Boletim Academia Paulista de Psicologia, v. 32,
n° 83, p. 424-452, 2012
RESUMO:
O valor terapêutico das
práticas dissociativas de cunho religioso não representa
informação nova na literatura; muitos foram os autores
que reconheceram o poder catártico ou curativo dessas intervenções.
Encontramos, todavia, poucas referências a determinados aspectos
psicológicos por nós identificados, como: o favorecimento
da “regressão a serviço do ego”, a continência
/ acolhimento de conteúdos emocionais difusos ou impulsivos
e a integração psíquica. Há também
pouca informação na literatura psicológica sobre
os estilos e estratégias de coping específicos
utilizados por médiuns espíritas.
Método:
A partir de relatos biográficos, aliados a observações
de campo, bem como análises de psicografias e desenhos produzidos
por esses religiosos (11 participantes, 9 mulheres e 2 homens), chegou-se
a algumas hipóteses sobre os estilos de enfrentamento empregados
por adeptos do Espiritismo.
Resultados e discussão:
A ressignificação, a personificação e
a projeção foram algumas das estratégias de coping
identificadas. No discurso dos médiuns, a participação
no Centro teria ajudado numa maior adaptação ativa a
dificuldades pessoais e familiares; ampliação de contato
(rede) social; maior valorização de si próprio.
Todavia, foram também observados mecanismos institucionais
de controle das manifestações dissociativas que podem
gerar ansiedade e estresse.
Conclusão:
Espera-se que as hipóteses levantadas sejam de utilidade aos
que comungam da prática clínica na Psicologia, na Psiquiatria
e na Psicanálise, quer quanto ao diagnóstico diferencial
dessas experiências, quer quanto ao próprio entendimento
da eficácia terapêutica de tais práticas sociais.