O Que os Olhos Físicos Não
Enxergam
Autora: BENEDITA PIMENTEL (espírito)
Capítulo 7 do livro “Tudo é Possível
Àquele que Crê” Médium: Agnaldo Paviani
Editora Didier
A primeira vez que adentrei numa casa espírita,
na condição de espírito desencarnado, tive uma
grande surpresa. O trabalhador espírita, por mais consciente
que seja, não faz idéia da movimentação
intensa que se desdobra na paisagem extra-física, paralelamente
às atividades das reuniões públicas.
Seria impossível, em poucas linhas, detalhar
todas as atividades realizadas pelos Seareiros da Vida Maior. A grosso
modo, posso afirmar que as reuniões sérias contam, entre
outras coisas, com guardas, ou seja, espíritos que têm
a função de proteger o centro contra investidas das “trevas”
e de não permitir a entrada de espíritos não-autorizados.
Aparelhos de alta precisão são instalados em locais estratégicos.
Geralmente, não se trata de um ou dois espíritos que tentam
vencer as barreiras, para adentrar e causar tumulto, mas, sim, legiões
inteiras, que acabam travando verdadeiros “combates”. Essas
legiões de espíritos se organizam dessa maneira, especialmente
quando há determinados eventos de grande repercussão,
como seminários, fóruns de debates, encontros, comemorações
de mês espírita e outros... Por serem acontecimentos que,
em geral, atraem um grande público e que esse mesmo público
é esclarecido e, ao mesmo tempo consolado, natural que despertem
a ira de nossos irmãos que ainda não aprenderam a amar.
Se os irmãos encarnados pensam que organizar
grandes eventos espíritas é trabalhoso, é porque
não imaginam quanto é muito mais trabalhoso deste outro
lado.
Dentro do espaço espiritual da casa e nas redondezas
ocorrem fatos maravilhosos, durante tais reuniões públicas.
Ah! Como seria bom se os trabalhadores da seara pudessem ver além
daquilo que os olhos físicos são capazes de mostrar!...
Espíritos – ás vezes, centenas
– são trazidos para os mais diversos tratamentos; outros
que são “trazidos”, ou seja, que vêm como acompanhantes
dos encarnados e também são encaminhados para o tratamento
adequado; benfeitores que, portadores de grande amor, “flutuam”
acima das cabeças dos encarnados que assistem à palestra,
identificando os seus problemas por antecipação, juntamente
para o tratamento ser eficaz. No instante do passe, a reunião
se torna – numa comparação – uma verdadeira
sala cirúrgica, já que doenças são tratadas,
pequenas cirurgias espirituais são feitas e até curas
são realizadas.
Caros irmãos, imaginem – para poderem
entender a grandiosidade daquilo que acontece para o nosso bem e que
não percebemos – aquelas manhãs de clima agradável
onde uma fina garoa umedece o solo sedento de água. Pois é
assim que , por muitas vezes, vi acontecer uma verdadeira “garoa”
de fluidos caindo sobre todos. Sem falar ainda do espírito ou
dos espíritos encarregados de: Inspirar o orador... Instruir
o dirigente encarnado no atendimento fraterno... Auxiliar na evangelização......
Auxiliar os encarnados da transmissão do passe... E ainda há
uma equipe que tem como função realizar um trabalho fora
dos muros da instituição, junto aos entes queridos daqueles
que foram ao centro e, em suas preces, rogam amparo a eles ou escrevem
o nome do necessitado nos cadernos de preces, tão comuns nas
casas espíritas; e nos casos em que haja possibilidade de auxiliar
as circunvizinhanças do centro.
Por tudo isso, a melhor definição
que se possa dar a uma casa espírita é hospital-escola.
