Imagem de Claudio Gianfardoni
- produzida para Jornal de Umbanda Sagrada
- Capa de Novembro de 2005
Zélio Fernandino de Moraes, filho de Joaquim Fernandino Costa
e Leonor de Moraes, homem de fé e muito dedicado à
família, casou-se cedo, aos dezoito anos, com Dona Isabel,
tendo três filhos, Zélio, Zélia e Zilméia
Já foi um ilustre desconhecido aos umbandistas,
sua história foi contada, recontada e contestada por muitos.
Hoje, Zélio de Moraes é quase um mito dentro
da religião. O Pai da Umbanda* teve sua história popularizada
por Ronaldo Linares e recentemente encontrou em Rubens Saraceni
mais um divulgador que contagia milhares de pessoas.
A comemoração do centenário da Umbanda é
unanimidade nacional, fundamentada na história do Zélio,
como marco Zero e pedra fundamental para a religião. Não
pretendo nestas linhas repetir os fatos do dia 15 de Novembro de
2008, espero antes que todos já os conheçam. Relato
aqui, apenas, alguns dos fenômenos impressionantes da vida
mediúnica de Zélio, que justificam tamanha adoração
e encanto que ele exercia nas pessoas.
A postura como ser humano, já era algo impressionante, costumava,
por exemplo, recolher necessitados e doentes em sua casa até
que se restabelecessem. Ouvi de Mãe Zilméia, filha
carnal de Zélio, e li em alguns artigos a história
de que Zélio e o Caboclo das Sete Encruzilhadas teriam ressuscitado
uma jovem dada como morta, no entanto desconhecia os detalhes do
fato. Este ano me chegou às mãos, através de
Diamantino Trindade*, o livro No Mundo dos Espíritos, 1925,
de autoria de Leal de Souza (primeiro autor umbandista), onde esta
história aparece narrada pelo Sr. J. P. Brigadão:
Há poucos dias, na vizinha
cidade de Niterói, uma linda moça na flor da idade,
cheia de sonhos azuis e ilusões douradas, adoeceu de enfermidade
misteriosa. Foram chamados bons médicos e a enferma não
melhorou. Antes, piorou. Novos doutores foram consultados, porém
a donzela, agravando-se rapidamente o seu estado foi julgada sem
salvação possível. Em desespero, seu pai,
um comerciante abastadíssimo, ouviu os conselhos de um
amigo e solicitou os socorros ao Centro Espírita Nossa
Senhora da Piedade, onde se manifestam espíritos de caboclos,
mas, acabara de pedir tais auxílios, quando recebeu a notícia
do desenlace fatal: sua filha falecera às 5 horas da tarde.
Voltou o pai em pranto para o lar abalado. Veio um médico,
examinou a moça e lavrou o atestado de óbito. Lavou-se
e vestiu-se o corpo. Foi colocado, sob flores, na mesa mortuária,
entre velas bruxuleantes. Um sacerdote fez a encomendação.
Às 8 horas da noite, ao iniciar a sua sessão, o
Centro Espírita Nossa Senhora da Piedade, não tendo
sido avisado do falecimento, fez uma prece pela saúde da
moça já morta. Manifestando-se o espírito
do guia e protetor do centro (Caboclo das Sete Encruzilhadas),
disse: “Um grave perigo ameaça a pessoa por quem
orais. Continuai vossas preces com fervor e sem interrupção,
até que eu volte, pois vou sair para socorrê-la”.
Os espíritas do Centro Nossa Senhora da Piedade, orando
com fervor, esperaram cerca de duas horas, e, ao termo delas,
manifestando-se de novo, o espírito de seu guia e disse-lhes:
“Está salva a moça”. Espíritos
maus, convocados por motivo de ordem pessoal, haviam envolvido
a jovem em fluídos venenosos, que a estavam matando. Não
se quebraria, porém o fio que liga o espírito ao
corpo.
