De tanto repetir-se uma mentira, muitas vezes
ela passa a ser tida como verdade. Das muitas inverdades que se têm
dito acerca da C.E.P.A. uma tem sido, ultimamente, repetida tão
freqüentemente que recomenda se faça, aqui, um repto, para
que não passe, definitivamente, para o rol das pretensas verdades:
"a C.E.P.A. não aceita 'O Evangelho segundo o espiritismo'"!
Essa irresponsável afirmação, sem
nenhuma base documental, histórica ou concreta, tem sido veiculada
insistentemente em panfletos de extremo mau gosto, vulgarmente agressivos
e com clara intenção difamatória, visando atingir
uma instituição séria, genuinamente espírita
e que tem como um dos pilares de sua atuação precisamente
a difusão integral da obra de Allan Kardec.
Mas o respeito que sempre devotamos à obra de
Kardec não nos impede, e, antes, nos obriga a reconhecer que
dentre todos os excelentes livros que publicou, um pontifica como o
mais importante: "O livro dos espíritos". Primeira
de suas obras publicadas, revista e ampliada poucos anos após
por seu próprio autor, é esse o livro fundamental da doutrina
espírita. Resultado de um amplo exercício dialético
estabelecido entre Kardec e os espíritos, através de médiuns
da maior confiabilidade e em vários pontos da geografia mundial,
"O livro dos espíritos" é uma grandiosa síntese
das propostas de caráter científico, filosófico
e moral do espiritismo. Todos os demais lhe são complementares,
dedicando-se, com igual zelo, a aspectos doutrinários ou instrumentais
mais específicos. "O Evangelho segundo o espiritismo",
por exemplo, enfoca aspectos morais e éticos do espiritismo,
analisando-os em consonância com os ensinos de Jesus de Nazaré.
Ao ser editada essa obra, as bases fundamentais da moral e da ética
espírita já estavam claramente expostas na 3ª parte
de "O livro dos espíritos", sob o abrangente título
de "Das leis morais", identificadas por Kardec e os espíritos
como expressões da própria lei natural ou divina e, por
isso, "eternas e imutáveis". "O Evangelho segundo
o espiritismo" tem, assim, caráter de complementaridade,
o que não reduz sua importância, especialmente considerando
a inserção histórica e geográfica do espiritismo
num mundo de tradição cristã.
Essa análise, que não é da C.E.P.A.,
mas de todos os espíritas que respeitam, estudam e buscam interpretar
a obra de Kardec num contexto histórico e social, não
implica em menosprezo a qualquer de suas obras ou afirmações,
embora não as tornando imunes a eventuais críticas pontuais,
levando-se em conta as naturais influências relativas a tempo,
lugar, cultura, tradições filosóficas ou religiosas
que impregnam livros, textos, mensagens ou afirmações
de Kardec ou dos espíritos, nas chamadas obras básicas.
Afinal de contas, a chamada "revelação espírita"
foi um trabalho de homens (encarnados e desencarnados) e não
de deuses.
Aquele que não assumir perante o espiritismo,
ou qualquer outra proposta cultural, uma postura crítica corre
o risco de simplificações facilmente deturpadoras que
levam ao sectarismo, ao fanatismo e à intolerância. Uma
atitude totalmente acrítica, por exemplo, é aquela que
leva muitos espíritas a superdimensionar os evangelhos ou os
chamados "valores cristãos" dentro do espiritismo,
de tal forma que, ao invés de interpretar o "Evangelho segundo
o espiritismo", interpretam o Espiritismo segundo o Evangelho,
ou, segundo o cristianismo. Subordinam, dessa forma, uma proposta moderna,
universalista, construída com vocação permanentemente
progressista e atualizável, a uma cultura que, em seus 2.000
anos de existência, teve altos e baixos e que terminou cristalizando
condutas e conceitos tidos pela cristandade como "evangélicos",
mas claramente distanciados da mensagem original de Jesus, nem sempre
se coadunando, também, com a ética universal, arreligiosa,
laica, igualitária, fraterna e espiritual, hoje aspirada pelos
povos.
