
A ciência
tem dificuldade em definir a energia. A visão mecanicista
que confere o caráter de máquina ao ser humano diz
que tudo é máquina. “O corpo é uma máquina!
A mente é uma máquina! A alma é uma máquina!”
(Jacque Monod) – eminente Prêmio Nobel. Pois bem, como
podemos entender a energia acreditando apenas em um “fantasma”
dentro de uma máquina? A palavra “energia” aponta
para muito além dela mesma. Não precisamos nos identificar
com o “rótulo” que a palavra tenta representar.
A energia é muito mais que aquilo que tentamos explicar sobre
ela. Em termos matemáticos, a energia sempre estará
sendo definida segundo outros parâmetros. A mais importante
de todos os tempos sem dúvida é a tão conhecida
expressão: E = m.c2. Energia é o produto da massa
pela velocidade da luz ao quadrado. Nesse exemplo, energia é
um “ente” observável que depende de outros “entes”.
No caso, energia depende da massa e da velocidade
da luz. Vejamos o que outro eminente físico tem a dizer sobre
a questão: “É importante perceber que, na física
atual, não temos o conhecimento do que é energia.
Entretanto existem fórmulas para calcular certas quantidades
numéricas. É algo abstrato no sentido que não
nos informa o mecanismo ou a razão para as várias
fórmulas” (Richard Feynman). Energia seria uma certa
abstração matemática que não tem existência
fora da relação funcional com outras variáveis
ou coordenadas, que de fato tem interpretação física
e que pode ser medida. Sabe-se que a energia não pode ser
criada e nem destruída obedecendo a tão pesquisada
e confirmada lei da conservação da energia. Então,
o que é energia? Podemos ficar com a clássica definição
de energia como sendo a capacidade de realizar trabalho, ou a que
eu prefiro, a capacidade de “fazer algo acontecer” (
David Watson). Dentro da física quântica, energia assim
como sua correlata matéria são ondas de possibilidades.
Possibilidades de escolha da consciência em “fazer algo
acontecer” e esse “algo” é a realidade.

Quando estudamos nosso corpo físico percebemos
que o mesmo é constituído por cerca de 70 trilhões
de células. Essas células são formadas por
moléculas que são constituídas por átomos.
Nesse reducionismo mental, podemos imaginar a quantidade de átomos
que fazem parte do nosso corpo físico. Podemos imaginar a
complexidade de funcionalidade biológica que cada órgão
possui ao incluir essa infinidade de átomos na constituição
dos mesmos. Cada átomo é uma unidade
composta. Cada átomo apresenta em sua constituição
muito mais “espaço” que “matéria”
propriamente dita. A “energia” contida no espaço
que delimita o átomo é que dá oportunidade
ao mesmo de existir. Sem o espaço não haveria a forma.
Sem a forma não perceberíamos o espaço. Seria
uma natureza indivisa e una. Uma natureza repleta de energia e possibilidades.
Algo fora do sistema tem que “causar” uma perturbação
nessa natureza una e indivisa capaz de manifestar a forma e o espaço
simultaneamente. O nosso corpo físico está inundado
por espaço. O corpo físico aponta naturalmente para
além dele mesmo com o simples pensar na constituição
dos elementos que o compõem. O corpo físico manifesto
aponta para o não manifesto que o sustenta e da-lhe a forma.
Há um campo de energia sutil que envolve cada átomo,
cada individualidade composta e esse campo pode ser “sentido”
quando desenvolvemos uma certa sensibilidade para que o percebamos.
Um campo único de energia mantém a forma e podemos
entrar em contato com essa energia se focarmos a atenção
nesse campo sutil que envolve o corpo físico.
O espaço
que “permeia” os meus átomos é o mesmo
espaço que “permeia” os seus átomos. A
realidade fundamental una e indivisa une tudo o que pode se manifestar
no espaço-tempo eisteniano. O mundo externo é formado
pelos mesmos constituintes do mundo interno. O grosseiro e o sutil
são feitos da mesma substância. A separação
aparente entre o que é interno e o que é externo –
acreditem – é aparente! Necessitamos dessa separação,
necessitamos do espaço-tempo para obtermos conhecimento.
Precisamos conhecer. Sem a aparente separação não
haveria percepção e sem percepção não
haveria memória e sem memória não haveria aprendizado.
O problema está em não compreender a separação
como aparência e o comportamento refletir essa compreensão.
Podemos entender a separação como uma necessidade
para a evolução e desenvolvermos uma capacidade de
comportamento baseado na unidade que envolve a todos os seres sencientes.
