Quando o Cel. Albert d`Rochas, engenheiro
militar, publicou no início do século XIX, o seu
mais conhecido livro, “As Vidas Sucessivas” não
sabia que estava de certa forma colaborando com um trabalho maior
que era o estabelecimento do espiritismo, enquanto ciência.
Assim como ele, Allan Kardec também tinha conhecimento
do “magnetismo animal”, evidentemente a tarefa já
grandiosa, de codificar o espiritismo, não permitiria uma
outra especialização, além do estudo da mediunidade.
A reencarnação, tomada como hipótese cientifica
na codificação, revertia-se em objeto de pesquisa
experimental.
A partir do último quarto
do século XX, psicólogos de várias partes
do mundo começaram a observar que seus pacientes em estado
alterado de consciência podiam dar informações
sobre personalidades que seriam suas pretensas reencarnações.
Perceberam também, que ao “relembrar” de determinados
fatos e sentirem as emoções associadas a essas “lembranças”,
muitos dos sintomas clínicos do paciente desapareciam ou
diminuíam consideravelmente, como em um processo de catarse.
A despeito de suas formações acadêmicas materialistas,
muitos passaram a utilizar essa “tecnologia” como
instrumento de trabalho. Importante se diga, que essas pretensas
lembranças, por si só, não comprovam a reencarnação
visto que podem ter outras explicações, mais ou
menos razoáveis.
Também nessa época
o professor Hermínio C. Miranda, publicou “A
Memória e o Tempo” onde faz um estudo
recapitulando as pesquisas do Cel d’Rochas, analisa as conclusões
de alguns pesquisadores e faz outras importantes considerações
observadas em casos pesquisados por ele. Muitas das conclusões
incluídas nesse artigo são baseadas em suas análises
e outras em minhas próprias experimentações.
Definição
Regressão de Memória é o processo provocado
ou espontâneo, por meio do qual, o espirito encarnado ou
desencarnado fica em condições de retornar ao passado,
na vida atual ou em existências anteriores, próximas
ou remotas. A definição acima é bem ampla,
e está assentada nos preceitos básicos da doutrina
espírita, sem no entanto ser uma criação
desta, e nem oriundas de uma revelação transcendental
revestidas de caráter místico ou dogmático.
Antes é um fenômeno natural que pode ser pesquisado
utilizando métodos e técnicas apropriadas. Como
fato natural o fenômeno de regressão de memória
obedece a leis e não a dogmas ou princípios religiosos.
Como funciona
O paradigma espírita nos permite desenvolver um modelo
teórico simplificado para explicação do fenômeno.
Segundo HCM para conseguirmos obter a sua ocorrência, devemos
utilizar alguma técnica que provoque o desdobramento do
períspirito e por conseguinte um estado alterado de consciência.
Essas técnicas variam desde a utilização
de determinadas drogas até a hipnose. Um dos métodos
mais simples é a aplicação de passes magnéticos.
Nesse estado, a consciência tem acesso a informações
armazenadas fora do cérebro físico, as chamadas
memórias extra-cerebrais.
De acordo com pesquisas
feitas até agora e pelo pouco conhecimento que temos do
funcionamento da mente parece-nos indicar que pelo menos algumas
das “lembranças” podem ser na realidade pseudo-lembranças.
Certos experimentos demonstram a possibilidade de falsas memórias
serem “implantadas” através de hipnose ou auto-sugestão,
mesmo em se tratando da vida presente. Por enquanto a certificação
dessas memórias, somente podem ser atestadas por pesquisas
históricas realizadas posteriormente.
Características
Após de conduzir pessoalmente dezenas de sessões
de regressão, tratei de observar as características
já apontadas por outros experimentadores para possíveis
comprovações. São elas:
Fases
“Existem diversas fases no decorrer do aprofundamento
do Transe, em linhas gerais ocorre uma diminuição
da sensibilidade dos sentidos e também a sugestionabilidade,
passando o sensitivo a oferecer resistência praticamente
invencível aos comandos do operador“. Não
testei a questão da diminuição da sensibilidade,
entretanto as fases e redução da sugestionabilidade
foram ocorrências constantes.
Laço Luminoso
“Durante o desdobramento a ligação corpo/perispírito
é feita através de um laço luminoso. Pode
ocorrer do sensitivo poder “ver” com os olhos fechados
e inclusive visitar lugares distantes, podendo também se
relacionar com seres desencarnados ou em desdobramento”.
