"O QUE
ERA ANTES UM ATALHO, AGORA É UM CAMINHO REAL"
MARCIAL
Vivemos cercados de convenções por todos os lados. As
leis humanas são convenções. Os preceitos sociais.
A moda, a língua, a moral... Até mesmo a conceituação
de Revelação Divina não pôde fugir ao convencionismo.
No consenso geral, houve duas revelações: a do Antigo
Testamento, personificadas em Moisés, e a do Novo Testamento,
personificada em Jesus. Para os espíritas, há ainda a
Terceira Revelação, ditada pelas vozes do Céu,
os Espíritos Superiores.
Entendemos, entretanto, que, a rigor só se deveria admitir uma
única Revelação, progressiva e indivisível.
Deus nunca deixou de revelar-se aos seus filhos. Por todos os meios
e modos. No tempo e no espaço. Direta ou indiretamente. Através
de suas obras e de seus profetas. A própria criatura é
maior revelação do Criador.
Dentro desse caráter de unidade e continuidade da Revelação
Divina, o Espiritismo surgiu na época apropriada, não
para desabonar os ensinamentos anteriormente revelados, nem insurgir-se
contra eles, senão para melhor esclarecê-los e ampliá-los.
O Espiritismo, como corpo de Doutrina, data de fins do século
XIX, mas suas origens vêm de eras imemoriais , e seus precursores
foram todos aqueles que, no decorrer dos tempos, legaram à humanidade
subsídios para a demonstração da verdade. Procuremos,
então, identificá-los.
Já na antiga China teria reinado, por volta do ano 3468 antes
de Cristo, o sábio Fo-Hi, que, aliás,
dizendo estar simplesmente transmitindo o que aprendera de seu ancestrais,
divulgou veladamente conhecimentos de Cosmologia e de Filosofia. Estudou
o Céu e a Terra, a dicotomia espírito - matéria
e valeu-se de seu poder para incutir os dons morais entre o seu povo.
A Fo-Hi seguiu-se Lao-Tse (nascido
604 anos A.C.), autor do Tao, ou Livro da Senda, e do Te, ou Livro da
Virtude e da Retidão. Confúcio, que viveu cinco séculos
antes da era cristã, estimulou o culto dos antepassados, tradicional
no Celeste Império ,ensinou que se devemos fazer aos outros o
que queremos que nos façam, o mesmo preceito que viria a ser
proclamado por Jesus: "O que quereis que vos façam
os homens, fazei-o também a eles", conforme Lucas,
6:31.
No século seguinte, o filósofo Mêncio,
ou Meng-Tseu, neto de Confúcio, comentou os
diversos livros sagrados da China, escrevendo o Tratado de Moral. Por
outro lado, os Vedas - livros sagrados dos hindus - escritos há
mais de 4 mil anos, afirmavam a existência dos Espíritos;
e o que segundo os ensinamentos dos brâmanes, constituía-se
o dom dos exorcistas, adivinhos, profetas e evocadores de Espíritos.
O Budismo, exaltando a utilidade do sofrimento e da
renúncia, tem por base a Lei do Karma, segundo a finalidade precípua
da dor para a expiação das faltas cometidas em existências
anteriores. Buda (desencarnado em 478 ou então em 473 antes da
nossa era), condenando o desejo egoístico, aconselhava a seus
discípulos: Sede como o sândalo que perfuma o machado que
o corta.
O Bhagavad-Gita, episódio da antiga epopéia
Mababharata, registra no capitulo il. 13, o ensinamento de Khrishna:
"Assim como a alma, vestindo este corpo material, passa pelos estados
de infância, mocidade, virilidade e velhice, assim, no tempo devido,
ela passa a um outro corpo, e, outras encarnações, viverá
outra vez." Perfeita concordância com a palavra do Cristo:
"Em verdade, em verdade te digo, não pode ver o reino de
Deus aquele que não nascer de novo" (João, 3:3).
O primeiro culto da Grécia, famosa pela sua Mitologia, era o
culto dos mortos. A primeira idéia do povo helênico não
foi a da imortalidade, e sim da sobrevivência. Os Campos Elíseos
e o Tártaro não são moradas definitivas. Os filósofos
gregos, na sua maioria, ensinavam que todas as pessoas têm o seu
daemon (demônio), termo usado na acepção do Espírito
familiar ou guia espiritual.
Homero (século IX A.C.), na Odisséia,
descreve a evocação de Tirésias, adivinho de Tebas,
por Ulisses. Periandro, o tirano de Corinto, considerado outrossim um
dos sete sábios da Grécia (625-585 A.C.), evocou o Espírito
de sua esposa Melissa, após matá-la a pontapés.
