Conforme publicação no blog de Vital
Cruvinel, o pesquisador Alexander Aksakof publicou
artigo que traz duras críticas a obra e a pessoa de Kardec, o
que não poderia ter ficado sem resposta dado o seu teor agressivo.
E não ficou!
Passados alguns dias da publicação deste artigo, Anna
Blackwell, que traduziu o Livro dos Espíritos
para o Inglês, publicou na mesma revista The Spiritualist
a sua resposta. Esta também está reproduzida no jornal
eletrônico Psypioneer (edição
de fevereiro de 2009).
Vejamos a tradução disponibilizada no blog:
Excelentíssimo senhor, ocupada como eu sou, devo pedir-lhe que
me permita oferecer algumas observações em referência
ao artigo do senhor Aksakof no número do The
Spiritualist que acabo de receber.
Por mais que a opinião do senhor Aksakof seja contrária,
a maioria de seus leitores certamente irá concordar comigo que
"o ponto essencial da crítica de qualquer livro" é
saber o que o livro contém, e examinar seus pontos de vista,
argumentos e conclusões. Se o senhor Aksakof tivesse feito isso
em relação às obras de Allan Kardec, ele poderia
ter se poupado do trabalho de escrever seu artigo; pois ele teria visto
primeiro, que, invariavelmente, Allan Kardec define sua obra como tendo
sido o estabelecimento de uma forma coerente e sistemática das
observações que foram realizadas, mais ou menos vagamente,
por eminentes pensadores de todas as épocas desde a mais remota
antiguidade até os dias atuais, mas que tem sido estabelecida
de forma mais completa, clara, e consistente, através da instrumentalidade
dos médiuns modernos. Em segundo lugar, que, longe de "apresentar
a Reencarnação como um dogma", ele sempre a trata
como uma questão a ser resolvida exclusivamente pelo argumento
e pela razão. Em terceiro lugar (e isto me leva à essência
do referido artigo), que ele repete, mais de uma vez, que todos os seus
livros foram compilados por ele a partir das comunicações
simultâneas dos médiuns em todas as partes do mundo. Agora,
é evidente que, sendo este o caso, era impossível para
Allan Kardec citar os nomes de todos os médiuns cujas comunicações
foram usadas na compilação dos livros; e ele decidiu (aliás,
a pedido de muitos deles) não citar o nome de nenhum deles. O
senhor Aksakof está mal informado em relação ao
início e à primeira aparição de O Livro
dos Espíritos; pode ser visto no prefácio, onde eu apresento
as declarações que me foram dadas sobre o assunto pela
esposa de Allan Kardec, e por seus amigos mais íntimos, bem como
os resultados do meu conhecimento pessoal sobre ele. É possível
que alguns trechos do conteúdo adicional introduzido na "edição
revista" (que permaneceu como a forma definitiva de O Livro
dos Espíritos) podem ter sido obtidos pelos dois médiuns
cujas declarações do senhor Aksakof teriam recebido por
regra; mas eles não devem ter tido nenhuma participação
na primeira produção da obra que esse senhor atribui a
eles. E a sugestão de que "os espíritas tenham enterrado
vivos estes dois médiuns", como a fábula que coloca
Allan Kardec como integrante do L'Univers, é muito absurda
para uma refutação séria.
A afirmação do senhor Aksakof de que "as manifestações
físicas são sempre contrárias à reencarnação"
é desmentida pelos fatos. No meu caso, as indicações
relativas às minhas existências passadas me foram dadas
através de vários dos nossos melhores médiuns de
efeitos físicos e, em alguns casos, não aceito por eles
(como uma vez, pelo senhor Home, em transe), em outros (como no da jovem
senhora Marshall), para sua grande surpresa; e um imenso número
de pessoas poderiam testemunhar experiências semelhantes. Além
disso, "John King", como já salientei no Espiritualismo
e Espiritismo, tem afirmado repetidamente que ele viveu na terra
nos reinados da rainha Elizabeth e de Charles II; e sua filha "Katie"
fez, você vai se lembrar, uma conjectura semelhante, ao príncipe
Emile de Sayn-Wittgenstein, de estar ligada a ele em uma de suas encarnações
anteriores. O último número do The Medium também
contém uma consideração extremamente interessante,
da afirmação de suas reencarnações pelo
"espírito materializado" de "Thomas Ronalds",
e isso em um grupo de assistentes que não parece ser favorável
à doutrina da pluralidade de nossas existências terrestres,
das quais, no entanto, abundante confirmação de um caráter
semelhante sem dúvida está por vir tão logo este
ramo da arte da manifestação se torne comum entre os povos
do mundo espiritual.
Quanto à acusação de que o jovem médium
francês, Camille Brédif, agora fazendo um bom serviço
na Rússia, não foi mencionado na Revista Espírita,
o senhor Aksakof parece não ter consciência do fato de
que a atual fase de Camille na mediunidade, como a do coitado do Firman,
só foi desenvolvida no ano passado e, como conseqüência
direta da visita do senhor Williams a Paris; antes desta visita a influência
que torna a "materialização" possível,
não parece ter atravessado o Canal da Mancha, e a mediunidade
de Camille produziu apenas raps, com o movimento de objetos em sessões
escuras, que não se pode dizer que tenha feito muito para convencer
os céticos.
Igualmente infeliz é a afirmação do senhor Aksakof
de que Allan Kardec tenha "ignorado" o senhor Home e as manifestações
obtidas por seu intermédio; se ele tivesse lido O Livro dos
Médiuns, ele teria visto que elas são tratadas neste
trabalho.
O senhor Aksakof diz que Pezzani e Cahagnet acolheram a doutrina da
reencarnação antes de Allan Kardec; mas por que é
que ele se refere apenas a esses dois? No The Testimony of the Ages
eu tenho dado uma lista "tão extensa quanto o meu braço"
de modernos escritores que têm, como "precursores",
preparado o caminho para a completa apresentação da lei
de nossas existências sucessivas de que Allan Kardec foi destinado
a elucidar mostrando, não mais como uma simples idéia
filosófica, mas como parte integrante do plano geral da Providência
para todos os tempos, mundos, e reinos. O trabalho específico
de Allan Kardec, como ele mesmo define, é o de um comparador,
conferidor, compilador; mas, não obstante, apresenta, na sua
totalidade, um conjunto filosófico, que é reconhecido
como novo, original, único por todos os que tomaram o trabalho
de verificar por si mesmos o que realmente é.
O senhor Aksakof conclui seu artigo comentando, muito verdadeiramente,
que é "mesmo necessário ressaltar que tudo que ele
afirmou não afeta a questão da reencarnação
considerada por seus próprios méritos"; para cuja
admissão acrescento que o problema em questão, levantado
pelos livros que estou me dedicando em trazer ao alcance do mundo de
fala inglesa, acabará por ser resolvido, única e exclusivamente,
pelos seus próprios méritos, apesar de todos
os esforços dos seus adversários em tirar o foco da questão,
ignorando o próprio conteúdo desses livros, e substituindo
a análise desapaixonada da sua argumentação pelo
descrédito desprovido de provas, e pela repetição
de afirmações infundadas ou distorcidas não tendo
nada a ver com a questão em causa, inicialmente vindos à
tona pela inveja e ciúme, e que foram tratados por Allan Kardec,
durante a sua vida, com a magnanimidade do silencioso desprezo.
Anna Blackwell.
Wimille, Pas de Calais, 15 de julho de 1875
Fonte:
http://decodificando-livro-espiritos.blogspot.com.br/2010/04/uma-controversia-com-anna-blackwell.html
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