Cerca de 20% dos meus sujeitos relaram espontaneamente alguma
experiência de fenômenos anímicos, inclusive
desdobramento consciente, nenhum entretanto se referiu a qualquer
espécie de laço.
Pontos Hipnógenos
“Existem pontos que quando tocados (após a devida
preparação) induzem o transe e outros que o encerram.
Segundo as pesquisas de de Rochas, podemos identificá-los
devido a insensibilidade dessas áreas. Ele cita: pulsos,
atrás da orelha, peito e nas costas, mas pode variar de
pessoa para pessoa”. Eu não me dispus a fazer
essas verificações em nenhum sujeito.
Recordar-se e “estar lá”
“Apesar de semelhantes há uma sutil diferença,
numa fase mais profunda o sensitivo tem a sensação
de estar lá... No mesmo local e no mesmo tempo de antes,
sendo assim mais fácil falar de detalhes daquela existência”
(HCM). Nesse nível é consideravelmente forte o nível
emocional agregado as lembranças. Numa fase de transe mais
superficial, o sensitivo sente-se consciente e mesmo assim pode
visualizar imagens ou relembrar de uma vida passada, e muitas
vezes ao final da seção insiste em afirmar que esta
‘aqui’ (consciente) o tempo todo, e acha que tudo
foi apenas “invenção da sua cabeça”.
No entanto as informações históricas (época,
país, governante) checadas posteriormente muitas vezes
demonstram não se tratar de simples mistificação.
Este tem sido o que acontece em nossas experiências pessoais.
Incorporação da
Personalidade
Algumas vezes, em um nível de transe mais profundo, o sujeito
assume temporariamente a personalidade do passado parecendo ter
retornado no tempo, pois não reconhece os fatos e pessoas
do presente. Um excelente caso estudado, está no livro
“Eu Sou Camille Desmoulins”
de Hermínio C. Miranda. Pude comprovar esse fato em alguns
dos meus sujeitos. Mas sem dúvida o caso mais patente,
foi o caso de uma jovem que se reconheceu como “Nefertiti”,
esposa principal do revolucionário Akhenaton, faraó
da XVIII dinastia do Egito (A este respeito estou tentando publicar
um livro chamado “Memórias de Nefertiti”).
É interessante anotar que nessa situação
o sujeito perde a noção da realidade presente, não
reconhece o operador e nem sabe o que está se passando.
Pode acontecer que o sujeito se recorde ou não dos detalhes
de toda as fase da experiência ao despertar.
Ângulo de
Observação
Interessante observar que algumas vezes, principalmente no inicio
da seção, o sensitivo vê imagens na perspectiva
de um observador externo, como se assistisse a um filme em três
dimensões, estando na cena mas sem pertencer a ela. Na
seqüência da seção, ele pode passar a
visualizar a cena no ângulo de um dos personagens, com a
qual ele se identifica como ele próprio, vivendo com uma
outra personalidade. Outras vezes, a lembrança vem como
uma recordação de uma estória sem nenhuma
imagem, a qual poderá surgir a seguir em forma ‘flashes’
ou passar para uma das fases iniciais (experiência pessoal).
O operador pode às vezes comandar (ordem vocal) para que
seja alternado os modos de visualização.
Anacronismo
Confusão de datas quanto à acontecimentos e pessoas.
Convém lembrar, que o sensitivo desdobrado tem noção
muitíssimo diferente do habitual quanto ao conceito de
tempo. Não sabemos se a memória é igual ao
uma agenda que todos os dias estão muito bem determinados,
um em cada folha. Não é, pois de admirar se durante
as experiências ocorrerem alguns anacronismos. Outras vezes
a memória se mostra com uma incrível competência.
Em um dos meus casos sujeito, lembrou de uma vida na Galiléia,
e disse que o ano é 800, na época do quarto Imperador,
depois de César. Nesse caso interessantíssimo, a
data está surpreendentemente correta, pois o mesmo se referia
ao calendário utilizado na época, o Romano, que
é contado a partir da fundação de Roma em
753 AC. Nesse ano o imperador era Claudius, o quarto depois de
Júlio César.
Progressão de Memória
Albert de Rochas também tentou fazer experimentos de progressão
de memória, ou seja, fazer o sensitivo ver o seu futuro.
Porém foram poucos e inconclusivos. Também fiz algumas
experiências nesse campo, mas também foram inconclusivas.