Heródoto, o conhecido Pai da História
(480425, aproximadamente), manifestou a crença de que as almas
puras prosseguiam sua marcha evolutiva em outros mundos materiais.
Por seu turno, Sócrates (468-400 A.C.) defendia
o dogma da imortalidade alma e da vida futura. Seu discípulo
Platão (429-34,A.C.) difundiu e esclareceu a
doutrina socrática, favorável à palingenesia, acentuando
que aprender é recordar. Admitia que a alma, após a depuração
em vidas sucessivas, torna-se santificada e não mais retorna
à Terra. Mas, conforme lemos em A Reencarnação,
obra de Gabriel Delanne, edição da Federação
Espírita Brasileira, pág. 22, segundo Platão, antes
de chegar a este grau de não mais voltar à terra, as almas
giram durante mil anos no Hades, e, quando têm de voltar, bebem
as águas do Rio Letes, que lhes tiram a lembrança das
existências passadas .Segundo o Mazdeismo, religião da
Pérsia, tendo o Zend-Avesta como livro sagrado, a alma se purifica
após experimentar provas expiatórias e a redenção
final é alcançada por todas as criaturas. Zoroastro
(o mesmo Zaratustra), reformador da religião do antigo Irã
(660-583A.C.), desviou o politeísmo iraniano para a concepção
monoteista e pregou uma moral de grande elevação.
Ao que relata Félicien Challaye, em sua Pequena
História das Grandes Religiões, os druidas acreditavam
na sobrevivência do Espírito e, conforme alguns textos,
admitiam a metempsicose; falavam de almas que emigram para o Ocidente
e habitam ilhas longínquas e felizes - ao que referem outros
textos. Já cantava o bardo gaulês Taliésin,
por volta do século XII: "Fui víbora no lago, cobra
mosqueada na montanha; fui estrela, fui sacerdote. Desde que fui pastor,
escoou-se muito tempo; dormi em cem mundos, agitei-me em mil círculos."
Pois muito bem! O espírito da velha Gália teve sua revivescência
em Joana d'Arc, anunciada alguns séculos antes
pelo bardo Mertin e, como se sabe, a virgem de Domrémy,
que se sacrificaria por uma causa nobre, qual seja, a defesa de sua
pátria, jamais deixou de ser obediente às suas "vozes".
Tendo por centro a mais antiga cidade de que há noticia definida
Mênfis, o Antigo Império do Egito (entre 3315 e 2160 A.C.)
já ostentava um considerável índice de cultura
e progresso material, propiciando o advento do Médio Império,
que seria considerado como a Idade de Ouro, pelos historiadores. É
deste período o Livro dos Mortos, documento literário
mais importante sobre a religião egípcia, aparecido entre
a XVII e a XX dinastias, dizendo que o ser humano se constitui de quatro
elementos, a saber: o corpo (Xa), o duplo do corpo (ou Kha), a alma
(Ba) e uma essência ou sopro vital (Khu). Acerca do segundo elemento
(o duplo Kha), elucida Henri Durville, em A Ciência Secreta.
É o duplo ou corpo astral do médium que, nas reuniões
denominadas espíritas, está na base de todas as manifestações
(deslocamentos de objetos sem contato, aparições, materializações
mais ou menos completas, golpes, etc., etc...). Atribui-se a Hermes
Trimegisto (três vezes grande) numerosos livros (42,segundo Clemente
de Alexandria, ou 200 mil, como exageradamente informa Jamblico), destacando-se
os de cunho iniciático, como Pimandro, Discurso de Iniciação
e Tábua de Esmeralda, escritos em época que não
podemos precisar. Sabe-se, contudo, que eram muito citados nos primeiros
séculos do Cristianismo em obras de filósofos religiosos.
Em Pimandro, por exemplo, adverte ao discípulo nestes termos:
"Antes de tudo, é preciso rasgar esta roupa que trazes,
esta vestimenta de ignorância, principio da maldade, cadela da
corrupção, invólucro tenebroso, morto-vivo, cadáver
sensível, inimigo do amor, ciumento no ódio, túmulo
que conduzes contigo, ladrão doméstico."