Às 8 horas da noite, terminou
o narrador, a moça continuava na mesa funerária,
com todos os sinais da morte. Às 9 horas, uma demonstração
de vida animou-lhe a face e, percebendo-a, seu padrinho preveniu
seu pai. Retirada a câmara mortuária e reposta em
seu leito, a moça reabriu os olhos, e, momentos após,
erguia-se curada, completamente boa. Os espíritos dos caboclos,
em combate travado no espaço, tinham vencido os espíritos
maus...
Talvez este seja o caso mais impressionante;em
direção à Tenda Espírita Nossa Senhora
da Piedade, acorriam enfermos, cegos e até paralíticos
que encontravam ali, muitas vezes a cura. O que é enfatizado
(a cura) no ponto de Pai Antônio:
“Dá licença,
Pai Antônio,
Eu não venho visitar,
Eu estou bastante doente,
Venho para me curar.”
Uma das especialidades de Zélio
e do Caboclo das Sete Encruzilhadas era a cura de "loucos".
Devido ao alto índice de acerto, médicos de sanatórios
consultavam Zélio para saber quais doentes teriam a cura
na Umbanda.
A policia quando prendia alguém
descontrolado levava ao Zélio para saber se era louco ou
obsediado, conta Mãe Zilméia que não tinha
hora, as vezes duas ou três da manhã, batiam a porta
de seu pai, lembra ainda de certa ocasião em que acomodaram
três pessoas desequilibradas em sua casa de uma só
vez; “um queria tomar banho o tempo todo e outro não
queria de jeito nenhum”.
No Mundo dos Espíritos,
Leal de Souza registra, em reportagem, sua primeira visita aos trabalhos
de Zélio, como jornalista, onde mesmo sem ser anunciado e
desconhecido de todos os presentes, foi reconhecido pelo Caboclo
das Sete Encruzilhadas, que se dirigiu a ele, conforme o relato:
Pode dizer que apertou a mão
de um espírito. À minha esquerda, está uma
irmã que entrou aqui com tuberculose e à minha direita
um irmão vindo do hospício. Curou-os, aos dois,
Nossa Senhora da Piedade. Pode ouvi-los.
Leal de Souza neste dia presenciou
a cura de um “louco fugido do hospício”, que
encontrava-se obsediado por duas entidades, após serem encaminhadas
restabeleceu-se a saúde mental do cidadão.
Leal de Souza era um intelectual da época, jornalista e poeta
parnasiano, tornou-se médium na Tenda Espirita Nossa Senhora
da Piedade e foi preparado para dirigir a Tenda Espírita
Nossa Senhora da Conceição, uma das Sete Tendas fundadas
pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas.
João Severino Ramos, dirigente da Tenda São Jorge,
mais uma das tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas,
ao fazer sua primeira visita a Zélio em Cachoeiras de Macacu,
se mostrava cético e incrédulo, pedindo provas para
crer.
O Orixá Malet (da vibração de Ogun) pegou uma
pedra à beira do rio e acertou bem no meio da testa de Severino
que caiu dentro das águas. A entidade proibiu os amigos de
socorre-lo e pediu que esperassem, minutos depois Severino atravessou
as margens do Rio Macacu já incorporado de Ogun Timbiri,
com quem trabalharia à gente da tenda citada.
José Álvares Pessoa, o Capitão Pessoa, de origem
espírita, resolveu visitar a TENSP, para verificar de perto
“as maravilhas” que afirmavam sobre Zélio de
Moraes. Assim que pisou dentro da Tenda, o Caboclo das Sete Encruzilhadas
anunciou que já poderiam fundar a ultima das sete tendas,
a Tenda São Jerônimo, pois o seu dirigente acabava
de chegar. Capitão Pessoa se surpreendeu com tal afirmação
por não conhecer ninguém no ambiente, mas ao conversar
com o Caboclo entendeu que este o conhecia e muito bem. O tempo
mostrou a importância de José Álvares Pessoa
na Umbanda ao lado de Zélio de Moraes e à frente da
Tenda a ele reservada.
