Eugenio
Lara
> Mediunidade Social
Conforme a definição de Allan Kardec, o
“Espiritismo é uma ciência que trata da natureza,
da origem e do destino dos Espíritos, e de suas relações
com o mundo corporal.” (1)
Essas relações ocorrem através de um processo
de comunicação entre espíritos desencarnados
e encarnados, classificado pelo Espiritismo de mediunidade. Para
o fundador do Espiritismo, mediunidade é a capacidade que
todos os seres humanos possuem de sentir a influência dos
seres desencarnados. “Todo aquele que sente, num grau qualquer,
a influência dos Espíritos é, por esse fato,
médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não
constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso
mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam
alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são,
mais ou menos, médiuns.” (2)
Essa faculdade se manifesta nas relações interexistenciais
e é a responsável pela interação entre
os dois mundos, o físico e o extrafísico. A mediunidade
surge com o próprio ser humano, é inerente, indissociável,
um atributo intrínseco de nosso psiquismo, cujos registros
existem desde a pré-história. Todas as grandes religiões
da humanidade, em todas as civilizações da Antiguidade,
em todos os livros sagrados, da Bíblia ao Alcorão,
nos Vedas e nos Upanishades, no Bagavhad Gita, no Livro de Mórmon,
no Livro dos Mortos do antigo Egito, dentre outros, observa-se
a influência dos Espíritos no mundo corporal.
Com as pesquisas realizadas no século passado, hoje os
estudiosos do Espiritismo admitem essa influência, não
somente pela via natural, tradicional, na interação
comunicacional entre um determinado Espírito e o médium,
mas também através de aparelhos eletrônicos,
a chamada Transcomunicação Instrumental (TCI), que
ao lado da Transcomunicação Mediúnica (TCM),
constituem um conjunto de fenômenos inseridos no universo
do Processo de Comunicação Mediúnica (PCM).
Segundo a teoria desenvolvida por Kardec em suas experimentações,
evidenciada pelas investigações metapsíquicas
e parapsicológicas, essa interação entre
as duas dimensões ocorre em função da existência
de uma matéria sutil, o fluido cósmico universal,
conceito semelhante ao prana dos orientais, mais adequadamente
definido como energia cósmica, cujas propriedades ainda
pouco conhecemos.
É através da manipulação dessa energia
que os Espíritos podem influir no mundo corporal e, em
contrapartida, os encarnados conseguem obter efeitos impressionantes
quando manipulam a energia vital (uma modificação
da energia cósmica), cuja fonte se encontra na Natureza,
especialmente nos chamados médiuns de efeitos físicos,
estabelecendo influenciações na dimensão
extrafísica, paralela a nossa. Essa forma de energia, ainda
pouco conhecida, “desempenha o papel de intermediário
entre o Espírito e a matéria propriamente dita,
por demais grosseira para que o Espírito possa exercer
ação sobre ela.” (3)
Além da mediunidade, a reencarnação é
um outro portal que permite a influência dos Espíritos
no mundo físico. De modo que, segundo a teoria espírita,
a mediunidade e a reencarnação são as duas
únicas formas de que os Espíritos podem se servir
para influir na matéria.
A influência espiritual não se dá somente
nas relações interpessoais. Ela ocorre em nível
coletivo, social, o que nos leva a pensar a mediunidade em parâmetros
que extrapolam as relações localizadas, individuais,
seja em um nível eticamente positivo (a inspiração),
como também nos processos obsessivos. Allan Kardec admitiu
a tese de que a obsessão pode se dar em nível coletivo.