Pitágoras (século VI A.C.) - afirma Gabriel
Delanne - foi o primeiro que introduziu na Grécia a doutrina
dos renascimento da alma, doutrina que havia conhecido em suas viagens
ao Egito e à Pérsia. Moisés (século XIII
e XII A.C., ou 1500 A.C., ou ainda, nascido no ano 1705 da mesma era,
pois divergem os historiadores quanto a datas), era grande iniciado
e teria morrido aos 120 anos de idade, ao que informam alguns autores.
Era sacerdote de Osíris diz Estrabão. E, como está
consignado em Atos, 7:22, Moisés foi educado
em toda a ciência dos egípcios, e era poderoso em palavras
e obras.
O grande legislador hebreu estabeleceu leis drásticas e sumárias,
como meio de, fazendo valer sua autoridade, conter os desregramentos
do seu povo, primitivo e indisciplinado. Conseguiu, assim, onde imperava
o politeísmo, estabelecer as sólidas bases do monoteísmo.
Tanto que afirma Delanne na obra A Alma é Imortal estas palavras:
"Na Judéia, os hebreus, ao tempo de Moisés, desconheciam
inteiramente qualquer idéia daquilo a que se chama alma."
Todavia, mais tarde a reencarnação tomar-se-ia a crença
dos fariseus, conforme relata em suas obras o historiador judaico Flávio
Josefo (37-95 D.C.), ele próprio reencarnacionista .
Na cidade de Engadi, parte ocidental do Mar Morto, há cerca de
150 anos antes de Cristo, ao tempo dos macabeus, fundou-se a Ordem dos
Essênios (ou Esseus), cuja doutrina se assemelha muito à
dos primeiros cristãos.
Virgílio (71-19 A.C.) afiançava que todas
almas, depois de haverem, durante milhares de anos, girando em tomo
dessas existências (no Elisio ou no Tártaro) são
chamadas por Deus, em grande enxames, para o Rio Letes, a fim de que,
privadas da lembranças, revejam os lugares superiores e convexos,
e comecem a querer voltar ao corpo.
Ovídio (43A.C.-7 da era Cristã) achava
que a alma, ao atingir a purificação, iria habitar outros
orbes.
Com o Cristo desabrolhou na Palestina a esperança de um mundo
novo de paz e justiça, quando imperavam os Césares em
Roma e a Cidade Eterna dominava nações e povos indefesos.
Contudo, os tempos não eram ainda chegados e Jesus prometeu:
"Mas o Consolador, o Espírito Santo a quem o meu Pai enviará
em meu nome, ele vos ensinará todas as coisas, e vos recordará
o que eu vos tenho dito." (João,14:26).
Paulo, converso da Estrada de Damasco, saiu a pregar
a Boa Nova, ensinando que fora da Caridade não há salvação
e que há corpos celestes e corpos terrestres. Sob o titulo de
São Paulo, precursor do Espiritismo, a Revue Spirite de dezembro
de 1863 publica mensagem de François - Nicolas- Madaleine, de
cujo contexto vale ressaltar: Para nós, os livros santos celeiros
inesgotáveis, e o grande apóstolo Paulo, que outrora tanto
contribuiu para estabelecimento do Cristianismo, por sua prática
poderosa, vos deixou monumentos escritos que servirão, não
menos energeticamente, à expansão do Espiritismo.
Nos primeiros séculos do Cristianismo, conceituados teólogos
perfilharam a crença da reencarnação. Vejamos:
Tertuliano, doutor da Igreja (155-220), referia-se
a uma mesa sobre a qual colocaram um bacia circular feita de vários
metais, tendo um alfabeto gravado nas bordas e que profetizava! São
Clemente de Alexandria (150-213), mestre de Orígenes,
aceitava a doutrina das vidas sucessivas. Origens,
teólogo do século III (185- 254), acreditava que a alma,
antes de encarnar na Terra, já existira antes. Voltaria a nascer
em mundos cada vez mais evoluídos, tantas vezes quantas necessárias
à remissão de seus pecados. Escreveu o livro De Principiis,
no qual se manifesta a favor da reencarnação, e fez ainda
alusão à comunicação com os mortos. São
Gregório de Nissa (335-394) também acreditava
na palingenesia. Esta crença era comum entre os primeiros padres
- declara Rufino numa carta a Santo Agostinho tanto
como São Jerônimo (347-420) assegura que
a transmigração das almas fazia parte dos ensinos revelados
a um número de iniciados. O próprio Santo Agostinho mencionado
(354-430), no tratado De Cura Pro Mortuis, expiana: "Os Espíritos
dos mortos podem ser enviados aos vivos; podem-lhe desvendar-lhe o futuro,
cujo conhecimento adquiriram, quer por outros Espíritos, quer
pelos anjos, quer por uma revelação divina."
