A frase-título deste
artigo, não foi escrita por um religioso, mas por Elizabeth
Kubler Ross, nascida na Suiça em 1926, uma mulher especial,
que teve que esforçar-se muito para ser médica e
alcançar seus objetivos de vida. Como Psiquiatra e, mais
tarde, como encarregada da Clínica de Psicofarmacologia,
começou a trabalhar também com pacientes terminais
e, ao invés da maioria dos profissionais que não
tinha muita coragem de encarar estas pessoas ou seus próprios
sentimentos com relação à morte; ela lhes
dava atenção, fazia companhia, segurava suas mãos,
perguntava e conversava a respeito de como se sentiam. Diz que
eles foram o melhor professor que jamais teve. Passou a descobrir
aspectos muito importantes, não só sobre a morte,
mas também sobre a vida; mudando a maneira como o mundo
pensava sobre a morte e o morrer. Após muitos anos de trabalho
com pacientes psiquiátricos, pacientes terminais, crianças
moribundas e pacientes de Aids, com quem aprendeu muito e com
seus estudos e pesquisas, trouxe compreensão e consolo
para milhares de pessoas que tentavam lidar com a própria
morte ou com a de entes queridos, assim como também trouxe
luz sobre o significado da vida e o viver melhor. Perseguida pela
fama de ser especialista e só falar sobre a morte, ela
diz que o único fato incontestável em sua vida é
a importância da vida: - "sempre digo que a
morte pode ser uma das maiores experiências que se pode
ter. Se você vive bem cada dia da sua vida, não tem
o que temer".
Além dos seminários
que fazia sobre o assunto pelo mundo todo, escreveu alguns livros
sobre seu trabalho com pacientes terminais. Percebeu estudando
suas anotações e refletindo sobre suas experiências,
que todas as pessoas que sofrem uma grande decepção
ou uma grande perda (morte ou expectativa da morte de um ente
querido, descobrir-se portador de uma doença grave, nascimento
de um filho com alguma anormalidade, perda de um sonho, etc...),
passam por estágios semelhantes aos desses pacientes. (1)
O primeiro era o choque e a negação que é
uma defesa, uma maneira normal de lidar com más notícias
inesperadas, permitindo que a pessoa considere a possibilidade
negativa ou o fim de sua vida (ou de algum ente querido) e em
seguida volte ao dia a dia de sempre. Quando a negação
não é mais possível, (2)
é substituída pela raiva, revolta e rancor, que
se dirigem a todos: Deus, familiares, médicos, enfermeiras,
amigos, qualquer pessoa que esteja saudável. É uma
fase muito difícil para todos e não deve ser considerada
como algo pessoal, apenas significa: - ainda estou vivo e estou
sofrendo, não se esqueçam disto.
Quando lhe é permitido dar vazão à sua raiva,
sem culpas, geralmente passa para o estágio de negociação
(3), onde pede, promete e negocia
com Deus sobre a necessidade de viver mais tempo, como por ex:
- "eu preciso viver até... meu filho se formar".
Elizabeth notou que as promessas com Deus, nunca eram mantidas,
mas a negociação ia elevando o prazo cada vez mais.
Esta fase é útil, pois a raiva já não
é tão grande e a pessoa consegue ouvir e se comunicar
com as pessoas, mesmo com uma certa agressividade. É a
melhor ocasião para deixá-los externar sua raiva
e antigas mágoas, ajudá-los a resolver pendências
e velhas disputas. Poder falar e discutir sobre isto traz maior
entendimento e pode transformar os sentimentos negativos em maior
compreensão e amor.
Em determinado momento a doença não mais podendo
ser negada principalmente por causa das enormes mudanças
que estão ocorrendo, com graves limitações
físicas, com a aparência sofrendo mudanças
debilitantes e podendo também surgir problemas financeiros;
a pessoa passa por uma profunda depressão (4),
quando lamenta perdas passadas, as coisas que não fez,
os erros cometidos. Quando estes aspectos são encarados
aberta e diretamente, os pacientes costumam reagir bem melhor.
