Através de todos os tempos, muitas religiões têm
se mostrado ineficazes na solução dos problemas humanos,
principalmente, como agentes de equilíbrio e profilaxia das dores
morais que aniquilam as melhores aspirações de plenitude
íntima.
Analisando a evolução do pensamento religioso até
o século XIX, deparamos com instituições frias,
radicais, que tolhiam a liberdade de pensar e de agir através
de um poder constituído.
Inúmeras religiões, demarcando as classes sociais, isolando-se
em pontos de vista convencionais, alimentaram, durante séculos,
as paixões inferiores, especialmente o egoísmo e o orgulho
de seus adeptos, gerando a incredulidade dos que não se submetiam
às suas diretrizes e dogmas.
Detendo-nos apenas na análise do Cristianismo, é fácil
entender como a distorção dos ensinamentos de Jesus, após
o século III, levou os detentores do poder temporal a atividades
belicosas e perseguidoras, impondo deveres e compromissos gerados pelo
fanatismo religioso, o que resultava em crimes hediondos, em nome da
fé cristã.
A perseguição religiosa, a intolerância aos que
não seguiam suas crenças perduraram no Brasil até
meados do século XX. Ainda hoje, a fraternidade e a aceitação
do outro, que não se identifica com determinado credo religioso,
coloca o ideal cristão – “amai-vos uns aos outros”
– bem distante da realidade em que vivemos.
Muitos estudiosos e escritores que analisaram a evolução
histórica das religiões colocam-se como obstáculos
à conquista da felicidade. Argumentam citando exemplos das religiões
orientais que, a pretexto da purificação interior e da
elevação espiritual, adotam atitudes extremas de mortificação
do corpo, sem conseguir debelar a miséria física e moral
dos seus seguidores.
No Ocidente, a partir do século XIX, um novo conceito,
mais humano e social, tem levado alguns líderes religiosos a
uma conduta que visa a amenizar o sofrimento da Humanidade.
A evolução científica estimulou o homem a buscar
sua libertação espiritual.
Sua mente, mais aberta às pesquisas e às inquirições
filosóficas, já não se contenta com fantasias mitológicas
nem crenças pueris, lutando para impedir o cerceamento de sua
liberdade. Além deste posicionamento, surge, na maioria dos grupos
religiosos cristãos, uma visão existencial com a preocupação
de se impor nova ordem social alicerçada no amor, na fraternidade
e na tolerância, numa tentativa de reparar os erros do passado...
A conclusão realista de tudo o que podemos observar, através
da evolução histórica das religiões, é
que elas sempre, em se transformando em organizações ou
instituições, vão se distanciando, aos poucos,
de seus princípios básicos e de seus objetivos iniciais.
Isto ocorreu ao longo dos tempos.
Com a codificação do Espiritismo no século
XIX, uma nova visão dos conceitos de fé e moral
cristã é estabelecida. A razão e o raciocínio
levam pesquisadores e estudiosos da alma humana e de sua destinação
espiritual a uma formação religiosa mais profunda. É
o Cristianismo que retorna, cumprindo a promessa de Jesus, enviando-nos
o Consolador Prometido.
Um novo alento surge nas almas sequiosas de paz e entendimento. A felicidade,
como ensinara Jesus, é possível. Entretanto, a fé
raciocinada enseja ao ser humano a entender o porquê do sofrimento,
da dor e das desigualdades sociais através da lei da reencarnação,
que confirma a justiça divina e suas conseqüências
morais coerentes com o que nos ensinara Jesus.
A felicidade relativa, decorrente da harmonia íntima,
é possível e todos poderemos consegui-la. Este
é, também, o pensamento de Joanna de Ângelis quando
nos ensina que: “Idear a felicidade sem apego e insistir para
consegui-la; trabalhar as aspirações íntimas, harmonizando-as
com os limites do equilíbrio; digerir as ocorrências desagradáveis
como parte do processo; manter-se vigilante, sem tensões nem
receios e se dará o amadurecimento psicológico, liberativo
dos carmas de insucesso, abrindo espaço para o auto-encontro,
a paz plenificadora.”
* * *
Compreenderemos então que a felicidade requer o autoconhecimento
para estarmos em paz com a vida e com o próximo, limitando nossas
ambições nos parâmetros do que nos é essencial,
sem abusos ou distorções; desejar somente o que nos mantém
equilibrados dentro do entendimento do real sentido da vida; manter
a vigilância e a fé para sentir segurança e apoio
nas horas difíceis, sabendo esperar e entender que nem tudo nos
é lícito, mesmo sendo possível sua concretização.
Aprenderemos, assim, a não fugir às responsabilidades
assumidas, a respeitar as leis morais estabelecidas por Deus, nosso
Pai, o que, certamente, resultará na conquista da paz e da plenitude
íntimas.
REFORMADOR
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA
Ano 119 / Dezembro, 2001 / Nº 2.073
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