A C.E.P.A. aceita e valoriza o Evangelho dos cristãos
na medida exata da lúcida proposição feita por
Kardec na introdução de "O Evangelho segundo o espiritismo":
enquanto expressão de uma ética universal, assectária,
válida em qualquer tempo e espaço, expressão da
lei natural, "eterna e imutável", conforme a adjetivação
da questão 615 de "O livro dos espíritos".
Freqüentemente, também, têm-se acusado
a C.E.P.A. de afirmar que "a moral espírita é superior
à moral de Jesus". Ora, na mesma ordem de raciocínio,
não cabe supremacia de uma sobre a outra: a moral espírita
não é superior nem inferior à moral de Jesus. É
exatamente a mesma, com uma vantagem de relevância meramente cronológica:
por estar o espiritismo inserido na modernidade e por se propor a tornar-
se expressão de perene contemporaneidade, assimilou os grandes
valores humanistas conquistados justamente em oposição
à opressão religiosa que a cristandade instaurou em nossa
história. Essas características lhe dão mobilidade
e transformabilidade, fazendo-o capaz de se utilizar dos signos de seu
tempo e de se adaptar ao avanço da ciência, à mutabilidade
da linguagem e da cultura e aos padrões socioculturais hodiernos.
Essa é a visão que a C.E.P.A. tem divulgado
com toda a clareza, explicitando, também, que há uma nítida
distinção entre Jesus e cristianismo, o que nos leva a
reafirmar estarmos totalmente com os ensinos morais do Nazareno, o que
não implica aceitarmos a adjetivações dadas ao
espiritismo de "cristão" ou "evangélico".
Quem não for capaz de entender isso que siga
dizendo que o espiritismo é "o cristianismo redivivo",
"a terceira revelação divina", etc., mas que
o faça sem violentar a verdade dos fatos e sem distorcer palavras
alheias, mantendo postura minimamente ética no debate de idéias.
Artigo publicado no Boletim CEPA BRASIL, de dezembro/2.000.
Sobre posicionamento da CEPA
(Transcrição de e-mail do presidente da
CEPA, Milton Medran Moreira, dirigido a diversos destinatários,
a respeito de ataques da ADE-RS à CEPA)
Amigos de ideal espírita:
A presente manifestação oportuniza-nos dar ciência
a quem, eventualmente, não o haja lido do artigo que publicamos
no boletim CEPA BRASIL, sob o título "A CEPA E O EVANGELHO".
Aquela manifestação, e não as inúmeras matérias,
de autores identificados ou não, que insistem com chavões
do tipo "A Cepa quer tirar Jesus do espiritismo", "A
Cepa não aceita o Evangelho", etc., representa o pensamento
construído e divulgado, responsavelmente, ao curso de mais de
meio século pela Confederação Espírita Pan-Americana.
O pensamento da CEPA é sempre claro. Está
exposto, sem tergiversações, nos documentos que torna
públicos em seus congressos, conferências e, hoje, no boletim
CEPA BRASIL, órgão oficial das instituições
adesas e filiadas à CEPA no Brasil.
Esse boletim é publicado mensalmente, como encarte
do jornal OPINIÃO, órgão do Centro Cultural Espírita
de Porto Alegre (CCEPA), que tem plena identidade com a Confederação
Espírita Pan-Americana, da qual é
filiada.
Nesses mesmos órgãos, e nas sucessivas
edições da revista "América Espírita",
que tem circulação mundial, relacionam-se com freqüência
as dezenas de federações, centros espíritas, associações
espíritas, bibliotecas, centros culturais e pessoas físicas
que, na América (e agora também na Espanha e França)
têm vínculos institucionais com a CEPA.
O projeto da CEPA no Brasil, onde já conta com
aproximadamente duas dezenas de instituições filiadas
e com delegados em inúmeras cidades e Estados, não é
de confronto e nem de concorrência com o movimento espírita
aqui organizado. A partir de estruturas organizacionais próprias
e tendo como inspiração de todo o seu trabalho os postulados
básicos da obra de Kardec, a CEPA respeita e busca o diálogo
e o intercâmbio com todo o movimento espírita, sem qualquer
restrição e sob o lema kardequiano de "trabalho,
solidariedade e tolerância".