“O que um Espírito pode fazer com um indivíduo,
vários Espíritos podem fazer com vários indivíduos
simultaneamente, dando à obsessão um caráter
epidêmico. Uma legião de maus Espíritos
pode invadir uma localidade, e aí manifestar-se de diversas
maneiras. Foi uma epidemia desse gênero que castigou a Judéia
no tempo do Cristo.” (4)
MEDIUNIDADE E SOCIOLOGIA
O conceito de mediunidade, aplicada no campo sociológico,
se alarga, se amplia ao ponto de termos de acrescentar um adjetivo,
a fim de qualificar essa modalidade fenomenológica ainda
desconsiderada pelas ciências sociais. Mediunidade
social foi a expressão cunhada pelo filósofo
portenho Humberto Mariotti (5),
em seu livro Parapsicologia e Materialismo Histórico
(6),
a partir de estudos por ele realizados sobre a monumental obra
Espiritismo Dialético, do também
portenho Manuel S. Porteiro. (7)
Mariotti, amiúde mais poeta do que filósofo, vê
na mediunidade social o campo propício para a manifestação
superior de Espíritos extremamente elevados, o que em sua
visionária concepção, daria origem ao que
denominou de Espiritocracia. Segundo ele, a mediunidade
social seria uma nova faculdade mediúnica, “por meio
da qual os fenômenos sociais, políticos e econômicos
serão elucidados pelos Grandes Seres, que se comunicarão
com a alma do povo para expressar ao Homem e ao Cidadão
o verdadeiro significado da existência e das questões
sociais.” (8)
A Espiritocracia, conforme o conceito do eminente filósofo
portenho, seria uma forma extremamente avançada de democracia
mediúnica, onde os tribunos espíritas, através
da mediunidade social, realizariam um movimento de intensa transformação
ética e comportamental no seio da sociedade, cuja conceituação
se constitui numa superação do que Allan Kardec
denominou de Aristocracia Intelecto-Moral. (9)
Segundo Mariotti, “a História sempre foi movida pela
mediunidade social”, que abrangerá “tanto a
tribuna e o orador, como as massas. Em certos momentos, os povos
desenvolvem um tipo de mediunidade coletiva, por meio da qual
se produzem as revoluções históricas, como
a francesa e a russa.” (10)
O Espiritismo, na sua visão, é o único espiritualismo
“que possui caracteres mediúnicos; por conseguinte,
é ele que deverá dirigir-se aos povos, para que
desenvolvam suas qualidades psíquicas e metapsíquicas.”
(11)
O pensador espírita francês Léon Denis
é também um dos partidários da idéia
de que o mundo dos Espíritos não é uma dimensão
estática, estagnada e parada no tempo e no espaço.
Para ele, “as almas dos mortos não são entidades
vagas, indefinidas, como alguns acreditam, pois, atingindo as
altas camadas da hierarquia espiritual, elas se convertem em poderes
notáveis, em centros de atividades e de vida capazes de
exercer uma ação sobre a humanidade terrestre.”
(12)
“Pela sugestão magnética,
podem influir sobre aquele que escolheram, fazendo nele germinar
a idéia matriz e incitá-lo ao ato decisivo que vai
coroar sua obra.
“É dessa forma que
os invisíveis se envolvem nos atos dos vivos, para a concretização
do bem e o cumprimento da justiça eterna”. (13)
Esse envolvimento ativo dos Espíritos, citado por Léon
Denis, ocorre, por exemplo, durante os conflitos bélicos,
nas guerras. Kardec incluiu essa questão em O Livro
dos Espíritos:
541. Durante uma batalha, há Espíritos assistindo
os combates e amparando cada um dos exércitos?
“Sim, e que lhes estimulam a coragem.”
“Os antigos figuravam os deuses tomando o partido deste
ou daquele povo. Esses deuses eram simplesmente Espíritos
representados por alegorias.”
542. Estando, numa guerra, a justiça sempre de
um dos lados, como pode haver Espíritos que tomem o partido
dos que se batem por uma causa injusta?
“Bem sabeis haver Espíritos que só se comprazem
na discórdia e na destruição. Para esses,
a guerra é a guerra. A justiça da causa pouco os
preocupa.”
543. Podem alguns Espíritos influenciar o general
na concepção de seus planos de campanha?
“Sem dúvida alguma. Podem influenciá-lo nesse
sentido, como com relação a todas as concepções.”
544. Poderiam maus Espíritos suscitar-lhe planos
errôneos com o fim de levá-lo à derrota?
“Podem; mas, não tem ele o livre-arbítrio?
Se não tiver critério bastante para distinguir uma
idéia falsa, sofrerá as conseqüências
e melhor faria se obedecesse, em vez de comandar.”
545. Pode, alguma vez, o general ser guiado por uma espécie
de dupla vista, por uma visão intuitiva, que lhe mostre
de antemão o resultado de seus planos?
“Isso se dá amiúde com o homem de gênio.
É o que ele chama inspiração e o que faz
que obre com uma espécie de certeza. Essa inspiração
lhe vem dos Espíritos que o dirigem, os quais se aproveitam
das faculdades de que o vêem dotado.” (14)
A intervenção dos Espíritos no mundo corporal
é um tema extremamente importante no Espiritismo, ao ponto
de Kardec dedicar-lhe um capítulo inteiro em O Livro
dos Espíritos, cujo mecanismo será analisado
em sua obra posterior, O Livro dos Médiuns.
