanda
Fonte: http://povodeluz.blogspot.com/2009/05/as-quatro-correntes-de-umbanda.html
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