Escrevo esse texto para que ecoe em
meu próprio universo interior.
Tenho me surpreendido executando ações que já critiquei
ferozmente em indivíduos ligados a grupos que defendem idéias
diferentes daquelas nas quais acredito.
A minha História como Espírita é
longa. Já sofri discriminação, censura e preconceito.
Em todas essas oportunidades senti asco em relação á
atitude e compaixão em relação ao ofensor. Procurei
entender que a ignorância leva a essas manifestações
e sempre acreditei que a educação sanaria esse mal e difundiria
a democracia do livre pensamento.
Os Espíritas tem em comum o firme e obstinado
propósito de evolução e por isso tendem a estudar
bastante e acumular conhecimentos técnicos e filosóficos.
Tenho notado que, algumas vezes, durante esse processo
de crescimento intelectual ocorre a construção de um sistema
de pensamento inflexível que pretendendo ser acertado torna-se
cruelmente intolerante. Defendemos tanto o aperfeiçoamento através
do estudo dedicado que aqueles que não são capazes ou
não querem seguir nosso "modus vivendi" passam a ser
considerados como ignorantes, despreparados ou limitados.
..... ecoe em meu próprio universo interior.
Na realidade o exercício do amor prescinde de preparo intelectual.
Nós somos ainda incapazes desse exercício de forma natural
e por isso necessitamos de argumentos e justificativas para nos mobilizarmos
neste sentido.
Mesmo em relação ás inúmeras
religiões espiritualistas reencarnacionistas, os Espíritas
se colocam em um nível muito pouco modesto. A nossa crítica
é severa e dirige-se àqueles que exercitam sua fé
fora dos padrões que foram estabelecidos pelo Codificador Allan
Kardec.
..... ecoe....
Não julgue você que discordo ou questiono o rigor científico
e normatizador de Kardec. Pelo contrário, o seu código
nos deixa seguros e confiantes para uma certa e plena libertação
espiritual futura. Seu exemplo foi exuberante em dedicação
e estudo. Foi exuberante, também, em respeito e tolerância
às religiões dominantes na época em que viveu como
Leon Rivail Denizard.
Os Espíritas não devem ser proselitistas,
como nos orientou o Codificador.
Por que?
Por que a iluminação espiritual não
é propriedade de nenhuma organização religiosa
e a Verdade não pertence a nenhum grupo ou ser Humano. Ou seja,
não existe necessidade de estarmos ligados a qualquer estrutura
religiosa para que tenhamos sucesso no caminhar rumo aos planos celestiais
da existência.
..... ecoe....
Se, cremos que todos podemos chegar a Deus através
das inúmeras Igrejas voltadas para o bem, ou mesmo independente
delas, devemos ser tolerantes, respeitosos e admiradores de todos que
professem o amor como meio de vida.
A intolerância religiosa não pode ser
encontrada em um ambiente, como o nosso, que pretende ser mais avançado
e democrático. Devemos respeitar e louvar a liberdade de exercício
da fé de todo e qualquer grupo religioso voltado para o bem.
Sendo assim não devemos formar guerrilhas da
fé pois estas não só se defendem mas ... atacam,
e de forma sorrateira. Devemos sim defender a Doutrina Espírita,
de forma equilibrada, moderada, doce e caridosa.
..... ecoe....
Existem pessoas que precisam da forma e do ritual. Outros
precisam do rigor de leis severas para não caírem novamente
no erro. A liberdade que temos em exercer nosso livre arbítrio
gera conseqüências e responsabilidades que nem todos os seres
querem ou são capazes de suportar.
Como cada um deve fazer o que pode de melhor, nós
devemos respeitar os limites de entendimento e as necessidades de nossos
semelhantes já que certamente estivemos em situação
igual ou pior em passado recente.
..... ecoe....
Assim, creio eu , que devemos nos policiar e seguir
os passos do Mestre Jesus, ele nos revelou há 2000 anos atrás
apenas o que éramos capazes de suportar naquela época.
Deixou para nos mandar o Consolador mais de 1500 anos depois. Foi paciente
com nossa incapacidade. Sejamos, portanto, pacientes com a diversidade.
Defender a Doutrina Espírita é lícito
em caso de ataque. Nesta situação devemos responder com
respeito, tolerância, clareza didática e argumentos fortes.
O ataque não nos é lícito. Não
devemos invadir o ambiente de outros grupos e criticá-los. Não
devemos nos sentir pessoalmente ofendidos quando taxados de hereges
ou de predicados ainda piores.
..... ecoe....
Devemos estudar sim e também devemos preparar-nos
para responder às críticas mais freqüentes. Diante
de críticas inéditas devemos rebatê-las após
um estudo sereno e quando isto for útil para uma divulgação
salutar da Doutrina.
Em algumas oportunidades seremos mais sábios
e prudentes se reconhecermos as falhas apontadas por nossos opositores.
A análise rigorosa, profunda e honesta do nosso ponto fraco será
construtiva e como não somos perfeitos certamente temos muitos
progressos a realizar.
..... ecoe....
Assim devemos deixar a arrogância de lado e humildemente
abraçarmos nossos irmãos de caminhada, estejam eles em
um Terreiro de Candomblé ou em uma Igreja Carismática
ou em um Templo Protestante.
O exemplo de tolerância deve partir de nós. Quando combatemos
nossos oponentes sem respeito, de forma jocosa, irônica ou depreciativa
estamos trabalhando contra a Doutrina Espírita e nos associando,
por sintonia, ás entidades que militam nas trevas.
..... ecoe....
Essas brechas não devem ser abertas. Devemos sintonizar apenas
com a Luz Cristã. Exercer diuturnamente o "Orai e Vigiai".
Nossos inimigos não são os adeptos de
outras religiões mas sim nossas próprias fraquezas, especialmente
a vaidade e o orgulho que são poderosos, dissimulados e destrutivos.
Esses defeitos só podem ser vencidos com o Amor
e a caridade. No caso, a caridade da tolerância se dirige aos
nossos opositores. E esperemos que os ofendidos por nós nos dirijam
a caridade da compaixão.