Para ser considerada como uma
“Revelação”,
num sentido religioso, uma doutrina deve responder as perguntas
interiores de ordem moral; quando esta doutrina almeja ser um
pouco mais completa, ela deve também suprir as necessidades
existenciais dos seus seguidores, contendo em seu corpo doutrinário
explicações de ordem filosófica. A Doutrina
Espírita, trazida como a “Terceira Revelação”,
a primeira foi trazida na pessoa de Moisés e a segunda
foi trazida na pessoa do próprio Jesus, engloba o caráter
religioso, filosófico e também o caráter
científico, de forma a apresentar explicações
para os fenômenos considerados sobrenaturais, mostrando
que tais fenômenos são tão naturais quanto
quaisquer outros.
No livro A Gênese [1],
Kardec aborda uma larga gama do conhecimento científico
da época mas, mais importante do que analisar este conhecimento,
que por si só é transitório e que se encontra
em constante modificação devido aos avanços
científicos e tecnológicos, neste livro, Kardec
nos ensina a pensar de forma lógica, analisando tudo que
nos é apresentado como ciência.
Devemos aprender a discernir entre estudo científico e
verdade absoluta. A ciência segue um processo progressista,
onde o aprendizado ocorre de forma gradual mas com possibilidades
de desvios do correto. A verdade absoluta somente a Deus pertence;
o homem, por mais inteligente, é passível de erros.
Os avanços realizados pela ciência devem ser considerados
como tal e, na medida do possível, ser utilizados, como
estudo, para a compreensão dos fenômenos espirituais.
Não se deseja aqui apresentar uma explicação
definitiva para a ocorrência de doenças, no caso
particular, o câncer. Baseado no ensinamento trazido por
Kardec, este trabalho visa apenas a analisar as novas descobertas
da área e, justamente, com o que se encontra na literatura
Espírita, formular uma hipótese, deixando claro
que, uma outra pessoa também com algum conhecimento de
tanto da área médica quanto do Espiritismo, poderia
chegar a conclusões diversas.
De acordo com o que foi publicado [2],
a última descoberta sobre a formação do câncer
é o que se denominou de “oncogenes”.
O prefixo “onco” é relativo
a tumor e a palavra “gene” é
o nome dado a cada unidade funcional do ácido desoxirribonucléico,
mais conhecido como DNA, então, “oncogenes”
se refere a genes causadores de tumor. A tese dos oncogenes defende
que a origem do câncer é um defeito minúsculo
que altera apenas a bilionésima parte do DNA de alguns
genes especiais, os oncogenes.
As células do corpo estão em constante processo
de reprodução, todavia, esta reprodução
não ocorre de forma aleatória e desordenada, as
células somente se reproduzem quando o meio em que elas
se encontrem esteja em condições de receber a nova
célula, vale ressaltar que as células do corpo são
completamente renovadas em intervalos regulares. Quanto as células
nervosas, acreditava-se que não se renovavam mas, atualmente,
já foi observado,em algumas estruturas, que podem se regenerar
muito limitadamente.
Algumas destas células contudo, podem sofrer uma mutação
no código genético, isto é, genes podem ser
alterados e vários são os fatores que influenciam
nestas alterações, cigarro, bebida alcoólica,
fumaça, corantes, compostos orgânicos, etc.; se a
alteração ocorrer em um dos oncogenes, cerca de
50 entre os 50000 genes que existem em uma célula somente,
poderia desencadear o aparecimento do tumor.
Poderia-se então pensar que todos estão expostos
a muitas das substâncias cancerígenas, como não
ocorre o desenvolvimento do tumor em todas as pessoas? Apesar
de um quadro tão desolador quanto foi exposto, a própria
célula possui meios de reparar estes danos, são
os “genes supressores de tumor”; quando a
mutação é detectada, estes genes agem de
forma a bloquear a ação do gene mutante. Para que
realmente ocorra o aparecimento do tumor, é preciso que
a célula que já sofreu mutação e que
foi bloqueada, sofra nova mutação de forma a desativar
o gene supressor.
Todas as células do corpo não agem de forma isolada,
elas devem respeitar as “regras”
da boa convivência, é como se existisse um código
de conduta celular, enquanto este código é obedecido,
todo o organismo funciona de forma satisfatória, com cada
órgão cumprindo o seu papel. A célula que
sofreu a dupla mutação passa a agir livremente,
não mais respeitando o “código”,
se multiplica livremente de forma desordenada, agressiva e o tumor
cresce. Estas células modificadas podem sofrer modificações
em genes que possuem funções diversas, quando atinge
os genes que estimulam o crescimento de vasos sanguíneos
na direção da célula, as mutantes alcançam
a corrente sanguínea, migrando para outras partes do corpo,
tem início o que é chamado de metástase,
e o tumor disseminou-se.