Essa intervenção pode ser oculta ou manifesta, quando
evidenciada pelos fenômenos de efeitos físicos. Sofremos
a influência dos Espíritos diariamente, a todo instante.
Ela se dá em nível individual e coletivo, de modo
espontâneo e desorganizado. Ou então, de forma planejada
e dirigida, a partir de um projeto, de uma ação
coordenada visando determinado objetivo.
O conflito de idéias, de classes, que ocorre em nosso mundo,
também existe no mundo dos Espíritos. Por afinidade,
grupos de pessoas se aglutinam em torno de uma idéia, formando
partidos, movimentos, organizações voltadas para
o bem-estar ou para o mal. O crime organizado não existe
somente em nosso mundo. Da mesma forma que organizações
humanitárias extrafísicas atuam de forma decisiva
nos processos sociais, conforme descreve o Espírito André
Luiz através da mediunidade de Chico Xavier.
A influência é mútua. Ela é interativa,
e não se dá de forma tão unilateral como
parece ser quando lemos essa outra pergunta de O Livro dos
Espíritos:
459. Influem os
Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?
“Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que,
de ordinário, são eles que vos dirigem.” (15)
Há quem sustente que nosso mundo é um reflexo do
mundo dos Espíritos. Trata-se de uma concepção
metafísica, mística, cujos fundamentos estão
bem distantes da boa lógica e do bom senso. No entanto,
são dois lados de uma mesma moeda. Vivemos em um
grande ecossistema (físico e extrafísico)
que interage, se interpenetra, mas que na forma, no formato, em
sua construção, está sujeito ao nível
evolutivo, ao progresso das idéias, ao desenvolvimento
tecnológico, a tal ponto que poderíamos, inclusive,
inverter a formulação contida nessa questão.
Não seriam os homens que dirigem os Espíritos, muito
mais do que eles imaginam? Afinal, quer queira ou quer não,
a decisão humana, em última instância, estará
sempre restrita ao exercício do livre-arbítrio.
JOANA D’ARC E OS ESPÍRITOS
Na história da humanidade, a trajetória de Joana
d’Arc (1412-1431) é uma das mais emblemáticas
quanto à intervenção dos Espíritos
no processo social.
Camponesa simples, analfabeta, criada dentro do,s princípios
do catolicismo, Joana começou a ouvir vozes e ter visões
a partir dos 12 anos de idade. Na primeira visão, viu uma
grande luz e em seguida a aparição de santos. O
arcanjo São Miguel, Santa Catarina e Santa Margarida foram
as entidades que lhe revelaram uma missão: a de libertar
os franceses do jugo inglês.
Esse fato ocorreu durante a Guerra dos Cem Anos, entre Inglaterra
e França, que se prolongou por mais de um século
(1337 a 1450) e marca uma fase da transição entre
o feudalismo e o capitalismo.
Sob a inspiração dos Espíritos, Joana d’Arc
convence o rei Carlos VII de sua missão, que lhe outorga
o título de “chefe de guerra”, isso com apenas
17 anos. Vestida com uma armadura de guerreiro, espada e um estandarte,
lidera um exército de homens envolvidos por seu magnetismo,
pela influência dos Espíritos e confiantes na vitória.
Joana toma a cidade de Orléans (1929) e as principais bases
dos inimigos ingleses. Foi o prenúncio da definitiva expulsão
dos ingleses, que somente se daria em 1450, com a vitória
final de Carlos VII e a retomada da Normandia.
Mesmo tendo sido ferida em Paris, traída, presa, julgada
e queimada como herege pelos ingleses, como uma bruxa, Joana tornou-se
um símbolo de liberdade e do patriotismo francês,
algo que na época não era muito claro, pois a idéia
de nação ainda não estava bem desenvolvida
entre os franceses.
O filósofo espírita francês Léon Denis
foi um grande admirador dessa formidável heroína.
Joana d’Arc, Médium é uma de suas obras mais
eloqüentes. Nela, o Druida de Lorena analisa a vida e o martírio
dessa excepcional médium, segundo os princípios
espíritas. “Joana d’Arc era, pois, um intermediário
de dois mundos, um médium poderoso. Por isso foi martirizada,
queimada. Tal, em regra, a sorte dos enviados do Alto”.
