Clássico na voz de Tonico e
Tinoco, sucesso da música caipira desde a década de
40, a canção “Chico Mineiro” narra, de forma
poética, a história de um homem que descobre, apenas
após a morte deste, que seu amigo e subordinado era na verdade
seu legítimo irmão. A bela música, cantada até
hoje nos programas de televisão de música raiz, traz
em si um grande ensinamento, como veremos nesse artigo.
O Evangelho segundo o Espiritismo,
em seu Capítulo XIV - “Honrai vosso pai e vossa mãe”,
no tópico cinco, nos fala da passagem evangélica na
qual Jesus pergunta: “Quem é minha mãe e quem
são meus irmãos?”, trazendo as considerações
de Kardec sobre a parentela física e a espiritual. Entretanto,
a lição traz outras reflexões, não explicitadas,
apoiadas pela história do Chico Mineiro, ocorrida lá
no “sertão de Goiás”.
Relembramos que na visão reencarnacionista,
recebemos na família amigos e inimigos de outras existências,
no cadinho depurador do lar, como mecanismo de evolução
espiritual. Disso não temos dúvida, como ideia que reforça
o nosso compromisso com os que conosco dividem os laços genéticos.
Entretanto, assim como Jesus perguntou
sobre quem era seu irmão, a interrogação vagueia
nossa mente, na reflexão de que a necessidade de fazer o bem
não deve se circunscrever ao lar. A fraternidade não
pode ser restrita a uma visão corporativista de ajudar apenas
aqueles que ostentam nosso sobrenome.
Não falamos de abandonar os
compromissos familiares, e sim que o amor é uma força
que se expande, sem muros ou barreiras. E constitui uma força
que se reproduz. Quantas vezes em nossa vida precisamos amar o próximo
mais distante, para aprender a amar nossos familiares?
O fato é que o amor somente
pelos familiares não basta. Faz-se necessário expandir
esse sentimento, pois, pela lei divina da reencarnação,
as famílias se mesclam, por força dos laços construídos
nas encarnações, nas lutas cotidianas, pela amizade
e pelo casamento, assim como pelo ódio. Como disse Jesus, não
sabemos quem são nossos irmãos. Ou quem será.
Resumindo, importante termos em mente que somos todos irmãos
e a reencarnação torna isso uma verdade concreta.
Por isso, o fato de virar uma música
o espanto do boiadeiro ao saber que o Chico Mineiro era seu legítimo
irmão demonstra como estamos distantes desse ideal de fraternidade
universal, de enxergar em cada indivíduo encarnado, independente
de etnia, raça, nacionalidade, um irmão.
O nosso irmão é nosso
próximo. Quando perguntaram a Jesus quem era o nosso próximo,
ele respondeu com a bela Parábola do Bom Samaritano, mostrando
que o próximo é todo aquele que necessita de nosso concurso,
nas batalhas da vida, para além de denominações
temporárias.
Esse amor fraternal é que dá
liga, como um visgo a unir a humanidade. O Amor fraternal é
o sentimento de responsabilidade e cuidado por qualquer outro ser
humano e, como dito pelo escritor Erich Fromm, no seu interessante
“A arte de amar” (1966), esse tipo de amor caracteriza-se
pela falta de exclusividade, pela solidariedade.
Assim, queremos mais que um milhão
de amigos, queremos um mundo mais irmão. Entretanto, irmão
não é quem comunga a nossa ideologia, é sim todo
ser criado por Deus, nosso Pai. Jesus nos lembrou disso em várias
passagens, ao afirmar o amor ao próximo como o mais importante
de tudo.
Os versos de Chico Mineiro continuarão
sendo entoados, como bela canção do repertório
nacional. Porém, ao ouvirmos seus acordes, nos lembraremos
também de que, como espíritas, temos consciência
de que os que nos cercam são nossos legítimos irmãos,
companheiros na viagem que chamamos de existência.