A Epístola
aos Gálatas teria sido redigida mais provavelmente entre
os anos 54 e 57 d.C. embora haja estudiosos que admitem o período
do final do ano 48 a 50 d.C. (1,2).
A Galácia possuía várias
etnias e contava com grandes colônias judaicas.
A Epístola aos Gálatas é considerada por Champlin
como a “Carta Magna da Fé Cristã” (2).
Registra a fidelidade do apóstolo aos ensinos originais do
Mestre e é muito claro, não aceitando interpolações
ou ajustes às tradições judaicas:
1.9 […]Se alguém
vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes,
seja anátema. 1.10 Porque, persuado eu agora a homens ou
a Deus? ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando
aos homens, não seria servo de Cristo. 1.11 Mas faço-vos
saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado
não é segundo os homens. 1.12 Porque não
o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação
de Jesus Cristo. 1.13 Porque já ouvistes qual foi antigamente
a minha conduta no judaísmo, como sobremaneira perseguia
a igreja de Deus e a assolava. 1.14 E na minha nação
excedia em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente
zeloso das tradições de meus pais. (3)
A atitude humana de tentativas de
“agrado” é analisa por Emmanuel e considerando
ainda as reações que geralmente ocorrem às
propostas de adequação a novos contextos e de inovação:
“Em muitas ocasiões,
os pareceres populares equivalem à gritaria das assembleias
infantis, que não toleram os educadores mais altamente
inspirados, nas linhas de ordem e elevação, trabalho
e aproveitamento. Que o sincero trabalhador do Cristo, portanto,
saiba operar sem a preocupação com os juízos
errôneos das criaturas. Jesus o conhece e isto basta”.
(4)
Nessa Epístola há
o importante depoimento de Paulo sobre suas visitas à Casa
do Caminho e a sua reiteração do compromisso com a
ampla divulgação do Evangelho à gentilidade,
sem nenhuma exigência de pré-requisitos para com seu
público, o que ele definiu na sua primeira visita a Jerusalém,
após sua conversão ao Cristianismo. Um registro importante
é o relativo ao seu segundo retorno a Jerusalém, anos
depois:
2.1 Depois, passados catorze anos,
subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando
também comigo Tito. 2.2 E subi por uma revelação,
e lhes expus o evangelho, que prego entre os gentios, […]
2.9 E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados
como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos
as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para
que nós fóssemos aos gentios, e eles à circuncisão.
2.10 Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos
pobres, o que também procurei fazer com diligência.
[…] 2.14 Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para
viver para Deus. 2.20 Já estou crucificado com Cristo;
e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que
agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual
me amou, e se entregou a si mesmo por mim.
Paulo separa os compromissos de
formalidade com a legislação Moisaica e os de natureza
espiritual e que permanecem após a vida corpórea.
Suas colocações demonstram a firmeza de suas decisões
pautadas na vivência coerente com os ensinos do Mestre. O
tema é abordado por Emmanuel trazendo-o para a vida cotidiana:
“Quando termine cada dia,
passa em revista as pequeninas experiências que partilhaste
na estrada vulgar. Observa os sinais com que assinalaste os teus
atos, recordando que a marca do Cristo é, fundamentalmente,
aquela do sacrifício de si mesmo para o bem de todos”.
(5)
O raciocínio com base em
valores para a vida espiritual aparece em outros trechos da Epístola
e Paulo separa claramente o que seria a lei de ordem material e
elaborada para um contexto temporal. A Galácia sofria muita
influência dos cristãos ligados ao judaísmo
e eram chamados de “legalistas”. Registra um alerta
com um tom enérgico:
3.1 O insensatos gálatas!
quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade,
a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado,
crucificado, entre vós? 3.2 Só quisera saber isto
de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei
ou pela pregação da fé? […] 3.12 Ora,
a lei não é da fé; mas o homem, que fizer
estas coisas, por elas viverá.
A dedicação deve ser
desinteressada, como enfatiza Emmanuel:
“Trabalhemos, pois, contra
a expectativa de retribuição, a fim de que prossigamos
na tarefa começada, em companhia da humildade, portadora
de luz imperecível”. (4)
Paulo repete conceitos emitidos
em outras Epístolas, esclarecendo o valor da fé com
base em ações e não a tradicional interpretação
de se imaginar que seria suficiente um compromisso formal de aceitação
da “lei de Moisés”. A fundamentação
do ensino moral do Cristo, já registrada na Epístola
aos Romanos é ratificada:
5.4 Separados estais de Cristo,
vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes
caído. […] 5.14 Porque toda a lei se cumpre numa
só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo
como a ti mesmo.
A preocupação de Paulo
com os desvios pessoais e de grupos transparecem nessa Epístola,
onde ele é explícito, e anota uma enérgica
admoestação com relação a problemas
“como obras da carne”, que já identificava naquela
época:
5.20 Idolatria, feitiçaria,
inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões,
heresias.
Na sequência, recomenda aos
gálatas:
5.25 Se vivemos em Espírito,
andemos também em Espírito.
Entendemos que o Apóstolo
diferenciava as atitudes humanas, sem compromissos com a visão
de vida imortal. Emmanuel analisa essa questão considerando
os textos de Paulo sobre a polêmica carne versus
espírito e deixa claro que a vontade é do espírito.
A recomendação final resume a visão de Paulo
para o melhor relacionamento entre os integrantes das comunidades
da Galácia:
6:10 Então, enquanto temos
tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos
da fé.
As ponderações do
inspirado missivista merecem vários comentários de
Emmanuel, dos quais destacamos:
“O Apóstolo Paulo
reconhece que, às vezes, atravessamos grandes ou pequenos
períodos de inibições e provações,
pelo que nos recomenda: “enquanto temos tempo, façamos
o bem a todos; contudo, mesmo nas circunstâncias difíceis,
urge endereçar aos outros o melhor ao nosso alcance, porque
segundo as leis da vida, aquilo que o homem semeia, isso mesmo
colherá”. (6)
Nessa Epístola, o Apóstolo
faz um significativo registro, que é repetido por muitas
pessoas:
6.17 Desde agora ninguém
me inquiete; porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus.
A colocação paulina
pode ser interpretada pela ótica material, pois ele foi apedrejado,
considerado morto e arrastado para fora de cidades. Literalmente,
poderia ser interpretada como as marcas das cicatrizes dos flagelos
a que foi submetido.(1) Champlin também
considera que “os legalistas gálatas jactavam-se da
‘marca na carne” (2), ou
seja, da circuncisão. Daí Paulo enfatizar outro tipo
de “marca” – a espiritual -, já por ele
definida na sua colocação “Cristo vive em
mim”, e, que Emmanuel amplia a compreensão para
o aspecto espiritual:
“Todas as realizações
humanas possuem marca própria. Casas, livros, artigos,
medicamentos, tudo exibe um sinal de identificação
aos olhos atentos. Se medida semelhante é aproveitada na
lei de uso dos objetos transitórios, não se poderia
subtrair o mesmo princípio, na catalogação
de tudo o que se refira à vida eterna. Jesus possui igualmente
os sinais dEle. A imagem utilizada por Paulo de Tarso, em suas
exortações aos gálatas, pode ser mais extensa.
As marcas do Cristo não são apenas as da cruz, mas
também as de sua atividade na experiência comum.
Em cada situação, o homem pode revelar uma demonstração
do Divino Mestre”. (5)
A Epístola aos Gálatas
é fortemente sugestiva para a mais ampla reflexão
para a avaliação sobre as “marcas do Cristo”
– no sentido ético, moral e espiritual -, em nossas
vidas e na Seara Espírita.