(16)
Até hoje, os fenômenos de vidência, audiência,
premonição e clarividência que faziam parte
da vida de Joana, desde a pré-adolescência, não
são aceitos pelos historiadores. Muito menos a decisiva
intervenção dos Espíritos naquela delicada
fase da história humana, pois tais acontecimentos contribuíram
para que surgisse um contexto propício à vindoura
Revolução Francesa, em 1789. (17)
Em uma reunião anual da Academia Americana de Neurologia,
realizada em 1990, as pesquisadoras Lydia Bayne e Elizabeth Foote-Smith,
da Universidade da Califórnia, em São Francisco,
concluíram que a inspiração, as vozes e as
visões de Joana eram na verdade uma forma rara de epilepsia.
Segundo essas perspicazes cientistas, o ataque epiléptico
ao invés de se dar por meio de convulsões, manifesta-se
na forma de delírios, de alucinações. Joana
sofria então de Apoplexia Parcial Complexa. (18)
Cabe lembrar que o médium Francisco Cândido Xavier
também foi considerado um epilético por neurologistas
e parapsicólogos de batina.
O fato é que essa humilde camponesa, influenciada por vozes
e visões, comandou exércitos na Idade Média,
numa época em que ser mulher e, ainda mais, guerreira,
não era algo comum e muito bem aceito pela sociedade da
época, tanto que foi queimada como bruxa. Somente em 1455
a corte eclesiástica reverteu o processo inquisitorial
que a incriminou. De mulher-demônio, tornou-se santa, canonizada
somente em 1909 pela mesma igreja que a queimou em praça
pública. O caso Joana d’Arc até hoje intriga
os historiadores. Nenhuma das diversas correntes da História
deu conta dessa questão.
Allan Kardec também, como Denis, se interessou por Joana
d’Arc. Chegou a comentar na Revista Espírita (1858)
uma polêmica obra psicografada pela médium Ermance
Dufaux, intitulada A Vida de Joana d’Arc (Ditada
por Ela Mesma) (19).
A médium, que foi colaboradora do fundador do Espiritismo,
recebeu a densa obra, repleta de informações históricas,
com apenas 14 anos. “Sabemos que os incrédulos farão
sempre mil e uma objeções; mas para nós,
que vimos a médium operar, a origem do livro não
pode ser posta em dúvida”, (20)
afirmou Kardec a respeito do interessante livro, lançado
em 1858.
RELEITURA DA HISTÓRIA
Mesmo com todas as dificuldades de comprovação do
fenômeno mediúnico, a ação dos Espíritos
no processo histórico é um componente fundamental
para o entendimento de determinados fatos. A partir do conceito
de mediunidade social é possível fazer uma releitura
da história, amparada não somente na análise
da fenomenologia mediúnica, como também em informações
advindas dos Espíritos, segundo uma metodologia adequada,
conforme os mesmos parâmetros que nortearam Allan Kardec
em seus estudos sobre a mediunidade.
Segundo Léon Denis, a intervenção dos Espíritos
ocorre de tempos em tempos na vida dos povos, “como nos
tempos de Joana d’Arc. As mais das vezes, porém,
a ação que exercem permanece obscura, primeiro para
salvaguarda da liberdade humana, e, sobretudo, porque, se é
indubitável que elas desejam ser conhecidas, não
menos certo é quererem que o homem se esforce e se faça
apto a conhecê-las.”
E prossegue o filósofo: “Os grandes fatos da História,
devidos à intervenção delas, são comparáveis
às aberturas que se produzem de súbito entre as
nuvens, quando o tempo está sombrio, para nos mostrarem
o céu profundo, luminoso, infinito, claros esses que, entretanto,
logo se cerram, porque o homem ainda não se acha bastante
maduro para apanhar e compreender os mistérios da vida
superior.” (21)
Afirma Manuel S. Porteiro que “desde os
séculos mais antigos, os mortos têm chamado a atenção
dos vivos e já era hora de a ciência dar-se por advertida.
