A revista “Estudos
Psíquicos”, periódico de saudosa
memória, de Setembro de 1951, que se editava em Lisboa, estampa
em interessante artigo de autoria de Otto A. Prado, a discutidíssima
questão do inconsciente e do subconsciente.
O que o autor escreveu, a respeito, há mais de 40 anos, ainda
se questiona com o mesmo destaque de outrora, tanto nos arraiais
psicológicos, quanto genéticos, e particularmente
(sem projecção académica) no ambiente espírita.
O certo é que em todos os tratados de psicologia se emprega
ambos os vocábulos como se tivessem igual significado. Afirma,
porém, o ilustre articulista: “São inconscientes
as reacções primitivas que se ocultam sob o verniz
do civilizado, assim como os sentimentos de ódio ou ira e
os movimentos automáticos instintivos.
São subconscientes as aquisições conscientes
que implicam tendência evolutiva, as capacidades inatas, o
génio, a ânsia de superação que reside
no íntimo, como parte da actividade supranormal.
Quanto ao consciente, é o estado actual em que se encontra
o espírito na vida de relação. É o agir
no presente com inteiro conhecimento do que se faz ou pensa”.
De nossa parte, consideramos o inconsciente, o subconsciente e o
consciente como estados da actividade espiritual, como maneiras
de agir do espírito. O inconsciente deve ser claramente separado
do subconsciente e por isso deve ser encarado como um ressurgimento
do primário, de épocas passadas do ser.
O subconsciente é a compreensão de todos os conteúdos
conscientes na larga trajectória do espírito durante
o processo da sua evolução biológica e o seu
evolver anímico; captação que regista e arquiva
minuciosamente todos os pormenores de factos ocorridos, deixando
como síntese um pensamento orientado, um ensino proveitoso
para o ser.
Assim sendo, os vocábulos inconsciente e subconsciente não
são homónimos, são, pelo contrário,
antónimos.
O primeiro significa estancamento, regresso a um processo psíquico
anterior, e o segundo é progresso, evolução.
Acrescenta, então, Otto A. Prado: “O inconsciente
é o lastro acumulado que se deve ir perdendo na ascenção
espiritual. O subconsciente é o conhecimento que se acrescenta
para aproveitamento ulterior. O inconsciente é o acto psíquico
não deliberado proveniente da nossa anterior experiência
orgânica, trófica ou vital”. E conclui:
Se dizemos o ser inconsciente referimo-nos ao indivíduo
organicamente considerado, a um aspecto intranscendente do seu psiquismo.
Se falarmos do ser subconsciente referimo-nos ao espírito
na sua função evolutiva, ao aspecto transcendente
ou imanente do psiquismo”.
De facto, Gustave Geley, do Instituto de Metapsíquica de
Paris, adverte que o subconsciente foi realização
consciente em época anterior, deliberação cabal,
cuja repetição habitual deu origem a um automatismo;
por isso o inferior, já superado pelo esforço intelectual,
é escala evolutiva, pertence ao passado. (1)
O subconsciente, finalmente, é a actividade permanente eterna
do ser individual, domina o passado e o presente e, por efeito do
transe psíquico (voluntário ou acidental), pode inferir
o futuro.
Este último é comprovado pelo dr. Eugénio Osty
na sua obra “A Utilização Prática
dos Sujeitos Dotados de Conhecimento Supranormal”.
Em conclusão: inconsciente, consciente e subconsciente são
formas de comportamento do espírito; o terceiro suplanta
a ambos, porque age sem limite espacial-temporal.
__________
(1) Considerando o eu como um dínamo-psiquismo
essencial, Gustave Geley destruindo as já frágeis
noções da psicologia clássica, conclui que
o progresso espiritual e psicológico não é
outra coisa que não a conversão dos conhecimentos
em faculdades, as quais se adquirem por experiências, através
das vidas sucessivas, na evolução palingenésica
do ser.
Carlos Bernardo Loureiro
(Jornalista, escritor e advogado)