Ao lermos ou estudarmos diversas traduções do Novo
Testamento principalmente em Paulo aos Coríntios,
1a carta cap. XIII, vv. 1 a 13 - "Ainda que eu falasse línguas,
as dos homens e dos anjos, se eu não tivesse a caridade,
seria como um bronze que soa ou como um címbalo que tine."
"Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o
conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência,
ainda que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas,
se não tivesse a caridade eu nada seria." (etc. etc.)
e, também em Pedro em sua primeira
epístola 4:8 «Mas
sobretudo tende ardente caridade uns para com os outros porque a
caridade cobre a multidão de pecados.» encontramos
a palavra caridade trocada pela palavra amor, assim ficamos
a nos perguntar: "será que estas duas palavras
são sinônimos?"
Podemos dizer que o Amor e a Caridade são
da mesma família, porém, são duas identidades
com características diferentes.
Apesar destas duas palavras estarem interligadas,
elas têm significados diferentes, senão vejamos:
No dicionário (Aurélio), o significado
que nos interessa para o entendimento deste assunto é o seguinte:
"Amor é um sentimento que predispõe alguém
a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa" ou "Amor
é um sentimento de dedicação absoluta de um
ser ao outro".
Empédocles (1)
denominou-o como "a força que preside a ordem
do mundo".
Parece-nos que a denominação de Empédocles
(desde que trocando a palavra mundo por Universo) se aproxima muito
mais do verdadeiro significado da palavra Amor.
Agora, vamos ao significado da palavra Caridade:
Segundo o dicionário, Caridade é "amor
ao próximo, benevolência, bondade, compaixão,
etc.". Allan Kardec, em nota à resposta da questão
886 dada pelos Espíritos em o «O Livro dos Espíritos»,
diz que a "Caridade, segundo Jesus, não se restringe
somente à esmola, mas abrange todas as relações
com os nossos semelhantes". Assim, temos que a "Caridade
é um ato de relação (doação total)
para com os nossos semelhantes" e este entendimento é
o mesmo que os dicionários utilizam para dar o significado
da palavra Amor.
O capítulo "Lei de Justiça,
Amor e Caridade" do livro terceiro – cap. XI,
de «O Livro dos Espíritos»,
já no título, mostra que as duas palavras têm
significados diferentes.
Se utilizarmos o significado de Empédocles,
entenderemos melhor o significado da palavra Amor, o porque Deus
é Amor e, inclusive, porque os Espíritos
dizem que "no Universo tudo se serve, tudo se encadeia, desde
o átomo primitivo até o arcanjo, que por sua vez começou
como átomo. Admirável lei de harmonia..."
(q. 540 de O Livro dos Espíritos).
Assim, o Amor é a força que
rege o Universo, e a Caridade é o ato pelo qual deixamos
fluir o Amor que abrange todas as relações com os
nossos semelhantes, ou seja, a doação natural
é total sem constrangimento nenhum para com o próximo,
pois temos o Amor como força regendo todas as nossas relações.
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([1]) EMPÉDOCLES DE AGRIGENTO
O acme da existência de Empédocles
é situado por volta de 450 a.C. Tanto sua vida como sua doutrina
tiveram enorme repercussão. Natural de Agrigento, membro
de uma família influente, sabe-se que Empédocles participou
ativamente na preservação da democracia em sua cidade
natal e que recusou-se a assumir as funções de rei.
A lenda de que terminou banido e que morreu como exilado no Peloponeso
é possivelmente falsa. Outra lenda, de que se teria suicidado,
jogando-se na cratera do Etna, também não tem fundamento
histórico. Consta ainda que teria libertado uma cidade da
malária, e que por isto os seus habitantes o homenageavam
como a um deus; mas parece que este e outros relatos sobre a sua
existência não passam de lendas
De seus dois poemas, "Sobre a Natureza"
e "Purificações", numerosos fragmentos chegaram
até nós. O frag. 17 é o que melhor permite
compreender a sua doutrina; nele, refere-se ao processo de geração
e corrupção, e apresenta as suas teorias tingidas
em perspectivas parmenídicas. Há quatro elementos
originais e estes elementos compõem a formação
de todos os entes: fogo, terra, água e ar (sobre os elementos:
frags. 6, 8, 9, 11, 12, 13, 14, 17, 26, 62, 96, 98). Estes elementos
e todo o processo do real são determinados pelas forças
do Amor e do ódio, que regem, ciclicamente, o cosmos (sobre
o Amor e o ódio: frags. 16, 17, 20, 21, 22, 30, 35, 59).
Coerente com estas opiniões e de grande repercussão
é também a explicação que dá
Empédocles ao conhecimento e ao processo do pensamento (conforme
os frags. 2, 3, 84, 105, 106, 107, 108, 109).