***
De fato, é um trabalho gigantesco realizado pelos
benfeitores espirituais. Aliás, por falar em espírito
desencarnado, muitos irmãos encarnados tomam o nosso nome –
e aqui uso o termo nosso, referindo-me não só a mim mas
também a muitos companheiros que mourejaram no corpo e que, como
eu, agora, se encontram fora dele – na condição
de espíritos iluminados, colocando-nos numa posição
de superioridade que não corresponde à realidade. Realmente,
o fato é que temos procurado estar entre nossos irmãos
encarnados, ajudando dentro do possível; também é
verdade que temos visitado algumas reuniões mediúnicas
na Terra, levando palavras de incentivo e, em algumas delas, permanecemos
por algum tempo auxiliando num ou noutro caso mais grave. Aproveito
estas linhas para dizer àqueles que oram a nós, pedindo
ajuda, que nenhum pedido fica sem resposta, todas as preces que chegam
a nós são analisadas e, se possível atendidas.
Mas isso tudo não nos coloca numa posição de superioridade
que muitos imaginam. O problema é que,
em geral, o ser humano é carente de “guias”, não
entendendo que o único guia é Jesus. Logo que um
indivíduo desencarna, se era um bom servidor, já o elegemos
mentor capaz de resolver todos os nossos problemas. De minha parte,
com a permissão de meus superiores, tenho procurado me desdobrar
nas muitas atividades sob minha responsabilidade, porém que nossos
irmãos se conscientizem de que também tenho dificuldades
pessoais, lutas íntimas; todos, sem exceção, têm,
uns mais, outros menos.
Eu, Irmã Benedita, como muitos carinhosamente
me chamam, tenho, por vezes, saudades, saudades dos filhos consangüíneos,
que habitualmente visito, mas, devido aos muitos compromissos, não
posso permanecer com eles por tempo mais longo. Não se espantem,
todavia tenho saudades da época em que – na Terra –
dividia os afazeres domésticos com atividades espirituais. Admiro-me
quando vejo pessoas maldizendo a vida, ao ponto até de muitas
fugirem dela através do suicídio. Não, meus irmãos,
não pensemos dessa maneira, pois a vida no corpo, quando bem
vivida, traz doces recordações e, apesar ser de ser num
mundo de provas e expiações, também traz saudades.
Minhas colocações não têm
como objetivo fazer uma autobiografia: apenas desejo deixar transparente
minha condição espiritual.
Voltando ao tema central de nossas reflexões,
convido os amigos a refletirem sobre a importância dessas casas
espíritas erguidas em nome do amor. São como se fossem
oásis de bênçãos, em meio ao deserto da incredulidade.
É preciso fechar os olhos físicos
e tentar ver o que se passa além. As bênçãos
recebidas em nome de Jesus, o amparo, a proteção e o mais
importante: o esclarecimento que liberta.
Como nosso objetivo, a cada capítulo, é
deixar uma mensagem positiva, posso garantir-lhes, porque já
presenciei, que os espíritos mais nobres, os que estão
à frente das equipes responsáveis pela transformação
moral do Orbe, de quando em quando, visitam esta ou aquela casa espírita.
Nem sempre são identificados pelos médiuns videntes, nem
sempre dão uma comunicação mediúnica, mas
estão ali espíritos de alta envergadura moral, espíritos
de nomes respeitáveis. Muitas vezes, para se evitar a dúvida
e não criar embaraços para o médium, quando decidem
comunicar-se através da mediunidade, assinam apenas: Um espírito
amigo.
Nada há de absurdo nesta afirmação.
Afinal, muitos desses espíritos já têm condições
morais para habitar planos superiores e, se não o fizeram, foi
por amor ao Planeta Terra, e quem ama está perto.É um
ensino conhecido por todos os espíritas que o que importa é
a mensagem, o conteúdo e não quem a assina. Concordamos
plenamente. Estamos citando a presença desses espíritos
nobres para servir de inspiração aos seareiros encarnados,
para que tenham certeza de que não estão desamparados.
