Introdução
[LE-cap I] trata exclusivamente de Deus. Allan Kardec pretendeu
demonstrar, com isso, que o Espiritismo tem na existência
de Deus o seu primeiro princípio basilar.
Deus, porém, não pode ser percebido
pelo homem em sua divina essência. Mesmo depois de desencarnado,
dispondo de faculdades perceptivas menos materiais, não pode
ainda o espírito perceber totalmente a natureza divina.
Pode, entretanto, o homem, ainda no estágio de
inferioridade em que se encontra, ter convincentes provas de que espírito
existe. Esta provas se assentam na razão e no sentimento.
Racionalmente, a prova da existência de
Deus temo-la neste axioma: "Não há efeito sem causa."
Vemos constantemente uma imensidade de efeitos cuja causa não
está na humanidade, pois a humanidade é impotente para
produzi-los. A causa, portanto, está acima da humanidade. É
esta causa que se chama Deus, Jeová, Alá, Fo-Hi, etc.
Outro princípio igualmente elementar e que de
tão verdadeiro passou a axioma é o de que "todo efeito
inteligente tem que decorrer de uma causa inteligente."
Os efeitos referidos acima absolutamente não
se produzem ao acaso, fortuitamente e em desordem. Desde a organização
do mais pequenino inseto e da mais insignificante semente, até
a lei que rege os mundos que circulam no espaço, tudo atesta
uma idéia diretora, uma combinação, uma providência
que ultrapassa todas as combinações humanas. A causa é,
pois, soberanamente inteligente.
Alguns atribuem a formação primária
das coisas a uma combinação da matéria, isto é,
ao acaso. Isto constitui uma insensatez, pois o acaso é cego
e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz.
Um acaso inteligente já não seria acaso.
Kardec lembra um provérbio que diz: "Pela
obra se reconhece o autor." Vejamos a obra e procuremos
o autor. O homem orgulhoso nada admite acima de si. Procurando a causa
primária da obra do Universo, se reconhece no seu autor uma inteligência
suprema, superior à humanidade.
Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar
sobre as obras da Criação. O universo existe,
logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar
que todo efeito tem uma causa e adiantar que o nada pode fazer alguma
coisa.
Pelo sentimento, pode o homem, ainda compreender a existência
de Deus, porque há no homem, desde o mais primitivo até
o mais civilizado, a idéia inata da existência de Deus.
Acima pois, do raciocínio lógico, prova-nos a existência
de Deus a intuição que dele temos.
O sentimento instintivo que todos os homens
têm da existência de Deus é, sem dúvida, uma
forte evidência de Sua realidade. Esse sentimento não
é fruto de uma educação, resultado de idéias
adquiridas pois ele é universal, encontra-se mesmo entre os selvagens
a que nenhum ensino a respeito foi ministrado. Os povos selvagens nenhuma
revelação tiveram, entretanto, crêem instintivamente
na existência de um poder sobre-humano.
O Que é Deus?
Com respeito à conceituação de
Deus segundo o Espiritismo, sabendo-se que limitar Deus a uma definição
é impossível, a Doutrina Espírita procura partir
de dados racionais para não cair no terreno das idéias
imaginárias e místicas.
Allan Kardec [LE-qst 1] indaga aos Espíritos
sobre a Divindade. De forma lógica, não usa a forma "Quem
é Deus?" que daria um sentido de personificação,
uma idéia antropomórfica, mas busca ele a natureza íntima,
a essência das coisas, formulando a proposição desta
forma: "Que é Deus?"; ao que os Espíritos
respondem:
"Deus é a inteligência suprema,
causa primária de todas as coisas."
Mas quando Kardec procura desenvolver esta definição
dos espíritos indagando se poderíamos aprofundar no entendimento
da Divindade, os benfeitores afirmam:
"Não. Falta-lhe, para tanto, um
sentido."
E acrescentam:
"Quando o seu espírito não
estiver mais obscurecido pela matéria, e pela sua perfeição
tiver se aproximado Dela, então A verá e A compreenderá."
[LE- qst 10,11]
Atributos da Divindade
Afirma Allan Kardec, baseado no pensamento dos Espíritos
Superiores, que não é dado ao homem sondar a natureza
íntima de Deus. Para compreendê-lo, ainda nos falta o sentido
próprio, que só se adquire por meio da completa depuração
do espírito.
Mas, se não pode penetrar na essência de
Deus, o homem pode, pelo raciocínio, chegar a conhecer-lhe os
atributos necessários, suas qualidades básicas, porquanto,
vendo o que ele absolutamente não pode ser, sem deixar de ser
Deus, deduz daí o que ele deve ser.
