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Não é necessário
muito esforço para se constatar as enormes diferenças
existentes entre o Espiritismo na atualidade e aquele do tempo
de Allan Kardec. Espíritas mais atentos sentem que, desde
que desencarnou o Prof. Rivail, houve um grave desvio de rota
que culminou na desfiguração e no desvirtuamento
da Doutrina e do movimento espírita. Para nossa surpresa,
acontecimentos recentes vieram apontar para um novo horizonte,
no qual a proposta espírita redescobre seu significado
original e reencontra toda sua força.
Marco fundamental desse processo
é a obra Revolução Espírita, de
Paulo Henrique de Figueiredo, que revela o esquecido contexto
cultural em que surgiu o Espiritismo. Tratava-se de um movimento
que, dentro da universidade na França, produziu uma psicologia
experimental espiritualista e um Espiritualismo Racional que
vieram a constituir o pensamento oficial durante a primeira
metade do século XIX naquele país, favorecendo
o surgimento da Doutrina Espírita. Essas denominadas
“ciências filosóficas”, que afirmavam
o Homem como uma alma encarnada, adotavam o que Kardec denominava
“moral da liberdade”, hoje conhecida como “moral
autônoma”.
Era uma contraposição
aos sistemas de moral heterônoma do dogmatismo religioso
e do materialismo científico, que consideram que os atos
humanos são determinados exclusivamente por fatores externos,
como punições e recompensas, dor e prazer. Através
dos milênios, esses sistemas, em suas mais diferentes
manifestações, produziram as estruturas de privilégios
e dominação social através da obediência
passiva, da competição e do uso da força,
anulando as capacidades do Homem e tornando-o submisso.
Por outro, a moral autônoma,
levada pelo Espiritismo às suas últimas consequências,
apresenta o Ser liberto daquelas antigas amarras ao ensinar
que cada um traz em si mesmo os elementos de sua própria
felicidade ou infelicidade futura e os meios de adquirir uma
e de evitar outra, trabalhando em seu próprio adiantamento.
Para o Espiritismo, as faculdades da alma (razão, consciência,
vontade e livre-arbítrio) são conquistas evolutivas
do Ser que permitem o gradual conhecimento das leis da alma,
desde que o Espírito surge, simples e ignorante. Aos
poucos, elas permitem ao Homem estabelecer sua responsabilidade,
e demonstram-lhe onde está seu verdadeiro interesse.
Os sofrimentos não são mais compreendidos como
castigos, mas como oportunidades de progresso. O ato do dever,
livre, voluntário e consciente, é o meio de conquistar
gradualmente a felicidade, e a caridade não é
mais uma palavra vazia.
Esses conhecimentos são
as verdadeiras pedras de toque que permitirão ao espírita
não somente compreender melhor diversos ensinamentos
dos Espíritos, como também entender a efetiva
força da Doutrina no sentido de superar o desânimo
e promover uma verdadeira revolução moral na Humanidade
por meio da liberdade e da cooperação, sobre as
quais se poderá construir um sólido edifício
social, em oposição aos falidos sistemas de salvação
através de práticas supersticiosas ou de utopias
políticas.
Esse fundamental movimento de
restabelecimento da Doutrina ganhou grande impulso com a denúncia
da adulteração de A Gênese, de Allan Kardec,
pelo inestimável trabalho da diplomata e pesquisadora
Simoni Privato Goidanich, na obra O Legado de Allan Kardec.
Esse livro, que já nasceu um clássico, teve o
mérito de combinar, com profundidade, a análise
histórica, jurídica e doutrinária das questões
envolvidas, permitindo que órgãos espíritas
no Brasil e em todo o mundo adotassem a edição
original de A Gênese, com a mensagem da moral autônoma.
Enfim, restaurada essa obra
também no Brasil, a Fundação Espírita
André Luiz (FEAL) anunciou no mesmo dia o recebimento
do famoso acervo de Canuto Abreu contendo centenas de manuscritos
originais de Allan Kardec. Esses documentos, que logo serão
abertos ao público através de um portal num convênio
com uma universidade federal, permitirão aos espíritas
não somente descobrir a verdadeira história do
Espiritismo, como também auxiliar no resgate de seus
verdadeiros princípios.
A atual geração
de espíritas é chamada a integrar esse irresistível
movimento progressivo para revisitar e ressignificar antigos
conceitos e levantar ainda mais alto a bandeira do Espiritismo,
para que todos possam avistá-la e seguir sua mensagem
libertadora!
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