Conta ainda Mãe Zilméia que o delegado de Neves, Sr
Paula Pinto, vinha fechando as Tendas de Umbanda e um dia chegou
à porta da TENSP, na hora dos trabalhos onde estava em terra
Pai Antônio. Mãe Zilméia foi avisar ao preto-velho,
que falou: “carneirinho (como chamava Zilméia) deixa
ele entrar”.
O homem “que era gordo e grande”, deu dois passos e
caiu estirado no chão. Mãe Zilméia diz ter
perguntado “O que fazer agora?”, o preto-velho, calmamente,
lhe pediu que esperasse, logo o homem se levantaria.
Passado algum tempo o delegado “acordou”, foi conversar
com Pai Antônio, se tornou amigo de Zélio de Moraes
e freqüentador da casa.
Evaldo Pina médium da Tenda Mirim Santo Expedito, fundada
no Pará pelo Tenente Joaquim Bentes, mais tarde pertencente
à TULEF, em visita à Zélio ouviu dele a “descrição
da fundação da casa, em todos os pormenores, como
se o fato data-se de semanas, apenas. E através de Zélio
recebeu uma mensagem do dirigente, já desencarnado, citando
fatos conhecidos apenas pelos dois”.
E para finalizar faço lembrar os fatos narrados por Pai Ronaldo
Linares sobre seu encontro com Zélio de Moraes.
Quando finalmente conseguiu o telefone da residência da família
Moraes, Pai Ronaldo, um desconhecido àquela família,
fez a ligação e foi atendido por Zilméia, que
comunicou sem tapar o bocal do telefone, dizendo Papai é
para você.
Pai Ronaldo, que sempre se emociona ao contar esta história,
nos diz que ouviu uma voz no fundo dizer :
“É Ronaldo minha filha, o homem que vai tornar meu
trabalho conhecido”.
Ao chegar na casa de Zélio, Pai Ronaldo mais uma vez tomado
de forte emoção se ajoelhou e tomou a benção,
Zélio de Moraes já sabia por que ele estava ali e
todas as coisas que ele queria saber.
As palavras proféticas de Zélio se cumpriram, Pai
Ronaldo Linares, então presidente da Federação
Umbandista do Grande ABC e responsável pelo Santuário
Nacional da Umbanda, criou o primeiro curso de Sacerdotes na Religião
de Umbanda, da onde brotou grande divulgação da mensagem
do Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Pai Ronaldo Linares viria a participar em programas de Rádio
e TV, além de Jornais, divulgando a Umbanda e a história
de Zélio de Moraes.
Homenageou Zélio em vida, junto com sua turma de sacerdotes,
o que foi registrado por Jota Alves de Oloveira em sua obra Umbanda
Cristã e Brasileira:
Ouvimos, de Zélio e Zilméia,
a descrição do que foi a grande concentração
promovida pela Federação Umbandista do Grande ABC,
de Santo André, Estado de São Paulo, em homenagem
a Zélio... aquela Federação, presidida por
Ronaldo Linares, visa uniformizar o culto dos templos umbandistas,
excluindo gradativamente do ritual os preceitos já superados,
a fim de atingir, na prática, o conceito definido pelo
Caboclo: Umbanda é a manifestação do Espírito
para a caridade.
Existem muitas histórias
sobre o “Pai da Umbanda”... No entanto a maioria delas
é desconhecida no meio umbandista. Este é o nosso
objetivo, resgatar os textos que nos revelam quem foi, o que fez
e como viveu Zélio Fernandino de Moraes, ampliando a abordagem
para sua prática mediúnica e a mensagem que foi dada
pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas ao longo dos anos.
Saudações Umbandistas,
Alexandre Cumino.
Observações:
Pai da Umbanda - Forma Carinhosa
como Pai Ronaldo Linares se refere ao Zélio de Moraes
Diamantino Trindade - Autor do livro
Iniciação à Umbanda juntamente com Ronaldo
Linares e Wagner Veneziane, Ed. Madras (Autor também dos
titulos: História da Umbanda, Ensaio Sobre Ecletismo e Umbanda
Brasileira), Sacerdote de Umbanda, já foi vice presidente
da FUGABC ao lado de Ronaldo Linares.