Sem o conhecimento dos atributos de Deus, impossível
seria compreender-se a obra da Criação. Esse o ponto de
partida de todas as crenças religiosas e é por não
se terem reportado a isso, como ao farol capaz de as orientar, que a
maioria das religiões errou em seus dogmas. As que não
atribuíram a Deus a onipotência imaginaram muitos deuses,
as que não lhe atribuíram soberana bondade fizeram dele
um Deus cioso, colérico, parcial e vingativo.
Podemos assim dizer que Deus é a SUPREMA e SOBERANA INTELIGÊNCIA,
ETERNO, IMUTÁVEL, IMATERIAL, ONIPOTENTE, SOBERANAMENTE JUSTO
e BOM, INFINITAMENTE PERFEITO e ÚNICO.
Suprema e Soberana Inteligência: é limitada
a inteligência do homem, pois que não pode fazer, nem compreender
tudo o que existe. A de Deus, abrangendo o infinito, tem de ser infinita.
Se a supuséssemos limitada num ponto qualquer, poderíamos
conceber outro ser mais inteligente, capaz de compreender e fazer o
que o primeiro não faria e assim por diante, até ao infinito.
Eterno: Deus não teve começo e não terá
fim. Se tivesse tido princípio, houvera saído
do nada. Ora, não sendo o nada coisa alguma, coisa nenhuma pode
produzir. Ou, então, teria sido criado por outro ser anterior,
nesse caso, este ser é que seria Deus. Se lhe supuséssemos
um começo ou fim, poderíamos conceber uma entidade existente
antes dele e capaz de lhe sobreviver, e assim por diante, ao infinito.
Imutável: se estivesse sujeito
a mudanças, nenhuma estabilidade teriam as leis que regem o universo.
Imaterial: a natureza de Deus difere
de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, não seria
imutável, pois estaria sujeito às transformações
da matéria.
Onipotente: se não possuísse
o poder supremo, sempre se poderia conceber uma entidade mais poderosa
e assim por diante, até chegar-se ao ser cuja potencialidade
nenhum outro ultrapassasse. Então esse é que seria Deus.
Soberanamente Justo e Bom: a providencial
sabedoria das leis divinas se revela nas mais pequeninas coisas, como
nas maiores, não permitindo essa sabedoria que se duvide da sua
justiça, nem da sua bondade.
Infinitamente Perfeito: é impossível
conceber-se Deus sem o infinito das perfeições, sem o
que não seria Deus, pois sempre se poderia conceber um ser que
possuísse o que lhe faltasse. Para que nenhum ser possa ultrapassá-lo,
faz-se mister que ele seja infinito em tudo.
Único: a unicidade de Deus é
conseqüência do fato de serem infinitas as suas perfeições.
Não poderia existir outro Deus, salvo sob a condição
de ser igualmente infinito em todas as coisas, visto que se houvesse
entre eles a mais ligeira diferença, um seria inferior ao outro,
subordinado ao poder desse outro e então, não seria Deus.
Se houvesse entre eles igualdade absoluta, isto equivaleria a existir
de toda eternidade, um mesmo pensamento, uma mesma vontade, um mesmo
poder. Confundidos assim, quanto a identidade, não haveria, em
realidade, mais que um único Deus.
A Providência Divina
A providência é a solicitude
de Deus para com as suas criaturas, o cuidado permanente e o interesse
infinito que o Criador tem pela sua obra maior, que é o espírito.
Deus está em toda parte, tudo
vê, a tudo preside, mesmo às coisas mais mínimas.
É nisto que consiste a ação providencial.
Deus, em relação as suas criaturas, é
a própria Providência, na sua mais alta expressão,
infinitamente acima de todas as possibilidade humanas. Manifesta-se
em todas as coisas, está imanente no universo e se exerce através
de leis admiráveis e sábias. Tudo foi disposto pelo amor
do Pai, soberanamente bom e justo, para o bem de seus filhos, desde
as mais elementares providências para a manutenção
da vida orgânica até a dispersão da faculdade superior
do livre arbítrio, que dá ao homem o mérito da
conquista consciente da felicidade.
Deus tudo fez e tudo faz para o bem das criaturas. Imprimiu-lhes
na consciência todas as leis morais e, em relação
à humanidade terrestre, ainda se manifestou quando nos confiou
a Jesus.
Bibliografia
O Livro dos Espíritos - Allan Kardec
A Gênese - Allan Kardec
Fonte:
http://www.espirito.org.br/portal/doutrina
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