Foz do Iguaçu/PR,
21 de dezembro de 2007.
Caros confrades da LIPHE:
Muita Paz!
Com grande satisfação lhes envio para análise
o artigo que aborda uma singela, mas sincera homenagem pelos 150
Anos do Lançamento histórico da Revue Spirite, do
ínclito Allan Kardec.
Sendo o Sesquicentenário da Revista Espírita uma
das comemorações mais importantes de 2008 (1º
de janeiro), junto dos 140 Anos de A Gênese (6 de janeiro)
e dos 150 Anos da Société Parisienne des Études
Spirites (1º de abril), anexo também as ilustrações
das Referências Bibliográficas utilizadas para a
confecção da matéria comemorativa.
Vamos aproveitar todo o ano de 2008 para divulgar e estudar um
pouco mais nossa querida Revista Espírita, infelizmente
quase desconhecida em nosso meio, monumento doutrinário
que complementa à excelente Codificação Kardequiana.
Agradecendo a atenção dos amigos e desejando-lhes
um Feliz Natal e Ano Novo com Jesus, despeço-me com o afeto
de sempre,
Enrique Eliseo Baldovino.
Tradutor da Revista Espírita
150 ANOS
Homenagem à Revista Espírita
Enrique Eliseo Baldovino
No mês de janeiro de
2008 comemoramos o Sesquicentenário da Revue Spirite, de
Allan Kardec, isto é, os 150 anos do lançamento dessa
Obra monumental, em 12 brilhantes volumes, que complementam o excelente
Pentateuco Kardequiano.
A Revista Espírita esteve sob a segura direção
do eminente Codificador do ano de 1858 até 1869. