Não é de hoje que encontramos
alguns entusiastas espiritualistas que pretendem abraçar, ao
mesmo tempo, diversas linhas doutrinárias sob o argumento da
tolerância e respeito a todas as formas de se pensar. Nesse sentido,
essas pessoas supõem estar quebrando preconceitos e posicionamentos
exclusivistas para disseminar a harmonia universal, sob a alegação
de que a verdade não está encerrada em uma só religião
e todas podem levar a Deus. Afirmam, ainda, que querem aproveitar o
que cada filosofia ou corrente "tem de bom”.
Mesmo que a união fraterna seja um objetivo entre os homens,
alguns aspectos lógicos devem ser destacados para se buscar a
verdadeira harmonia e a conduta equilibrada. Primeiramente, devemos
reconhecer que a diversidade entre os seres humanos é um fato.
Em essência, todos somos semelhantes, porém cada um de
nós pode ter uma visão de mundo particular e que se diferencia
de inúmeras maneiras das demais pessoas. Até aí,
nada de novo.
O problema lógico ocorre quando se acha possível aceitar,
simultaneamente, pontos de vista divergentes. Não se conseguirá
estabelecer relações de causalidade a partir de premissas
antagônicas entre si. Por exemplo, não se pode aceitar
e negar a reencarnação. Não se pode aceitar e negar
a possibilidade de comunicação com seres desencarnados.
Não se pode aceitar e negar a individualidade do espírito.
Não se pode aceitar e negar que Jesus é um espírito
e não seja Deus. Ou se aceita uma coisa ou se nega a sua existência.
A tentativa de considerar tudo válido é uma incoerência
epistemológica.
Em segundo lugar, cada doutrina é estruturada sobre princípios
determinados e que, necessariamente, se forem alterados desvirtuarão
todo o edifício teórico construído. No Espiritismo,
por exemplo, se adotam premissas, tais como: a existência de Deus
(inteligência suprema e causa primária); a existência
de dois elementos no universo: espírito e matéria; o estágio
do princípio inteligente em diferentes corpos materiais; a sobrevivência
e individualidade da alma após a morte do corpo físico;
a comunicação com os espíritos; a evolução
espiritual até a plena realização do ser (pureza
espiritual); a impossibilidade do espírito retroagir em seu processo
evolutivo; Leis naturais imutáveis; reencarnação;
diferentes moradas no universo; o progresso do espírito depende
de suas obras; Jesus é o espírito de maior envergadura
moral que reencarnou neste planeta e nos serve de referência;
a inutilidade da adoção de símbolos, paramentos
ou palavras sacramentais para se entrar em comunicação
com os espíritos ou para se dirigir a Deus; o fato de que os
astros não possuem qualquer efeito na conduta do espírito;
o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós
mesmos como ações fundamentais para a evolução
espiritual; e a fé raciocinada. Obviamente esses princípios
estão coerentemente inter-relacionados.
O que pensar, então, de um suposto adepto do espiritismo que
também aceite outras premissas que colidam com as premissas espíritas?
Ele ou ela estará, logicamente, sendo incoerente e não
desenvolverá uma argumentação racional para interpretar
determinado fenômeno. Ele ou ela estará em confusão
conceitual.
Aqueles que se dizem universalistas ou ecumênicos e defendem que
o mais importante é o respeito e o amor entre todos apenas manifestam
o desejo de participar de vários grupos, mas na prática
não participam de nenhum. O verdadeiro espírita conhece
os princípios doutrinários e age coerentemente com a cosmovisão
espírita, assim como o católico, budista, judeu ou qualquer
outro espiritualista deveria fazer com relação ao corpo
teórico que considera coerente.
Da mesma forma que não é racional acreditar, ao mesmo
tempo, no geocentrismo e no heliocentrismo, devemos ter o bom senso
de expressar nossas reais convicções (independentemente
de quais sejam elas), desde que de maneira coerente. Isso não
significa que desrespeitamos quem não pensa como nós,
mas apenas que respeitamos a própria consciência. Não
precisamos compartilhar das mesmas convicções dos outros
para respeitá-los como irmãos que têm a liberdade
de pensar diferente.

Marco Milani é professor universitário
e economista, responsável pelo Departamento do Livro, USE Regional,
SP.
Fonte:
http://educadorespirita1.blogspot.com.br/2014/03/universalismo-ecumenismo-espiritualismo.html
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