Surge com Maomé (570- 632), no mundo árabe,
o Islamismo, que combate a idolatria e afirma a existência dos
djins, entidades maléficas ou benéficas. Maomé
não sabia ler nem escrever: ditou os versículos de Alcorão
aos seus secretários. O Maometismo prima pelo fatalismo, como
bem define a palavra árabe Maktub (está escrito).
Durante o período da Idade Média (395-1453) - escreve
Gabriel- Delanne -, a doutrina palingenésica ficou velada, porque
era severamente proscrita pela Igreja, então poderosa; este ensino
esteve confinado nas sociedades secretas ou se transmitiu, oralmente,
entre iniciados que se ocupavam com ciências ocultas.
São Tomás de Aquino (1225-1274) comunicava-se
com os habitantes do outro mundo - diz o abade Poussin, professor do
seminário de Nice, na sua obra O Espiritismo perante a Igreja,
publicado em 1866. Ainda lemos na Questão 89 da Suma Teológica,
do mesmo São Tomás de Aquino esta informação.
Freqüentemente os mortos aparecem aos vivos, adormecidos ou acordados,
para lhes avisar, das coisas que neste mundo se passam. Isto consta
do Vol.8 pagina 220. Tanto como para Dante Alighieri
(1265-1321), na famosa Divina Comédia (tradução
de Florentino): "Logo que um sitio há sido assinalado à
alma após a morte, sua faculdade se lhe irradia em torno, do
mesmo modo e tanto o fazia, estando ela em seus membros vivos".
(Purgatório,XXV)
John Wycliffe (1320-1384), na Inglaterra, atrai a ira
do alto clero por negar o milagre da transubstanciação,
isto é, a transformação do vinho em sangue e do
pão em corpo de Jesus, por meio da consagração.
Defendendo a tese de que todos os direitos, inclusive o de propriedade,
emanam de Deus, insinua que deveriam ser tomados os bens terrenos da
Igreja, que. apenas passaria a cuidar dos assuntos espirituais. Estava'
lançada a semente que viria a germinar dois séculos depois.
Após sua morte, Wycliffe foi cognominado "A Estrela Matutina
da Reforma". João Huss(1369-1415) divulgador das idéias
de. Wycliffe, foi excomungado pelo Papa Alexandre V e queimado vivo
por sentença do Concilio de Constança.
Nicolau Copérnico (1473-1543) demonstra o duplo:
movimento dos planetas sobre si mesmo e ao redor do sol, teoria que
o Papa Paulo V condenou por ser contrária às Escrituras.
O sistema de Copérnico viria a ser confirmado mais tarde por
Galileu (1564-1642), que, se não abjurasse de suas concepções,
teria sido carbonizado nas fogueiras da Santa' Inquisição.
Descartes (1596-1650), estabelecendo um método novo, cientifico,
para dirigir o raciocínio, encetou a luta entre a fé cega
e a razão pura. No dizer de eminente escritor espírita,
"Descartes foi o espadachim que deu o golpe final nesse duelo de
milênios. Inspirado pelo Espírito da Verdade, segundo a
sua própria expressão, o filósofo do cogito libertou
a filosofia da servidão medieval e preparou o terreno para o
advento do Espiritismo."
Swedenborg, clarividente sueco (1688-1772) em abril
do ano de 1744, estabeleceu sua primeira comunicação com
os Espíritos. Escreveu O Céu e o Inferno. Rejeitava a
doutrina do pecado original, não acreditava nas penas eternas
e dizia que os anjos e demônios eram seres humanos que viveram
na Terra.
A Renascença, nos séculos XV e XVI, operou na Europa um
pujante movimento renovador nos domínios literários, artísticos
e científicos. Foi a época de Tasso, Giotto, Fra Angélico,
Leonardo da Vinci, Rafael, Miguel Angelo... Martinho Lutero (1483-1546)
insurge-se contra os desregramentos da Igreja Católica, condenando
especialmente a ignominiosa simonia decretada por Leão X. Não
havia caído no vazio o ideal reformista de John Wycliffe
e de João Huss. Na luta pela Reforma, Lutero
teve a ventura de encontrar o apoio decisivo de seu contemporâneo
Erasmo de Rotterdam, cujo pensamento se define numa frase: "O mundo
suspira pelo verdadeiro Evangelho". Ulrich Zwinglio
(1484-1531), reformador suíço que recusava os sacramentos
e pregava a abolição definitiva da missa, via Erasmo na
imagem de Ulisses, ponderado e previdente; e comparava Lutero a Ajax,
o lutador afoito e estabanado que agia impulsivamente.