Penso eu, que as experiências de progressão mostram
uma possibilidade de futuro entre várias, talvez a mais
provável dada as variáveis do momento (mas é
somente uma hipótese). Vislumbro também utilizá-la
como uma espécie de imagem mental criativa, a fim de fazer
uma mentalização positiva, ou uma simulação
de determinadas cenas (uma espécie de realidade virtual
sem computador) que facilitem o tratamento psicológico
em pacientes com algum tipo de trauma.
Regressões em Espíritos
Hermínio C. Miranda realizou inúmeras regressões
em espíritos durante a manifestação mediúnica,
utilizando basicamente o método de magnetização.
Dessa forma é possível realizar verdadeira psicanálise
em espíritos desencarnados.
Apoio Espiritual
Nas nossas experimentações, estamos supondo que
há uma equipe espiritual que participam na obtenção
dos fenômenos, e até induzem as épocas das
regressões que possam atender a determinados objetivos,
e isso podemos ter percebido durante as práticas. .. também
no que tange a ausência de manifestações mediúnicas,
salvo uma, por enquanto, que garantia a presença deles
na condução do trabalho e solicitando sinceridade
nos propósitos e oferecendo segurança no processo.
Mas, quem utilizar a técnica de regressão de memória,
tem que estar preparado para a possibilidade da ocorrência
de algum tipo de interferência mediúnica.
A Língua
Apesar de raros existem na literatura casos em que o sujeito em
transe pode falar no idioma nativo da personalidade lembrada mesmo
que ele não o conheça minimamente. É o caso
do índio americano que podia falar em francês fluente
quando relembrava de uma vida na França (Investigando Vidas
Passadas, Dr. Raymond Moody Jr). O meu sujeito do caso Nefertiti
falou em grande parte do tempo em um idioma não identificado,
sendo possível tratar-se de egípcio antigo devido
há algumas particularidades. Entretanto a grande maioria
dos sujeitos utiliza sua língua nativa do estado de vigília,
tudo indica que mesmo nos transes mais profundos a individualidade
espiritual do sujeito mantém o controle do processo, e
mantém a interface apropriada para a comunicação
com o operador.
Efeitos Colaterais
Quando há ocorrência de um transe mais profundo,
é comum que o sensitivo guarde por algum tempo o desconforto
devido às fortes emoções que foram revividas.
Essa reação pode variar de alguns minutos até
24 horas. Pode até mesmo causar reações posteriores
em função daquelas lembranças. Portanto é
extremamente importante, que antes de trazer o paciente para o
presente, seja feito um lento trabalho de re-equilíbrio,
dando sugestões de calma, serenidade, saúde, etc.
fazendo-o compreender que deve manter as memórias, mas
as emoções devem ficar restritas a aquele determinado
período no tempo. Um acompanhamento posterior é
fundamental para garantir o equilíbrio psicológico
do sujeito.
Censura ética
A meu ver a preocupação no meio espírita
devido a resposta à pergunta 392 do Livro dos Espíritos
é deveras exagerada, apesar de justa. De acordo com Hermínio
Miranda, e também com as minhas próprias experimentações
determinados conteúdos (e até algumas vidas) ficam
como que censuradas aos acessos mesmo em transe, como a preservar
o sujeito de algum choque além do suportável. Um
dos meus sujeitos em transe lembrava perfeitamente de uma vida
na França medieval, mas não conseguia lembrar do
período dos 30 a 40 anos de idade.
Conclusão
Diante desse quadro, nada há de surpreendente no fato de
que empregando-se a técnica apropriada seja possível
não apenas sincronizar com aquela realidade da memória
chamada da memória que chamamos passado, como a outra realidade
do tempo que chamamos futuro. De alguma forma, portanto é
possível encontrar nas estruturas do tempo brechas cósmicas
por onde os sensores da mente aprofundam-se na intimidade de nossos
registros inconscientes e reproduzem sons, imagens e emoções
de um passado esquecido, mas não destruído, da mesma
forma que a metodologia da hipnose pode rebuscar os registros
da vida atual no âmbito da subconsciência e do inconsciente.
O esquecimento é conveniente, contido por certos condicionamentos,
mas não absoluto e total.
Maurício Mendonça
27-5-2004
Bibliografia
A Memória e o Tempo, Hermínio
C. Miranda, Editora Lacaster
Eu Sou Camille Desmoulins, Hermínio C. Miranda / Luciano
dos Anjos, Editora Lacaster
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, Editora FEB
Investigando Vidas Passadas, Raymood Jr, .
Memórias de Nefertiti, Mauricio Mendonça.