Criar e ampliar redes, laços e trocas entre
ações e projetos comunitários que buscam atender
necessidades sociais e culturais locais é o que pretende
a ONG Comunidades Catalisadoras (ComCat). Acreditando no
potencial de transformação dos atores e movimentos
sociais de base, a ComCat trabalha desde 2000 promovendo a articulação
e o intercâmbio de experiências do Rio de Janeiro e
de diversas partes do mundo.
Para Theresa Williamson, diretora
executiva da organização, coisas positivas estão
acontecendo em diversos lugares, só é preciso dar-lhes
visibilidade. Através de sua pesquisa de doutorado em planejamento
urbano, ela teve oportunidade de conhecer comunidades pobres do
Rio de Janeiro, o que permitiu que identificasse projetos comunitários
que atendiam diversas demandas sociais, mas eram pouco conhecidos,
até mesmo dentro das próprias comunidades de origem.
Assim, a idéia inicial foi criar um espaço virtual,
na internet, onde os diversos líderes e gestores comunitários
pudessem documentar e trocar suas experiências bem-sucedidas.
“Eu visitava uma comunidade como Asa Branca,
em Jacarepaguá, onde existia uma iniciativa de esgoto comunitário,
mas cujos líderes estavam preocupados com jovens ociosos
sem o que fazer depois da escola. Logo depois visitava o Jacarezinho,
na Zona Norte, onde havia justamente uma iniciativa de arte com
jovens, mas esgoto a céu aberto. O que descobri é
que é muito difícil as lideranças de tais projetos
terem o tempo e os recursos disponíveis para divulgar seus
esforços, às vezes até na própria comunidade,
quanto mais para o mundo afora”, explica.
Espaço aberto para trocas
O site conta com um Banco de Soluções
Comunitárias (BSC) que documenta iniciativas locais
de todo o mundo em áreas como água e saúde
ambiental; infra-estrutura; preservação cultural;
trabalho e meio de vida; educação e capacitação;
organização comunitária; comunicação;
saúde e segurança. “Estamos aproveitando a internet
exatamente para criar um espaço aberto para trocas. Deixamos
isso bem claro em nosso site: que qualquer pessoa, sentindo que
está desenvolvendo uma solução comunitária,
pode documentá-la. A gente só não aceita casos
em que o projeto não é verdadeiramente comunitário
ou é questionável eticamente, algo que ainda não
aconteceu”, diz Theresa.
Hoje estão catalogados 128 projetos, a maioria
do Rio de Janeiro (83%). Mas também há iniciativas
de Porto Alegre (RS) e Salvador (BA), assim como de países
como Sudão, Togo, Nigéria, Israel, Índia, Macedônia,
Estados Unidos e Canadá. No momento, a intenção
é ampliar a participação da América
Latina e aumentar os esforços para divulgar o trabalho realizado
na África.
Graças ao empenho de tradutores voluntários
em todo o mundo o site está disponível também
em inglês e espanhol.
Casa do Gestor Catalisador
Ao longo da atuação da ComCat, logo
surgiu a necessidade da criação de um espaço
físico em que os gestores sociais pudessem não só
trocar idéias e experiências, mas ter acesso à
internet e às ferramentas necessárias para ampliar
e fortalecer seus projetos. Assim, em 2003, foi inaugurada a Casa
do Gestor Catalisador, no Largo de São Francisco da Prainha,
perto da Praça Mauá. A localização estratégica
do espaço, no Centro do Rio de Janeiro, permite a participação
de pessoas de diversas partes do município, além de
visitantes estrangeiros.
Segundo Theresa Williamson, já foram atendidas
em torno de mil lideranças e mais de 300 visitantes de cerca
de 150 bairros cariocas, sete municípios, 19 estados e 19
países. Além dos computadores e das salas disponíveis,
o espaço conta com uma galeria que expõe trabalhos
de artistas ou artesãos comunitários. “O objetivo
é servir de rede para que os gestores possam trocar experiências,
realizar encontros e reuniões e acessar a internet”,
ressalta Marília Ferreira, coordenadora da Casa.
Além disso – Theresa acrescenta –
os gestores têm aproveitado para escrever propostas e conseguir
apoio financeiro para seus projetos. “Eles divulgam em massa
suas iniciativas, enviam demandas para seus governantes, preparam
material gráfico para suas campanhas, entre outras coisas.
Agora, o que tem sido mais importante na Casa é o espaço
como veículo de troca, pois inúmeras parcerias comunitárias
têm surgido ali”, contou.
A Casa do Gestor tem sido palco também de
oficinas de informática, inglês, francês, rádio
comunitária, reaproveitamento de lixo e artesanato, entre
outras iniciativas. No futuro, o objetivo é ampliar o número
de oficinas permanentes e temporárias, assim como oferecer
um espaço maior, que comporte mais pessoas.
A construção de espaços semelhantes
em todo o mundo é incentivada pela ONG, que divulga sua metodologia
no site. “Acreditamos que, se nossa ação estiver
realmente funcionando, outros irão naturalmente nos procurar
para multiplicar nossos esforços. Preferimos trabalhar com
parceiros, cada um desenvolvendo um espaço semelhante, pertinente
especificamente a cada realidade local”.