No século XVI11, a Enciclopédia (ou Dicionário
Raciocinado das Ciências, das Artes e dos Ofícios), em
33 volumes, dirigida por Diderot e d'Alembert,
veio consolidar e disseminar os progressos de toda cultura da época.
Defendendo as idéias da libertação do despotismo
governamental e do Clero, abriu caminho para a Revolução
Francesa, que adotou o lema: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Foram
enciclopedistas: Voltaire, Rousseau, Montesquieu, Quesnay, Jaucourt
e outros. Aliás, o mencionado Rousseau (1712-1778) pensava que
"o grande erro é dar importância à vida, como
se o nosso ser dependesse dela e como se depois da morte nada mais existisse",
aduzindo ainda que, "quando deixamos o nosso corpo, apenas deixamos
uma roupagem incômoda."
Eis a opinião de Emmanuel Kant, aquele sempre
citado filósofo alemão nascido em 1724 e desencarnado
em 1804:
"Quando, afinal, a união
da alma com o corpo físico cessar com a morte, a vida no Além
não será mais que a natural continuação
da ligação que a alma teve com o corpo durante a vida
cá embaixo". Por seu turno, Goethe (1749-1832), ao que assegura
Léon Denis, "se abeberou amplamente nas
fontes d o invisível". O grande poeta alemão, autor
de Fausto, endereçou uma carta a Carlota von Stein, em que sobressaem
estes versos.
"Mas ah! em dias de outras vidas,
tu foste
Minha irmã, ou, talvez, minha mulher".
Balzac (1779-1850) foi ocultista de renome e se interessou
vivamente pelas teorias da exteriorização do pensamento.
Era reencarnacionista. Continuando, vemos que a 14 de julho de 1789
ocorre a Derrubada da Bastilha, promulgando-se pouco depois a Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão. Despontava, afinal, após
0 Período do Terror, que durou até 1799, a Idade Contemporânea,
que nos legou Kardec, e, com ele, o Espiritismo. Mas ainda na primeira
metade do século XIX podemos identificar outros precursores,
conforme veremos, encerrando esta retrospectiva histórica.
Em seu livro A História do Espiritismo, Arthur
Conan Doyle refere-se à experiência de Edward Irwing, pastor
da Igreja Escocesa, com os fenômenos psíquicos, no período
de 1830 a 1833. Investigando os sensitivos Campbell e Mac-Donald, certificou-se
de que eles falavam línguas estranhas e realizavam curas. Na
própria igreja de Irwing, houve manifestações de
Espíritos, que produziam ruídos esquisitos e pronunciavam
jaculatórias e preces. No mesmo livro, Conan Doyle relata os
prodigiosos fenômenos operados por Andrew Jackson Davis, que o
autor considera "o Profeta da Nova Revelação".
Assim é que, na tarde de 6 de março de 1844, Davis foi
transportado por uma força misteriosa, da cidade de Poughkeepsie
até às montanhas Catzkill, a cerca de 40 milhas de distancia.
Em estado de transe, embora fosse homem inculto, falou línguas
por ele desconhecidas discorrendo sobre profundos assuntos geológicos,
arqueológicos, mitológicos, históricos, etc. Recebeu
mediunicamente o livro Princípios da Natureza, publicado em 1874,
do qual consta esta previsão:
"É verdade que os Espíritos se comunicam entre si,
quando um está no corpo e o outro em esferas mais altas _ e,
também, quando uma pessoa em seu corpo é inconsciente
do influxo e assim, não se pode convencer do fato. Não
levará muito tempo para que esta verdade se apresente como viva
demonstração. E o mundo saudará com alegria o surgimento
dessa era, ao mesmo tempo em que o intimo dos homens será aberto
e estabelecida a comunicação espírita..."
Previsão exata, concluímos nós. Pouco depois, os
fenômenos de Hydesville despertariam o mundo e o Espiritismo seria
codificado por Allan Kardec mediante lento e meticuloso
trabalho. Tudo bem planejado pelo Alto. Obra coletiva executada com
apuro e honestidade, graças ao desbravamento do terreno por uma
legião de precursores. Cada um, a seu turno, como vimos, anunciou
o evento e colaborou, de uma forma ou de outra para a sua efetivação.
Fonte: http://www.espirito.org.br/portal/artigos/diversos/estudo/os-precursores-do-espiritismo.html