Lúcidas e coerentes, como
sempre, estas palavras de Emmanuel foram dirigidas ao médium
Francisco C. Xavier, quando aquele pretendia utilizar-se dos recursos
mediúnicos deste para o trabalho de divulgação
da Doutrina dos Espíritos.
O caminho seguido pelas informações dos Espíritos
passou primeiro por dois poderosos filtros chamados Jesus e Kardec,
sendo enfeixados em síntese em "O Livro dos
Espíritos" e ampliados depois nos livros: "A
Gênese", "O Livro dos Médiuns",
"O Evangelho Segundo o Espiritismo" e
"O Céu e o Inferno", que constituem
o Pentateuco, indivisível bloco monolítico.
Assim, todo livro subsidiário não poderá deslocar-se
da órbita desses livros que são a base do Espiritismo.
Destarte, quem deseja escrever ou falar sobre Espiritismo, tem necessariamente
que se balizar pelos parâmetros básicos, sob pena de
caracterizar conteúdos apócrifos pela não observância
de tais critérios.
Espíritas amai-vos; Espíritas instruí-vos;
é a sempre oportuna conclamação do Espírito
de Verdade.
Instruamo-nos, portanto, principalmente nas fontes básicas,
o que nos ensejará maiores condições de avaliar
e separar o joio do trigo.
No livro "A Gênese", Capítulo
I, item 52, Kardec faz notar que "em parte alguma, o ensino
Espírita foi dado integralmente. Ele diz respeito a tão
grande número de observações, a assuntos tão
diferentes, exigindo conhecimentos e aptidões mediúnicas,
que impossível era acharem-se reunidas num mesmo ponto todas
as condições necessárias. Tendo o ensino que
ser coletivo e não individual, os Espíritos dividiram
o trabalho, disseminando os assuntos de estudo e observação
como, em algumas fábricas, a confecção de cada
parte de um mesmo objeto é repartida por diversos operários.
A revelação fez-se, assim, parcialmente em diversos
lugares e por uma multidão de intermediários e é
dessa maneira que prossegue ainda, pois nem tudo foi revelado. Cada
centro encontra nos outros centros o complemento do que obtém,
e foi o conjunto, a coordenação de todos os ensinos
parciais que constituíram o Espiritismo.
Era, pois, necessário grupar os fatos espalhados, para se
lhes apreender a correlação, reunir os documentos
diversos, as instruções dadas pelos Espíritos
sobre todos os pontos e sobre todos os assuntos, para as comparar,
analisar, estudar-lhes as analogias e as diferenças. Vindo
as comunicações de Espíritos de todas as partes,
de todas as ordens, mais ou menos esclarecidos, era preciso apreciar
o grau de confiança que a razão permita conceder-lhes,
distinguir as idéias sistemáticas individuais ou isoladas
das que tinham a sanção do ensino geral dos Espíritos,
as utopias das idéias práticas, afastar as que eram
notoriamente desmentidas pelos dados da ciência positiva e
da lógica, utilizar igualmente os erros, as informações
fornecidas pelos Espíritos, mesmo os da mais baixa categoria,
para conhecimento de estado do mundo invisível e formar com
isso um todo homogêneo.
Era preciso, numa palavra, um centro de elaboração,
independente de qualquer idéia preconcebida, de todo prejuízo
de seita, resolvido a aceitar a verdade tornada evidente, embora
contrária às opiniões pessoais. Este centro
se formou por si mesmo, pela força das coisas e sem desígnio
premeditado."
O Espiritismo estará preservado
dos cismas?
"Não, certamente,"
- responde Kardec no livro "Obras Póstumas" no
capítulo referente à constituição do
Espiritismo - "porque terá, sobretudo no começo,
de lutar contra as idéias pessoais, sempre absolutas, tenazes,
refratárias a se amalgamarem com as idéias dos demais;
e contra a ambição dos que, a despeito de tudo, se
empenham por ligar seus nomes a uma inovação qualquer;
- dos que criam novidades só para poderem dizer que não
pensam e agem como os outros, pois lhes sofre o amor-próprio
por ocuparem uma posição secundária.
Se, porém, o Espiritismo não
puder escapar às fraquezas humanas com as quais se tem de
contar sempre, pode, todavia, neutralizar-lhes as conseqüências
e isso é essencial.
Conseqüentemente,
seitas poderão formar-se ao lado da Doutrina, seitas que
não lhe adotem os princípios ou todos os princípios,
porém, não dentro da Doutrina, por efeito da interpretação
dos textos, como tantas se formaram sobre o sentido das próprias
palavras do Evangelho. É esse um primeiro ponto de capital
importância.
O segundo ponto está em não se sair do âmbito
das idéias práticas. Se é certo que a utopia
da véspera se torna - muitas vezes - a verdade do dia seguinte,
deixemos que o dia seguinte realize a utopia da véspera,
porém, não atravanquemos a Doutrina de princípios
que possam ser considerados quiméricos e fazer que a repilam
os homens positivos.
O terceiro ponto, enfim, é inerente ao caráter essencialmente
progressivo da Doutrina. Pelo fato de ela não se embalar
com sonhos irrealizáveis, não se segue que se imobilize
no presente. Apoiada tão-só nas Leis da Natureza,
não pode variar mais do que estas leis; mas, se uma nova
lei for descoberta, tem ela de se por de acordo com essa lei. Não
lhe cabe fechar a porta a nenhum progresso, sob pena de se suicidar.
Assimilando todas as idéias reconhecidamente justas, de qualquer
ordem que sejam, físicas ou metafísicas, ela jamais
será ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias
da sua perpetuidade.
Acrescentamos que a tolerância, fruto da caridade, que
constitui a base da Doutrina Espírita, lhe impõe como
um dever respeitar todas as crenças. Querendo ser aceita
livremente, por convicção e não por constrangimento,
proclamando a liberdade de consciência um direito natural
imprescritível, diz: Se tenho razão, todos acabarão
por pensar como eu; se estou em erro, acabarei por pensar como os
outros.
Em virtude destes princípios, não atirando pedras
a ninguém, ela nenhum pretexto dará para represálias
e deixará aos dissidentes toda a responsabilidade de suas
palavras e seus atos."
É ainda Kardec, neste mesmo capítulo que nos alerta:
"(...) Não
faltarão intrigantes, pseudo-espíritas, que queiram
elevar-se por orgulho, ambição ou cupidez; outros
que estadeiem pretensas revelações com o auxílio
das quais procurem salientar-se e fascinar as imaginações
por demais crédulas. É também de prever que,
sob falsas aparências, indivíduos haja que tentem apoderar-se
do leme, com a idéia preconcebida de fazerem soçobrar
o navio, desviando-o de sua rota. O navio não soçobrará,
mas poderia sofrer prejuízos como atrasos que se devem evitar."
Acreditamos nada ter a acrescentar às palavras de Kardec,
por demais claras e judiciosas. Por elas concluímos que verdadeiro
Espírita será também aquele que guardar fidelidade
à Codificação Kardequiana.