Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Antropologia Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo, sob orientação
da Professora Dra. Paula Montero
São Paulo, julho de 2000
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Resumo
O presente trabalho, feito com base
em pesquisa etnográfica e análise de literatura, analisa
o modo como a cultura escrita, a oralidade e narrativas relacionam-se
no espiritismo kardecista no Brasil, tendo em vista a especificidade
de uma religião que, ao se pretender cristã, racionalista
e erudita, legitima a autoridade de seu referencial doutrinário,
cosmológico e ritual por meio de práticas culturais
letradas, que necessariamente envolvem a escrita e a leitura em sua
realização.
Ao estabelecer um sistema de referências erudito, cuja base
divide-se entre, de um lado, orientações reveladas através
do transe mediúnico e a discussão grupal dessas orientações,
o espiritismo atualiza não apenas um sistema religioso de crenças,
práticas e valores, mas toda uma cultura bibliográfica
por meio de um conjunto de performances de estudo e leitura, citação
e comentário, oratória, doutrinação e
prece, cujo domínio constitui a condição de participação
efetiva na religião, aliás práticas vinculadas
a uma socialização prévia no mundo escolar e
erudito da sociedade.
Investigou-se também aspectos estruturais e temáticos
da literatura espírita, composta principalmente de dissertações
e de narrativas, por constatar a sua centralidade na conversão,
socialização e reprodução de identidades
no interior deste sistema religioso contemporâneo.
Todas essas questões foram articuladas ao trabalho de campo
por meio de uma etnografia da leitura e da fala, bem como por intermédio
de uma descrição e análise de aspectos orais
e escritos da desobsessão.
O caso Chico Xavier também é aqui analisado não
somente por sua importância no espiritismo brasileiro, mas também
por condensar toda a gama de questões abarcada neste trabalho.
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Introdução:
A presente tese objetiva elaborar uma
antropologia das práticas culturais letradas no universo espírita
kardecista, abordando os diferentes registros do crer e do praticar
essa religiosidade. Assinalo que minha perspectiva de apreensão
do fenômeno espírita, ainda que tome partido da excelência
de diversos trabalhos que me antecederam, deles diverge por um dado
fundamental que não cansarei de enfatizar: o espiritismo é
uma religião da cultura escrita (ou letrada no sentido de pressupor
limiares mínimos de "letramento" para a participação
em seu cotidiano) e isso faz toda a diferença, tanto no âmbito
de qualquer religiosidade quanto no Brasil, em particular. Essa afirmação
geral subjaz a todo o conjunto do trabalho, de tal forma que toda e
qualquer discussão travada poderá ser vista como desenvolvimento
ou implicação desta tese.
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Fonte:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832004000200011&script=sci_arttext
LEWGOY, Bernardo. Etnografia da leitura num grupo de estudos espírita.
Horiz. antropol., Porto Alegre , v. 10, n. 22, Dec. 2004 . Available
from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832004000200011&lng=en&nrm=iso>.
access on 26 July 2014 - http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200011.