As penas na Bíblia são
eternas (indefinidas). Mas, com o tempo, os teólogos e
exegetas mudaram a significação desse adjetivo para
o de “sempiternas” (sem fim). E esse é um dos
maiores erros de interpretação da Bíblia,
pois é responsável pela origem de uma teologia às
avessas, ou seja, com a ideia absurda de um Deus antropomórfico,
imperfeito, vingativo e injusto.
A hermenêutica é uma ciência que nos ensina
que, ao interpretarmos um texto antigo, temos que nos ater ao
significado das palavras no tempo da sua escrita. A palavra do
hebraico “ôlam” (de longa duração),
no Velho Testamento, foi traduzida por eterno (tempo indefinido).
E deriva-se da raiz do verbo hebraico “âlam”
(ocultar). Esse vocábulo hebraico “ôlam”
traduzido por eterno não significa, pois, “para sempre”,
mas “longo e oculto”. Logo, em português, eterno
com o substantivo tempo deveria trazer também a ideia de
tempo longo, oculto, indeterminado, indefinido. Mas eterno acabou
tomando o sentido de “para sempre”, sem fim.
Vamos agora aos originais gregos do Novo Testamento. “Aêon”
e “aionios” junto de tempo têm também
o sentido de indefinido, e não de “para sempre”.
Também no latim, que foi a língua para a qual houve
a primeira tradução dos originais da Bíblia
por são Jerônimo, a palavra “eternitas”
(eternidade) vem da palavra “aetas” (idade). Tanto
no grego, como no latim, se o sentido dos textos bíblicos
fosse de tempo sem fim ou de “para sempre” para as
penas, as palavras a serem usadas deveriam ser: “aidios”
em grego e “sempiternus” em latim, o que não
aconteceu. Os enciclopedistas e iluministas franceses, no século
19, foram os primeiros a chamarem a atenção para
esse erro de interpretação da Bíblia.
E lembremo-nos aqui de que um dos mais graves erros dos teólogos
antigos e medievais eram os exageros! Daí que não
são estranhas essas alterações com o propósito
de amedrontarem e mesmo aterrorizarem os fiéis. E a mentalidade
atrasada dos cristãos medievais contribuiu também
com surgimento dos radicalismos. Vejamos uma frase de santo Inácio
de Loyola que espelha bem o que estamos dizendo: “Se os
nossos olhos virem que uma coisa é branca e a Igreja disser
que é preta, devemos dizer que é preta, porque assim
o diz a Santa Madre.”
Cremos que ficou bem claro que as palavras eternidade e eterno
em português e outras línguas tomaram um sentido
diferente do dos textos originais bíblicos, já que,
como foi dito, nos originais o seu significado é de penas
indefinidas, indeterminadas. E são indefinidas e indeterminadas
porque elas oscilam de acordo com a duração variável
do carma de sofrimento ao qual cada indivíduo está
sujeito. Para saber mais, recomendo Romeu do Amaral Camargo,
“De Cá e de Lá – Vozes da Terra e do
Além”, Ed. Da União Federativa Espírita
Paulista, SP.
E, realmente, essas penas jamais poderiam ser mesmo sempiternas
(para sempre), mas eternas (indefinidas), pois a justiça
divina é perfeita, e sua misericórdia, por ser infinita,
jamais poderia terminar, ao contrário, ela nos dá
sempre novas chances de regeneração. Ademais, como
lemos em 1 Timóteo 2:4, Deus quer que todos os homens se
salvem. E quem e o que, pois, poderão contra a vontade
de Deus?