“Eu sou um sonhador prático.
Meus sonhos não são meramente fantasias vazias.
Eu quero converter meus sonhos em realidade.”
Gandhi
Há no Espírito imortal
um universo de potencialidades a serem despertadas, desenvolvidas e
educadas.
Na condição de herdeiros
de Deus trazemos conosco riquezas das quais ainda não temos dimensão
e nem capacidade para as aquilatar, porém, pode a educação
verdadeira, aquela “arte de manejar os caracteres” e de
“formar hábitos”, como preconizou Allan Kardec, desvendar
esta vastidão de talentos e colocá- los a serviço
do progresso do seu portador e de toda a coletividade humana.
Neste sentido, precisará o educador
espírita conhecer algo da Filosofia Espírita
da Educação, da proposta pedagógica do Espiritismo
para a educação e também possuir um mínimo
de conhecimento das ciências do mundo (Psicologia, Biologia, Sociologia,
etc.) para realizar a contento o seu mister.
Como o objetivo maior do processo ensino-aprendizagem
espírita é a formação intelecto-moral,
seja no âmbito do Centro Espírita, seja no da família
ou das escolas espíritas, urge repensarmos a visão doutrinária
de inteligência, para que os intrumentos a serem utilizados por
estas três importantes instituições estejam fiéis
à proposta espírita. Numa nota em O Livro dos Espíritos(1)
, o Codificador assim se expressou:
“A inteligência
é uma faculdade especial, peculiar a algumas classes de seres
orgânicos e que lhes dá, com o pensamento, a vontade de
atuar, a consciência de que existem e de que constituem uma individualidade
cada um, assim como os meios de estabelecerem relações
com o mundo exterior e de proverem às suas necessidades.”
Às vezes consideramos inteligentes as pessoas que têm uma
capacidade considerável para armazenar dados, informações
e acessá-las quando é preciso.
Porém, não há nenhuma
alusão, nesta nota de Kardec, à memória ou capacidade
de memorização. O conceito espírita é bem
mais amplo e completo, mesmo porque a inteligência é
“um atributo exclusivo da alma” (2)
e não um departamento do cérebro circunscrito a uma região
específica, muito embora se utilize deste para a sua manifestação.
Falar de desenvolvimento da
cognição, entendendo-a e estudando-a em seus
meandros, é de importância vital para os que lidam com
a educação espí-rita, pois precisamos basear o
“como se ensina” no “como a criança aprende”.
É a partir das formas pelas quais os educandos manifestam suas
vontades, se relacionam, constroem e reconstroem o mundo, e se apercebem
nele, que basearemos os nossos procedimentos didáticos. Isto
se quisermos levar em conta a bagagem de experiências e aquisições
que estão trazendo das outras reen-carnações.
E não fazê-lo seria um
contra-senso.
A este respeito, Howard Gardner
trouxe uma contribuição substancial ao propor a Teoria
das Inteligências Múltiplas, afirmando que os
seres humanos são capazes de desenvolver, pelo menos, sete inteligências.
Sua contribuição é bem mais completa e sensata
do que aquela tradicionalmente proposta por Binet, com seus testes de
Q. I. (quoeficientes de inteligência), que avaliam unica- mente
as faculdades lógicas e lingüísticas do indivíduo.
A teoria de Gardner parte da psicologia desenvolvimentista e da neuropsicologia,
e reconhece dife-rentes aspectos da cognição. Para ele,
todos temos estas sete inteligências, mas que por razões
genéticas e ambientais apresentam-se diferenciadas entre as pessoas.
Os espíritas sabemos que não
é tanto o ambiente e nem tanto o fator genético, são
os ascendentes espirituais do reencarnante que vão predispô-lo
mais para um campo do saber do que para outro, além das suas
necessidades espirituais de ter esta ou aquela manifestação
intelectiva cerceada temporariamente.
Fazendo um amplo estudo entre crianças
excepcionais, crianças ditas normais e uma profunda pesquisa
de cunho antropológico sobre a evolução da cognição,
através dos milênios, ele concluiu existirem estas inteligências:
> Inteligência Lingüística
– é a habilidade para agradar, estimular, transmitir
idéias e usar a linguagem para convencer.
> Inteligência Lógico-Matemática
– é a habilidade para reconhecer problemas, resolvê-los,
lidar com uma série de raciocínios, além de uma
facilidade para ordenar e sistematizar.
> Inteligência Musical – é
a habilidade para reproduzir sons, timbres, ritmos, perceber temas
musicais, etc.
> Inteligência Espacial – é
a capacidade para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa.