O aspecto mais difícil da depressão desta fase,
é "reconhecer que vai perder tudo e todas
as pessoas que ama", em que geralmente não
há um lado positivo a explorar ou palavras para consolar;
é um tipo de depressão silenciosa e a melhor ajuda
que as pessoas podem dar neste momento é aceitar esse pesar,
ficar junto, fazer um gesto de carinho, dizer uma prece. Depois
pode entrar num estado de "luto preparatório",
ficando mais quieto, não desejando muitas visitas, aprontando-se
para a chegada da morte. Esta atitude indica que resolveu seus
negócios inacabados e que poderá ir pacificamente.
Quando a pessoa que está gravemente doente têm a
oportunidade de expressar sua raiva, chorar e se lamentar, resolver
suas questões pendentes, verbalizar seus medos; tendo ao
seu lado alguém (ou algumas pessoas) que também
tenha coragem de enfrentar seus próprios medos e ansiedades,
conseguindo ouvi-la, compreende-la, dialogar serenamente, pode
passar melhor por todos os estágios, chegando ao da aceitação
(5). É um período de
resignação meditativa e silenciosa, de serena expectativa;
a luta interior desaparece e é substituída geralmente
por muito sono. Não estará feliz, mas não
sentirá mais raiva ou depressão. É um período
quase isento de sentimentos, o que não significa resignação,
mas uma vitória.
Estes estágios não são absolutos, nem todos
atravessam todos os estágios, nesta exata sequência,
mas é um guia útil para compreender as diferentes
fases que podem atravessar os doentes terminais. Elizabeth conta
que estes pacientes geralmente não se curavam fisicamente,
mas todos melhoravam emocional e espiritualmente, sentindo-se
muitas vezes melhor do que as pessoas saudáveis. "Eles
mostraram-me muito mais do que é estar morrendo, refletiram
sobre suas vidas e seu passado e ensinaram-me todas as coisas
que têm verdadeiro significado, não para a morte,
mas sim para a vida".
Nos seus seminários a Dra Ross também tentava ajudar
as pessoas a encarar de frente antigos problemas, que muitas vezes
se iniciaram quando da perda de um ente querido. Segundo sua experiência,
na iminência da perda, quando não é abrupta,
todos já devem saber da verdade, inclusive o próprio
doente, para ir aprendendo a lidar com isso, ter a chance de fazer
coisas que gostariam uns para os outros e também de uma
"despedida". Mesmo que isto seja sofrido,
é uma atitude mais saudável do que evitar o assunto
ou mentir, seja para crianças, jovens, adultos ou pessoas
idosas. Contar sobre a realidade (de acordo com a idade e maturidade
de cada pessoa), demonstrar sua própria tristeza, deixar
que os outros da família coloquem as suas emoções,
conversar sobre isto, faz com que aprendam a enfrentar a perda
e a mágoa de forma saudável, evitando futuros sofrimentos
e reações negativas. As mortes súbitas e
inesperadas são mais difíceis de lidar, a morte
decorrente de alguma doença de desenvolvimento mais lento
e de conseqüências fatais, dá as pessoas a chance
também de se retratarem pela maneira distante ou agressiva
como se relacionaram anteriormente e/ou de resolver qualquer problema
que tivessem com ela.
A Dra Ross e sua equipe estudaram posteriormente 20 mil casos
de experiência de quase morte (EQM), cujas interessantes
conclusões citaremos em outra oportunidade. Após
toda sua vivência profissional e pessoal, ela escreve que
a única finalidade da vida é crescer e a suprema
lição é aprender como amar e ser amado incondicionalmente.
"Quando acabamos de fazer tudo que viemos fazer aqui
na Terra, podemos sair de nosso corpo, que aprisiona nossa alma
como um casulo aprisiona a futura borboleta. E, na hora certa,
podemos deixá-lo para trás, e não sentimos
mais dor, nem medo, nem preocupações - estamos livres
como uma linda borboleta voltando para casa, para Deus
(de uma carta a uma criança com câncer)". Escreve
ela que viver é como ir para a escola, quanto mais aprendemos,
mais difíceis ficam as lições; mas que as
adversidades nos tornam mais fortes e percebe-se pelos seus escritos
que acredita em reencarnação.
Como se pode notar,as conclusões dos trabalhos, estudos
e experiências de vida desta notável mulher, são
na maioria concordantes com a doutrina Espírita, apenas
não questionando ou abordando o que pode acontecer com
as pessoas após o desencarne e durante as vivências
no mundo espiritual, entre vidas; nem aprofundando-se no aspecto
da reencarnação. Mais alguns pensamentos seus: que
um modo de não sentir medo é saber que a morte não
existe e que tudo nesta vida tem um propósito positivo.
