Escrever sobre Exú Mirim se faz necessário nesse momento
porque, desde que psicografei o livro Lendas da Criação
- A Saga dos Orixás, sua importância na Criação
e na Umbanda mostraram-se maior do que imaginava-se.
Não temos escritos abundantes a nossa disposição
que ensinem-nos sobre esse Orixá ou que fundamente-o com Mistério
Religioso.
Essa falta de textos esclarecedores
e fundamentais das suas manifestações religiosas nesse
primeiro século de existência da Umbanda deixou Exú
Mirim à própria sorte, ou seja: a vagos comentários
sobre seus manifestadores que pouco ou nada esclareceram sobre eles
e ao que vieram! Inclusive, por terem sido descritos como "espíritos
de moleques de rua", cada um incorporava-o com os típicos
procedimentos de crianças mal-educadas, encrenqueiras, bocudas,
chulas, etc.
Foram tantos os disparates cometidos
que é melhor esquecê-los e reconstruir todo um novo conhecimento
sobre o Orixá Exú Mirim, antes que ele deixe de ser incorporado
e relegado ao esquecimento, como já foi feito com muitos dos
Orixás que, por falta de informações corretas e
fundamentadoras, deixaram de ser cultuados aqui no Brasil.
Nas Lendas da Criação,
Exú Mirim assumiu uma função e importância
que antes nos eram desconhecidas. A função é a
de fazer regredir todos os espíritos que atentam contra os princípios
da vida e contra a paz e a harmonia entre os seres. A importância
e a de que, sem Exú Mirim nada se pode ser feito na Criação
sem sua concordância. Com Exú, dizia-se que "sem ele
não se faz nada". Já, com Exú Mirim, "sem
ele nem fazer nada é possível".
Vamos por partes para entendermos sua
importância e fundamentá-lo, justificando sua presença
na Umbanda.
1) Cada Orixá é um dos
estados da Criação. Um é a Fé, outro é
a Lei, outro é o Amor, e assim por diante, independente de suas
interpretações religiosas.
2) Por serem estados, são indispensáveis,
insubstituíveis e imprescindíveis á harmonia e
ao equilíbrio do todo. O Estado da matéria considerado
"frio" só é possível por causa da existência
do estado "quente" e ambos na escala celsus indica os dois
estados das temperaturas. Sem um não seria possível dizer
se algo está frio ou
quente; se algo é doce ou amargo, se algo é bom ou ruim,
etc. É a esse tipo de "estado" que nos referimos e
não a um território geográfico, certo?
3) Muitos são os estados da Criação
e cada um é regido por um Orixá e é guardado e
mantido por todos os outros, pois se um desaparecer (recolher-se
em Deus), tal como numa escada, ficará faltando um degrau, e
tal como numa escala de valores, estará faltando um grau que
separe o seu anterior do seu posterior.
4) Quando a Umbanda iniciou-se no plano
material, logo surgiu uma linha espiritual ocupada por espíritos
infantis amáveis, bonzinhos, humildes, respeitosos e que chamavam
todos(as) de titios e titias ao se dirigirem às pessoas ou aos
Orixás e guias espirituais. Também chamavam os pretos(as)
velhos(as) de vovô e de vovó. Até aí tudo
bem!
5) Mas logo começaram a "baixar"
uns espíritos infantis briguentos, encrenqueiros, mal-educados,
intrometidos, chulos e que dirigiam -se às pessoas com desrespeito
chamando-os disso e daquilo, tais como: seu pu.., sua p..., seu v....,
seu isso e sua aquilo, certo? E quando inquiridos, se apresentavam como
"exús" mirins, os exús
infantis da Umbanda numa equivalência com um exú infantil
ou um erê da esquerda existente no Candomblé de raiz nigeriana.
6) Exú Mirim assumiu o arquétipo
que foi construído para ele: o de menino mal! E tudo ficou por
aí com ninguém se questionando sobre tão controvertida
entidade incorporadora em seus médiuns, pois ele diziam que todo
médium tem na sua esquerda um Exú Mirim além de
um e Exú e uma Pomba Gira.
7) De meninos mal educados, como tudo
que "começa mal" tende a piorar, eis que as incorporações
de entidades Exús Mirins começaram a ser proibidas nos
centros de Umbanda devido a vazão de desvios íntimos dos
médiuns que eles extravasavam quando incorporavam nos seus.
8) De mal vistos, para pior, essa linha
de trabalhos espirituais, (onde cada médium tem o seu Exú
Mirim), quase desapareceu e só restaram as incorporações
e os atendimentos de um ou outro Exu Mirim "muito bom" mesmo
no ato de ajudar pessoas.