Criar tensão, equilíbrio numa representação
espacial, manipular formas ou objetos mentalmente.
> Inteligência Cinestésica
– é a habilidade para usar a coordenação
em es-portes, artes cênicas ou plásticas, na movimentação
do corpo e manipulação de objetos.
> Inteligência Interpessoal
– é a habilidade para entender e lidar com as emoções
alheias.
> Inteligência Intrapessoal
– é a capacidade que o indivíduo tem de ter acesso
ao seu mundo íntimo de sonhos, idéias, sentimentos,
discriminando-os, lançando mão deles na resolução
de problemas e na criação de algo. Esta habilidade permite
ainda que o seu portador formule uma auto-imagem precisa de si mesmo.
Há ainda uma outra que vem sendo
estudada por esse pesquisador e que ainda não foi divulgada oficialmente
– a inteligência espiritual.
Tais inteligências, na visão
espírita, não são outra coisa senão o
acervo de conquistas do Espírito imortal em sua trajetória
evolutiva. Elas precisam ser diagnosticadas pelos educadores
espíritas a fim de serem trabalhadas, e mes-mo aquelas que não
se encontrem afloradas poderão ser despertadas mediante um trabalho
sério, com técnicas apropriadas para a transmissão
dos conteúdos espíritas e despertamento daquilo que está
no cerne das almas com as quais estamos lidando.
Se a educação espírita,
como a entendemos, é a educação do homem integral,
não há como continuarmos enfatizando somente aquilo que
as escolas terrestres priorizam em seus currículos: temos que
nos voltar ainda mais em nossas abordagens e procedimentos para a realidade
imperecível do ser, pro-movendo o seu “desenvolvimento
harmônico” como pretendia Pestalozzi. O que afirmamos cresce
em importância quando tomamos contato com tais assertivas de Allan
Kardec (3): “Em cada criança
que nascer, em vez de um Espírito atrasado e inclinado ao mal,
que antes nela encarnaria, virá um Espírito mais adiantado
e propenso ao bem.” (Grifo de Kardec.)
E ainda acrescenta, referindo-se aos
novos tempos e às novas gerações (4):
“Cabendo-lhe fundar a era do progresso moral, a nova geração
se distingue por inteligência e razão geralmente precoces,
juntas ao sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas,
o que constitui sinal indubitável de certo grau de adiantamento
anterior.” (Idem.)
Não há como dissimular
o papel relevante da educação espírita
junto a esses Espíritos que há algum tempo já começaram
a reencarnar. São eles os artifíces de uma nova ordem
social, os promotores de uma revolução nos diversos campos
do conhecimento humano e estão renascendo nas favelas, nos campos,
nas cidades, em todos os lugares.
São muitas as dificuldades que
os educadores espíritas têm a vencer para que um trabalho
desse porte possa efetivar-se. Mas a maior delas continua a ser o desconhecimento
do grande potencial educativo que a Doutrina Espírita
encerra. Depois as visões pessimistas e apressadas sobre a proposta
da Escola Espírita. E ainda as imperfeições pessoais
que todos carregamos e que nos impedem de nos aglutinar com espírito
de humildade em torno de grandes projetos e ideais.
Mas como afirmou Max Weber e com ele
concordamos plenamente: (5) “O homem
não teria alcançado o possível se repetidas vezes
não tivesse buscado o impossível.” Prossigamos então,
todos os que acreditamos no imenso potencial educativo da Doutrina Espírita,
em nossas atividades pedagógicas, sem desmerecer ou fazer juízo
de valor, em relação aos que identificam no Espiritismo
o seu ca-ráter puramente assistencial. Mas recordemos que a maior
das caridades reali-zada pelo Divino Mestre foi a de legar-nos o seu
Evangelho, repleto de exortações voltadas para o crescimento
interior das almas, para o trabalho de auto-educação,
perseverante, solidário, racional e amoroso.
Referências Bibliográficas:
1. KARDEC, Allan.
O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro, 80. ed. FEB, perg. 71,
p. 78, 1998.
2. _____. A Gênese. Rio de Janeiro, 38. ed. FEB, cap. III, item
12, p. 75, 1999.
3. Idem, ibidem, cap. XVIII, item 27, p. 418.
4. Idem, ibidem, item 28, p. 419.
5. GAMA, Maria Clara Sodré Salgado. A Teoria das Inteligências
Múltiplas ou a Descoberta das Diferenças. Ensaio, Rio
de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 13-20, jan./mar., Fundação
Cesgranrio, 1994.
Fonte:
http://kardec.com/reformador/refjun01.pdf
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