Aos mais pessimistas que acreditam que isso seria impossível
de acontecer, peço-lhes que se lembrem de que Jesus nunca se
esquivou de nenhuma criatura que fosse e, mesmo depois da morte,voltou
para consolar, após encerrar sua nobre missão; em espírito,
voltou para falar com Pedro, com os Apóstolos e, em dado momento,
com uma multidão de pessoas. Se Jesus voltou para confortar,
por que seus representantes não voltariam?
Que nossos irmãos não interpretem de maneira
equivocada nossas palavras e acreditem que toda a mensagem deixada por
um amigo espiritual seja de um desses espíritos conhecidos e
de moral elevadíssima; eu disse que, de quando em quando, eles
estão presentes aqui ou ali, não a toda hora. E, se fiz
tal ressalva, foi justamente para tentar mudar uma mentalidade errônea,
segundo a qual os médiuns só vêem obsessores, tragédias,
vingadores, legiões do mal, espíritos em forma de animais,
etc. Tudo isso é verdade; não estamos questionando; mas
e outro lado?
Por que geralmente não vemos o outro lado?
Se existem obsessores, também existe o anjo
da guarda.
Se existem as legiões de espíritos inferiores,
também existem as equipes de socorro que atendem em nome do cristo.
Se existem as depressões terríveis, também
existe o trabalho no Bem, melhor remédio para o combate à
depressão.
Se existem os melindrosos, também existem aqueles
que são fraternos, amigos e verdadeiros.
Enxergar só o mal é sintoma de cegueira
espiritual, e o portador desta “doença” deve colocar
os óculos do otimismo para ver “de perto” e os óculos
da fé inabalável para ver “de longe”.
Na Colônia a que estou vinculada, dedicamos todos
os dias alguns minutos somente para agradecer à Divindade o que
recebemos. No corpo, talvez nos falte ainda a gratidão necessária,
mas para os espíritos que desencarnam (refiro-me àqueles
que têm alguma noção do Bem e da caridade), após
se recuperarem do impacto da “passagem” para este outro
lado e se darem conta de quanto foram amparados sem o devido merecimento,
o primeiro sentimento que surge é o da gratidão.
Nos vários hospitais existentes na região
espiritual em que trabalhamos, quando fazemos as visitas aos quartos
dos que estão internados em recuperação, sempre
pedem para trabalhar, para se sentirem úteis. O problema é
que nem sempre podem trabalhar logo depois da desencarnação,
já que quase sempre foram almas que muito pouco produziram quando
encarnados e, como a morte não realiza nenhum milagre neste sentido...
Para finalizarmos o assunto, rapidamente me lembro
do caso da Juçara, que , após ser resgatada das regiões
de sofrimento e permanecer por quase um ano internada, recebendo passes
e conselhos, ao se recuperar, levantou-se, saiu pelos corredores do
hospital, e ao me avistar, disse em alta voz:
- Benedita, este nosso Deus é mesmo difícil
de entender! Se a gente reencarna, dizem que é para trabalhar
em benefício dos outros e de nós mesmos; se a gente deixa
o corpo, dizem que a gente tem que trabalhar para acumular méritos
a fim de poder voltar. O pior é que nosso objetivo é chegar
á perfeição e, ao que me consta, Jesus já
é perfeito e continua trabalhando!... Pelo amor de Deus, me diga
alguma coisa que me console, irmã!
Como eu conhecia o caso de Juçara e sabia que,
apesar de ser uma alma boa, não simpatizava muito com o trabalho,
situação que a levou depois da morte ao lugar em que estava
quando foi resgatada, sorri e respondi:
- Então, pronta para trabalhar?
- É só isso que tem para me dizer?
- Não, filha, antes de começar a trabalhar,
vamos, juntas, fazer uma prece de agradecimentos a Deus pela oportunidade
do trabalho.
Ela sorriu um pouco sem graça e fizemos uma prece
de gratidão.
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