Quem é que nunca se indignou ao ler uma
reportagem, ou receber imagem que ilustra pessoas em atitude de
indiferença pelo próximo, em função
do uso da internet? Por exemplo, a mãe que deixa o filho
no chão do aeroporto enquanto está entretida com
o celular, ou os membros da família que, reunida, troca
a avó pelo smartphone. Em que pesem as circunstâncias
dos registros (afinal um clique, embora icônico, nem sempre
representa fielmente o contexto que integra), eles são
chocantes, certo?
Nestas horas, via de regra, nos inflamamos e gritamos aos quatro
ventos (virtualmente, claro) a nossa repulsa. E, na verborragia,
não poupamos ninguém – sobretudo os ‘novos’
pais e a ‘fraca’ atual geração, arruinada
pelas facilidades que não tivemos, especialmente as advindas
da tecnologia. Nas análises abrasadas não falta
quem teça comparações entre a infância
do passado e do presente ao rememorar, com saudade, o quão
era boa a época em que brincávamos na rua noite
adentro, com os pais sentados em cadeiras em frente ao portão,
assistindo-nos jogar bola de gude, pique-lata e pique-bandeira.
As crianças de hoje? Uma pena, não saem da tela
do computador, do tablet, do smartphone. Pobres
crianças, um digita. O mundo está perdido, outro
concorda.
Mas será assim, realmente? Vamos analisar direitinho? Para
começar, temos de reconhecer o mal ‘provocado’
pela tecnologia. O excesso de tempo conectado faz com que o indivíduo
se isole do convívio social, tornando latente a solidão
e contribuindo para dar vazão a muitos de nossos problemas
contemporâneos, os quais Joanna de Angelis, pela psicografia
de Divaldo Franco, já em 1990, enumerava como fatores de
perturbação no livro O homem Integral.
Dentre estes, destaque para a ansiedade, o medo e a insegurança
que, por sua vez, podem desencadear doenças como depressão
e síndrome do pânico. Mais: casais se agridem e se
separam ensejados por posts no Facebook e no Instagram.
O ódio aflora, acarretando brigas e ruptura doméstica,
tendo como pretexto posições concorrentes no cenário
político. Mentira e manipulação são
armas frequentes. Através da web acontecem acidentes e
homicídios.
No julgamento pessoal, entretanto, estará correto depositar
a culpa destas ocorrências numa simples ferramenta, ao invés
de assumir o protagonismo dos próprios atos? Porque a tecnologia
e as mídias digitais são apenas instrumentos que
nós, homens e mulheres imperfeitos, temos à disposição.
Por intermédio deles, escancaramos nossas tendências.
As timelines nada mais são do que páginas,
inicialmente em branco, as quais preenchemos com o que temos impregnado
nos pensamentos e emoções. Ceder à crueldade,
à mentira, à acusação infundada e
à frustração é permitir-se –
com o auxílio de obsessores ou não (acredite, existe
obsessão na rede) estar refém das falhas inerentes
à própria personalidade.
É comum a internet estar associada à desagregação
do vínculo familiar. E não resta dúvidas
de que tem papel preponderante nos sismos caseiros, se assim a
concebermos. Contudo, tal distopia pode ter procedência
tanto nas perspectivas de distração online, como
na predisposição a outras distrações
viciantes, tais quais o álcool, o sexo e as drogas. Afinal,
o pai já era distante quando, privando-se do convívio
com os filhos e a esposa, optava por sair do trabalho direto para
os braços da amante ou para a mesa de bar, nos anos 70.
De igual modo, o filho já fugia de casa, nos anos 80, para
obedecer aos desregramentos que lhe dominavam o espírito,
deixando-se vencer pelas drogas e compulsão sexual. E o
que dizer dos ciúmes e dos crimes passionais, certamente
muito anteriores às interações da world
wide web? Sem adentrar nas brumas da história, está
fácil ver que, independente do agente ou da influência,
nossa imperfeição é a verdadeira responsável
pelas fraquezas e pelo arrastamento (que, como esclarecem os espíritos
na resposta à questão 645 do Livro dos Espíritos,
não é irresistível) que conduzem à
queda.
Por outro lado – e esta é a boa notícia –
tais ferramentas, se usadas para o bem, podem mover montanhas
no caminho das realizações pessoais. Pela internet,
podemos nos conectar com afetos distantes, diminuindo a saudade;
encurtar o abismo entre as classes, democratizando o acesso ao
conhecimento; auxiliar o próximo ou motivá-lo, a
partir de postagens solidárias; dar a conhecer as boas
ações que são praticadas diariamente por
anônimos, mas que, na falta de espaço e oportunidade,
não são divulgadas em veículos como o rádio
e a tevê. Pelo ciberespaço, podemos espalhar mensagens
positivas e, inclusive, potencializar a comunicação
social espírita. As possibilidades são amplas, e
nosso livre-arbítrio também. Cabe a cada um eleger
o tipo de energia que deseja propagar, on ou off-line.
Da mesma maneira, temos a tarefa de decidir como orientar os jovens,
que vivem sim, num momento diferente do que vivíamos há
vinte ou trinta anos, e do qual a tecnologia faz parte. Não
importa se você, como mãe ou pai, vai permitir ou
proibir que seu filho de seis anos tenha um tablet. Mas
saber que – seja qual for sua escolha – vai orientá-lo
com sabedoria e equilíbrio no dia-a-dia, educando-o com
afeto e incutindo-lhe, notadamente através do exemplo,
os sentimentos de amor e respeito ao semelhante, isso é
fundamental.
Daniele Barizon
Jornalista