Por absurdos ou inverossímeis que pareçam os fenômenos
espíritas, não deixam, no entanto, de serem certos
e naturais como toda outra manifestação da Natureza
e do Espírito que a anima.” “O demônio
de Sócrates, a diva de Plotino, a ninfa de Numa, deixaram
de ser personagens mitológicos para converterem-se, à
luz do Espiritismo, em gênios protetores ou em espíritos
vinculados à vida de certos homens, por afetos ou outras
diversas razões, capazes, em certos casos, de ser vistos
e ainda fotografados, como a Katie King de William Crookes, a
Estela de Livermore, a Yolanda de Elisabeth D'Espérance,
o Joey de Alexandre Aksakof e o Vicente do dr. Imoda.” (22)
Há uma infinidade de situações provocadas
pelos Espíritos que ainda não foram devidamente
analisadas pela historiografia oficial. A epopéia do Êxodo,
com a libertação do povo judeu por Moisés,
sob a inspiração e ação extrafísica
de Jeová, o espírito familiar protetor dos hebreus,
adotado pelo cristianismo como um Deus universal — o “Senhor
dos Exércitos”, que fulminou Sodoma e Gomorra e eventualmente
enviava anjos (Espíritos) aos patriarcas, como aquele que
lutou corporalmente com Jacó e o que ajudou Tobias a curar
seu pai da cegueira, até o evento mediúnico do Pentecostes,
um marco na propagação do cristianismo, registrado
no Atos dos Apóstolos.
A ação de Krishna e de Espíritos nas tradições
descritas no MahaBarata; na cultura céltica, cujos guerreiros
eram respeitados pela sua coragem, pela sua fúria. Eles
não temiam a morte (os celtas eram reencarnacionistas)
e contavam com o auxílio dos guerreiros celtas desencarnados,
evocados pelo druida, um mago, poderoso médium iniciado
nos mistérios dos fenômenos da natureza.
A Cabana do Pai Tomás, célebre obra escrita pela
norte-americana Harriet Beecher Stowe, em 1852, foi uma contundente
denúncia da escravatura e serviu como fonte de inspiração
para o abolicionismo norte-americano, que culminou com a Guerra
da Secessão. Essa obra, um dos grandes clássicos
da literatura mundial, foi considerada pelo grande escritor russo
Leon Tolstoi como “uma das grandes produções
da mente humana”. Pelos relatos da escritora, a obra foi
obtida em transe mediúnico, nos moldes semelhantes às
obras recebidas pelo médium Chico Xavier. (23)
Alguns anos depois o célebre presidente dos Estados Unidos,
Abraão Lincoln, realizaria sessões mediúnicas
na Casa Branca, fato esse que até hoje não foi devidamente
esclarecido. (24)
Não poderia ficar de fora o que Arthur Conan Doyle
chamou de “invasão organizada”. Num espaço
de dez anos (de 1848 a 1858) ocorreu uma ação intensa
dos Espíritos por meio de fenômenos de poltergeist,
raps, materializações etc., em todo o mundo, notadamente
na Europa e América do Norte. A América Latina também
não passou incólume. No Brasil, principalmente no
Ceará, a imprensa registrou o que se convencionou chamar
de mesas girantes. De 31 de março de 1848, quando se iniciaram
os célebres fenômenos de Hydesville com as irmãs
Fox, nos Estados Unidos, até a fundação da
Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em 1858, o mundo
foi invadido pela ação dos Espíritos, em
um processo antecipado pelas revelações pessoais
do profeta e clarividente sueco Emmanuel Swedenborg, pelo sensitivo
escocês Edward Irving e os poderes psíquicos do norte-americano
Andrew Jackson Davis.
Enfim, muitos são os fatos históricos a espera de
uma releitura à luz do conceito de mediunidade social e
dos princípios espíritas. A evolução
do ser humano, da sociedade e da história passa necessariamente
pela interação entre o físico e o extrafísico,
através do fenômeno mediúnico e do fenômeno
palingenésico.
Notas
(1) KARDEC, Allan, O Que é o Espiritismo,
preâmbulo in Iniciação Espírita, Edicel,
5ª edição, 1979, trad. Joaquim da Silva Sampaio Lobo
– São Paulo-SP .
(2) KARDEC, Allan, O Livro dos Médiuns, cap. XIV, item 159, pg.
203, FEB, 62ª edição, 1986, trad. J. Herculano Pires
– Rio de Janeiro-RJ.
(3) KARDEC, Allan, O Livro dos Espíritos, 1ª parte, cap.
II, q. 27, FEB, 76ª edição, 1995, trad. Guillon Ribeiro
– Rio de Janeiro-RJ.
(4) KARDEC, Allan, Obras Póstumas, 1ª parte, III. A Criação,
§ 7º Da Obsessão e da Possessão, pág.
45, Edicel, 2ª edição, 1979, trad. Sylvia Mele Pereira
da Silva – São Paulo-SP.