Para se tentar compreender como ocorre a organização
das células é preciso remontar à estrutura
do perispírito, consultando a obra Evolução
em Dois Mundos [3]
de André Luz:
- Na pg. 27 diz que o corpo físico
reflete o corpo espiritual que por sua vez reflete o corpo mental,
detentor da forma. Em outras palavras, o Espírito elabora
lentamente, através das inúmeras experiências,
desde o início da sua existência, na condição
de simples e ignorante, a sua forma, guardando todo o acervo no
corpo mental e este, por sua vez, é o agente que transferirá
toda a informação necessária para a formação
do corpo espiritual, informação esta que é
completa em seus mínimos detalhes de conformação.
Com o corpo espiritual já conformado, servirá de
molde para a matéria densa.
- Nos capítulos IV e V tem-se que durante o transcurso
das suas existências, o Espírito “aprende”
a dominar as células vivas, que são animálculos
infinitesimais que nada mais são do que princípios
inteligentes de feição ainda muito rudimentar que,
quando sob o comando de princípios inteligentes em estágios
superiores de evolução, servem de modo organizado
na grande estrutura orgânica que é o corpo físico.
Analisando o que foi exposto, pergunta-se: Qual seria o comportamento
de uma célula quando é retirado de um organismo
vivo e colocada em um meio capaz de lhe manter a vida, um meio
de cultura?
Uma célula do fígado se comporta de forma a cumprir
com as funções de um fígado e, quando se
reproduz, forma novas células de fígado. Esta mesma
célula quando retirada do fígado e colocada em um
meio de cultura, ela não mais atuará como uma célula
de fígado, a reprodução será de forma
desordenada, formando células sem função
definida, ao final, não se terá o órgão
mas apenas um aglomerado disforme de células. É
fácil de se perceber que alguma coisa mudou para aquela
célula que foi isolada, não recebe mais os comandos
necessários para se comportar como uma célula de
fígado.
As células, funcionando como máquinas diminutas
compondo uma máquina muito maior, recebem a informação
necessária para se especializarem, do Espírito encarnado,
através dos centros vitais. Como diz André Luiz,
no livro Evolução em Dois Mundos
[3], pg. 30, “São
os centros vitais fulcros energéticos que, sob a direção
automática da alma, imprimem as células a especialização
extrema, pela qual o homem possui no corpo denso...”; e,
na mesma página diz o seguinte: “Essas células
que obedecem às ordens do espírito, diferenciando-se
e adaptando-se às condições por ele criadas,
procedem do elemento primitivo, comum, de que todos provimos em
laboriosa marcha no decurso dos milênios...”
É através do centro
coronário que o Espírito controla a forma organizada,
embutindo em cada célula a especialidade que necessita
para cumprir com a função que lhe é esperada.
Joanna de Ângelis, no livro O Ser Consciente,
coloca com extrema clareza que as patologias estão diretamente
relacionadas com o estado mental do Espírito ao dizer:
“Sendo, a criatura humana, constituída pela energia
que o espírito envia a todos os departamentos materiais
e equipamentos nervosos, qualquer distonia que a perturbe abre
campo para a irrupção de doenças, a manifestação
de distúrbios, que levam aos vários desconcertos
patológicos, conhecidos como enfermidades.”
[4]
Ainda no livro acima mencionado, Joanna de Ângelis lista
vários dos fatores que causam o desequilíbrio neste
fluxo de energia, ou seja, sentimentos comuns a tantos de nós,
no nível evolutivo comum das criaturas viventes neste mundo
de expiação e provas. Dentre os exemplos, encontra-se:
o amor, não o amor sublime mas aquele amor desenfreado,
possessivo em que os participantes se entregam aos desejos, é
apresentado como “grande demolidor das estruturas celulares”;
a angústia é apresentada como “semelhante
a densa carga tóxica que se aspira lentamente”;
o rancor é apresentado como produtor de ácidos destruidores
“que consomem a energia vital e abrem espaços
intercelulares para a distonia e a instalação de
doenças”; e finalmente, o ódio é
apresentado como “tóxico fulminante no oxigênio
da saúde mental e física” e seu poder
tóxico é explicado como “Agentes poluidores
e responsáveis por distúrbios emocionais de grande
porte, são eles os geradores de perturbações
dos aparelhos respiratório, digestivo, circulatório.
Responsáveis por cânceres físicos, são
as matrizes das desordens mentais e sociais que abalam a vida
e o mundo”, grifos nossos.
De tudo o que foi exposto poder-se-ia, talvez, dizer que, devido
às transgressões que todos cometem durante suas
várias existências, o corpo mental, seguindo a lei
de causa e efeito, imprime ao corpo espiritual certos..., que
por falta de terminologia mais adequada, poder-se-ia chamar de
“pontos obscuros”; em determinado
momento da vida, esses pontos eclodem, dificultando a comunicação
entre o Espírito e as células propiciando, assim,
uma degeneração comportamental da célula.
Dependendo do grau de gravidade destes pontos obscuros, dependerá
também o grau de gravidade da degeneração.
É necessário ter em mente que um determinismo absoluto
não existe, a encarnação é concedida
para o aprimoramento do Espírito, tendo este a oportunidade
da reparação das transgressões cometidas,
o processo é dinâmico podendo-se, em uma única
encarnação apenas, minorar ou agravar a situação
em que se encontre.