9) Então ficou assim decidido,
mais ou menos, por muitos:
a) Exú Mirim existe, é
mal educado e incontrolável e de difícil doutrinação.
b) Vamos deixar Exú Mirim quieto
e vamos trabalhar só com linhas espirituais doutrináveis
e possíveis de serem controladas dentro de limites aceitáveis.
10) Exú Mirim praticamente desapareceu
das manifestações Umbandistas porque suas incorporações
fugiam do controle dos dirigentes e seus gestos e palavrões envergonhavam
a todos.
11) Como é característica
humana negar tudo o que não pode controlar e ocultar tudo o que
"envergonha", o mesmo foi feito com Exú Mirim, que
existe, mas não é recomendável que incorpore em
seus médiuns. Certo?
Errado, dizemos nós, porque muitos
médiuns já ajudaram a muitas pessoas com seus exús
mirins doutrinadíssimos e nem um pouco influenciados pela personalidade
"oculta" de quem os incorporavam.
Todos se adaptam a regras comportamentais
se seus aplicadores forem rigorosos tanto com os médiuns quanto
com quem incorporar neles.
O melhor exemplo começa com as
incorporações comportadas de quem dirige os trabalhos
espirituais. E uma boa orientação sobre as entidades ajuda
muito porque, o que os médiuns internalizarem sobre elas será
o regularizador das entidades.
Agora se, por acaso, o dirigente adota
um comportamento discutível, aí seus médiuns o
seguirão intuitivamente, pois o tomam como exemplo a ser seguido.
Em inúmeras observações,
vimos os médiuns repetindo seus dirigentes e, inclusive, com
as incorporações e danças dos guias incorporados
neles. Essa assimilação natural ou intuitiva é
um indicador de que o exemplo que vem "de cima" ainda é
um dos melhores reguladores comportamentais.
Agora, quando o dirigente incorpora
seu Exú Mirim e este, por ser do "chefe", faz micagens,
caretas, gestos obscenos, atira coisas nas pessoas, xinga-as e fala
palavrões, aí tudo se degenera e seus médiuns procederão
da mesma forma porque, em suas mentes e inconscientes é assim
que seus Exús Mirins devem comportar-se quando incorporados.
Essa foi uma das razões para
o ostracismo e que foi relegada a linha dos Exus Mirins. E isto, sem
falarmos em supostos Exús Mirins que quando incorporavam ou ainda
incorporam por aí afora, pegam ou lhe são dados saquinhos
de papel que ficam cheirando, como se fossem as infelizes crianças
de rua viciadas em cheira "cola de sapateiro".
Certos comportamentos, devemos debitar
ao arquétipo errôneo construído por pessoas desinformadas
sobre essa linha de trabalhos espirituais Umbandistas.
1) Não são espíritos
humanos, em hipótese alguma.
2) Exús Mirins são seres
encantados da natureza provenientes da sétima dimensão
à esquerda da que nós vivemos.
3) A irreverência ou má
educação comportamental não é típico
deles na dimensão onde vivem.
4) São naturalmente irrequietos
e curiosos, mas nunca intrometidos ou desrespeitadores.
5) Por um processo osmótico espiritual,
refletem o inconsciente de seus médiuns, tal como acontece com
Exú e Pomba Gira. Logo, são nossos refletores naturais.
6) Gostam de beber as bebidas mais agradáveis
ao paladar dos seus médiuns, sejam elas alcoólicas ou
não.
7) Apreciam frutas ácidas e doces
"duros", tais como: rapadura, pé de moleque, quebra
queixo, cocadas secas e balas "ardidas" (de menta ou hortelã).
8) Se bem doutrinados prestam inestimáveis
trabalhos de auxilio aos freqüentadores dos centros de Umbanda.
9) Não aprovam ser invocados
e oferendados em trabalhos de demandas e magias negativas
contra pessoas.
10) Toda vez que seus médiuns
os ativam para prejudicar os seus desafetos seus Exus Mirins se enfraquecem
automaticamente já aconteceram inúmeros casos de médiuns
que ficaram sem seus verdadeiros Exus Mirins porque os usaram tanto
contra seus desafetos que eles ficaram tão fracos que foram aprisionados
e kiumbas oportunistas tomaram seus lugares junto aos seus médiuns,
passando daí em diante a criar problemas para suas vítimas
que ainda acreditavam que estavam incorporando seus verdadeiros Exús
Mirins.
11) Eles raramente pedem seus assentamentos
ou firmezas permanentes e preferem ser oferendados periodicamente na
natureza, tal como as crianças da direita.
12) Se bem doutrinados e colocados a
serviço dos freqüentadores dos centros umbandistas, realizam
um trabalho caritativo único e insubstituível.
Vamos resgatar os Exus Mirins da Umbanda
e libertá-los do falso arquétipo que mentes e consciências
distorcidas criaram para eles?
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