Nossa preocupação deveria ser a de viver, enquanto
estamos vivos, desbloqueando nossa capacidade de auto-realização,
por ficarmos cativos de papéis culturalmente definidos,
estereótipos, não nós mesmos. A morte é
a chave para a vida; é aceitando a limitação
de nossa existência que nos capacita a achar força
e coragem para rejeitar alguns papéis e expectativas externas
e dedicar cada dia da nossa vida-por mais longa que venha a ser
- a evoluir o mais completamente que podemos.
"A negação da morte é parcialmente
responsável pelo fato de as pessoas viverem vidas vazias
e sem objetivo; pois quando você vive como se fosse faze-lo
para sempre, fica muito fácil adiar as coisas que sabe
que tem que fazer. Você vive sua vida em preparação
para o amanhã ou em lembrança do ontem e, nesse
ínterim, cada hoje é perdido". Ao
contrário, quando compreende que cada dia pode ser o último
que tem., pode aproveitar e criar oportunidades nesse dia para
evoluir, aproximar-se mais dos outros seres humanos. Vivemos numa
época de incertezas e o mundo precisa de seres humanos
evoluídos que se importem com os outros e trabalhem cooperativamente
e afetuosamente, não pelo que esses outros possam possa
fazer por ele, mas sim pelo que ele pode fazer pelos outros."Se
você distribuir Amor a outros, receberá de volta
o reflexo desse Amor; você evoluirá e espalhará
uma luz que brilhará nas trevas da época em que
vivemos - seja no quarto de um doente, de um moribundo, em seu
próprio lar e em qualquer lugar.
Complementamos aqui com um trecho do Evangelho: - "Amai
ao vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros
o que desejaríeis que vos fizessem; amai os vossos inimigos;
perdoai as ofensas, se quereis ser perdoados; fazei o bem sem
ostentação; julgai-vos a vós mesmos antes
de julgar aos outros. Humildade e caridade, eis o que não
cessa de recomendar, e o de que ele mesmo dá o exemplo.
Orgulho e egoísmo, eis o que não cessa de combater.
Mas ele faz mais do que recomendar a caridade, pondo-a claramente,
em termos explícitos, como a condição absoluta
da felicidade futura". (O
Evangelho segundo o Espiritismo, capXV, item 3). Jesus
há 2 mil anos nos ensinou o caminho para a evolução
e a felicidade, mas muitos ainda se fazem de surdos e, quando
isto já é algo entendido e enfrentado, necessitamos
de muita luta e esforço para conseguir por em prática
de vez em quando algumas destas orientações que
sabemos ser o verdadeiro e único caminho. Podemos adiar
nosso crescimento, mas não podemos retroagir ou evita-lo
para sempre, a própria vida se encarrega de dar seus avisos,
"empurrões" ou "chibatadas"
para fazer-nos acordar, reagir, refletir e seguir adiante. O que
nos consola e anima é que estamos fadados a progredir e
à felicidade, cada um escolhe como e quando.
Não usemos frivolamente o tempo que temos para gastar,
tratemo-lo com carinho, pois cada dia pode trazer novas conscientizações,
aprendizagens, evolução. Tentemos não permitir
que um dia se passe sem acrescentar algo ao que já aprendemos
ou compreendemos. Não descansemos até que esteja
feito o que pretendíamos, mas vamos vagarosamente o quanto
for necessário para manter o passo firme; não desperdicemos
energia. "Finalmente: não permitamos que as
ilusórias urgências do imediato nos desviem de nossa
visão de eterno..." (Kubler-Ross).
"As lições
que cada uma daquelas pessoas nos ensinavam traziam todas, no
fundo, a mesma mensagem:-
Viva de tal modo que, ao olhar para trás, não
se arrependa de ter desperdiçado sua vida.
Viva de tal modo que não
se arrependa do que fez ou não deseja ter agido de outra
forma.
Viva uma vida digna e plena.
Viva".
Alguns dos livros
de Elizabeth Kubler Ross:
A Roda da Vida; Morte: Estágio final da Evolução