Nossa visão de movimento espírita não
contempla qualquer sentido de "poder" ou de "dominação",
ou de imposição de idéias. Federações,
confederações, associações espíritas,
conselhos espíritas, no nosso entender, devem ser órgãos
que cultivam a liberdade de pensamento, de ação, de autogestão,
dentro de suas concepções institucionais. Buscamos muito
mais a "união" de todos os espíritas naquilo
que lhes é comum e básico, do que a "unificação",
em uma estrutura de poder estratificada e hegemônica. Para nós,
o espiritismo é uma proposta livre-pensadora e, logo, suas instituições
devem preservar sua independência, respeitados os pressupostos
doutrinários fundamentais, aos quais aderiram livre e espontaneamente.
Esse nosso perfil não se compatibiliza com agressões,
com manifestações de baixo nível, fundadas no "diz-que
diz-que". Admitimos que o espiritismo é um pensamento em
constante construção, a partir dos fundamentos básicos
expostos na obra de Kardec. Daí haver um espaço amplo
para o debate, para a atualização constante, mas sempre
em termos respeitosos, democráticos, abertos.
Nossos espaços, na pequena imprensa que mantemos,
não se abrem a discussões estéreis, nem a guerras
institucionais contra irmãos de ideal que têm posições
em algum ponto discordante das nossas. A nós não interessa
quantos centros a Federação "A" ou a União
"B" tem ou deixa de ter. Importa que o movimento espírita
amadureça a ponto de poder, livremente, criar os vínculos
que bem desejar, com quantas federações, uniões
ou confederações quiser, sem que umas patrulhem as outras.
Há instituições, no Brasil, filiadas à CEPA
e que, concomitantemente, mantêm vínculos institucionais
com suas espectivas federações ou uniões estaduais.
Reconhecemos em cada centro espírita e, especialmente, em cada
cidadão espírita, o direito de estabelecer os vínculos
institucionais que desejar, com amplos critérios de liberdade.
Defendemos, por outro lado, a necessidade de as instituições
espíritas respeitarem suas naturais diferenças, convivendo
fraternalmente entre si e ampliando espaços dentro dos quais
se possa realizar um trabalho conjunto. Essa, aliás, é
uma consciência que está crescendo no Brasil. Recentemente
a USE promoveu em S.Paulo o I ENCOESP, reunindo dezenas de federações,
confederações, uniões, etc., com a participação
de mais de 1.300 centros espíritas. A CEPA participou desse evento
e iniciou produtivo intercâmbio não apenas com a União
das Sociedades Espíritas de S.Paulo, da qual foi parceira naquele
grande evento, mas com inúmeras outras instituições
lá presentes.
A respeito disso, estamos, além do artigo já
citado, anexando o editorial "Rumo à síntese de Kardec",
que estamos publicando no jornal Opinião (jan/fev.2001), e o
artigo "A Cepa e o Encoesp", que publico em "A Palavra
da Cepa" no boletim CEPA BRASIL, encartado na mesma edição.
Isso representa a palavra oficial e autêntica
do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, órgão
responsável pelo jornal Opinião, e da Confederação
Espírita Pan-Americana que edita o encarte aludido.
Tanto um como outro desses órgãos estão
à disposição para a publicação de
matérias que se inspirem nesses pressupostos de respeito ao pensamento
espírita e que, de alguma forma, contribuam com esse ideal de
unidade do pensamento espírita, naquilo que lhe é essencial.
Não abriremos espaço, entretanto, jamais, para o debate
estéril, agressivo, semeador da desunião ou voltado para
a difamação ou para a calúnia. Quem preferir esse
caminho, continuará falando sozinho.
A CEPA não se prestará jamais a esse comportamento
panfletário e irresponsável.
Com um abraço cordial,
Milton Rubens Medran Moreira
Presidente da CEPA.
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