Dentro desse critério, podemos considerar o nazismo como um movimento
de histeria coletiva, uma obsessão social.
(5) Humberto Mariotti (1905-1982), poeta, escritor, jornalista, conferencista
e intelectual espírita portenho. Foi presidente da Confederação
Espírita Argentina (em 1935/1937 e 1963/1967) e também
vice-presidente da Confederação Espírita Pan-Americana
(Cepa) em duas gestões. Escreveu, dentre outras obras: Dialéctica
y Metapsíquica; El Alma de los Animales a Luz de la Filosofia
Espírita; En Torno al Pensamiento Filosofico de J. Herculano
Pires; Victor Hugo, el Poeta del Más Allá; Los Ideais
Espíritas en la Sociedad Moderna.
(6) Essa obra, editada na Argentina em 1963, foi traduzida pelo filósofo
e jornalista J. Herculano Pires nos anos 60 com o nome O Homem e a Sociedade
Numa Nova Civilização (Edicel) e relançada com
o título original em 1983 pela mesma editora. Ela foi lançada
inicialmente no Brasil em plena ditadura militar, daí a mudança
estratégica do nome da obra, a fim de evitar problemas com a
censura e a repressão ideológica.
(7) Manuel S. Porteiro (1881-1936), pensador espírita argentino,
considerado o fundador da sociologia espírita. Foi presidente
da Confederação Espírita Argentina (1934-1935).
Escreveu os livros Espiritismo Dialectico (disponível gratuitamente
no site PENSE – Pensamento Social Espírita - www.viasantos.com/pense
em edição virtual e lançada no Brasil por iniciativa
do Centro Espírita José Barroso em 2002, com tradução
de José Rodrigues), Concepto Espirita de la Sociologia, Origen
de las Ideas Morales e Ama y Espera.
(8) MARIOTTI, Humberto, Parapsicologia e Materialismo Histórico,
2ª parte, cap. XIX, Edicel, 2ª edição, 1983,
trad. J. Herculano Pires – São Paulo-SP.
(9) Ver Obras Póstumas, Allan Kardec, 1ª parte, As
Aristocracias.
(10) MARIOTTI, Humberto, Parapsicologia e Materialismo Histórico,
2ª parte, cap. XIX, pág. 151.
(11) MARIOTTI, Humberto, Ibidem.
(12) DENIS, Léon, O Mundo Invisível e a Guerra, cap. II,
pág. 21, Ed. CELD, 1ª edição, 1995, trad.
José Jorge – Rio de Janeiro-RJ.
(13) DENIS, Léon, Ibidem.
(14) KARDEC, Allan, O Livro dos Espíritos, 2ª parte, cap.
IX.
(15) KARDEC, Allan, Ibidem.
(16) DENIS, Léon, Joana d’Arc Médium, cap. IV, pág.
67, 11ª edição, 1984, trad. Guillon Ribeiro, ed.
FEB.
(17) A Revolução Gloriosa, na Inglaterra e a Revolução
Norte-Americana também influenciaram decisivamente os ideólogos
da Revolução Francesa.
(18) Joana d’Arc Ganha Diagnóstico, in O Estado de S. Paulo,
3/5/1990.
(19) Essa obra foi lançada no Brasil pela Editora do Lar da Família
Universal (LFU) e pela DPL.
(20) KARDEC, Allan, Revista Espírita, 1858, pág. 30, trad.
Júlio Abreu Filho, Edicel.
(21) DENIS, Leon, Joana d’Arc Médium, cap. IV, págs.
64 e 65.
(22) PORTEIRO, Manuel S., Espiritismo Dialético, pág.
5, Ed. PENSE, trad. José Rodrigues. In www.viasantos.com/pense/livros
(23) MARIOTTI, Humberto, Victor Hugo, Espírita, item 15, Ed.
Correio Fraterno, 1ª edição, 1989, trad. Wilson Garcia,
São Bernardo do Campo-SP.
(24) MAYNARD, Nettie Colburn, Sessões Espíritas na Casa
Branca, 2ª edição, 1981, Ed. O Clarim, trad. Wallace
Leal V. Rodrigues, Matão-SP.
Eugenio Lara, arquiteto e
jornalista, é membro-fundador do Centro de Pesquisa
e Documentação Espírita (CPDoc), do Instituto
Cultural Kardecista de Santos (ICKS) e um dos coordenadores
do site Pense - Pensamento Social Espírita.
Fonte:
http://viasantos.com/pense/arquivo/1126.html
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