Todos os corpos físicos que estão separados são
unidos pela natureza una e indivisa de uma mesma realidade não
local e fundamental. Mesmo após a morte do corpo físico,
ainda assim, permanece um corpo sutil que ainda é mantido
pela energia dessa natureza una e indivisa sob o comando da consciência,
porém agora sob uma plasticidade maior onde o externo e o
interno ainda existem, mas em “frequências” diferentes
e, nessa dinâmica, campos dentro de campos, uma infinidade
de “moradas” podem surgir refletindo o avanço
da consciência rumo a “alturas” cada vez maiores.
Espaço e forma coexistem e são necessários
para o aprendizado. Mas até quando? Até sermos um
com o Pai. Vivemos em uma diversidade rumo a unidade. Vivemos em
uma polaridade rumo a unidade.
A energia é
a capacidade de fazer algo acontecer. Quanta coisa pode acontecer?
Quantas possibilidades podem se manifestar para que a complexidade
da consciência também se manifeste? Infinitas possibilidades.
A energia, assim como a matéria (quarks) são ondas
de possibilidades. A atualização das possibilidades
em fato manifesto se dá pela presença da consciência.
Pelo ato psíquico da observação. A sempre presença
da essência de cada um de nós está em um eterno
aprendizado. Seja em que campo estejamos, isto é, estejamos
aqui no espaço-tempo de Einstein ou fora dele após
a morte física, estaremos sempre presentes e observando e
cocriando a realidade. Átomos sempre existirão a disposição
para que a realidade seja cocriada. A atualização
descendente das possibilidades ascendentes fará com que a
realidade assim formada seja uma certa mistura em dois domínios:
possibilidades e fato manifesto. Aonde quer que a consciência
esteja, seja no corpo físico colapsando as possibilidades
da matéria grosseira, seja no corpo sutil colapsando as possibilidades
da matéria sutil, esses dois domínios da realidade
sempre estarão presentes. A coerência nos faz pensar
até quando existirá dois domínios da realidade?
A resposta é a mesma: até o dia em que finalmente
conseguirmos sermos um com o Pai. Há ainda outro ponto a
ser considerado pela intuição. Parece que há
uma necessidade de retorno ao mundo da matéria grosseira
para que o aprendizado seja consolidado. Para que as experiências
sejam “educadas”, para que o EGO seja transcendido e
incluído dentro da consciência. Para que haja nova
oportunidade para dar novos significados ao temas dos arquétipos.
Para que haja cada vez mais identificação com a “essência”
verdadeira dentro de cada um e, dessa forma, o passado seja dissolvido
e qualquer outra identificação com a mente e seu oceano
interno de atividades (pensamentos, sentimentos, memórias,
medos, paixões, vingança e etc e etc.) também
seja dissolvido e haja realmente o despertar coerente das ações
plenas no momento presente, sem passado e sem futuro. Parece esquisito,
mas essa realidade é possível.

Estamos “imersos” na energia que sustenta a
forma. Lembrem-se sempre da síntese da evolução
da forma e da energia baseado nos estudos de Teilhard Chardin e
Ken Wilber: O aumento da complexidade da forma é acompanhada
pelo aumento da complexidade de expressão da consciência
e a energia vai se “sutilizando” nesse processo. A consciência
de maneira criativa utiliza-se das possibilidades ascendentes da
matéria e energia e “causa” (causação
descendente e transcendente) a realidade concreta e objetiva na
qual vivencia. O aprendizado se faz possível em virtude da
aparente separação entre sujeito e objeto. Tudo “arquitetado”
para que a consciência expresse-se e conheça. Há
uma presença capaz de “observar” o conteúdo
da mente (conteúdo esse feito da mesma “substância”
que qualquer objeto externo e grosseiro). A visão mental
é uma ferramenta poderosa, porém insisto mais uma
vez que não há necessidade de identificação
da “essência” (consciência) com o conteúdo
da mente. Nós não somos os pensamentos, sentimentos,
emoções, medo e etc da mesma forma que não
somos nossos carros, casas e etc. Somos muito mais. Quanto mais
nos despertarmos para a realidade transcendente, mais plenos e felizes
nos tornaremos. Quanto mais conseguirmos viver o momento atual e
agora, mais plenos e felizes ficaremos. Equilibrar
o interno com o externo é tarefa fundamental e urgente para
o momento atual. Que o nosso comportamento possa refletir essa compreensão.
Coerência. É isso!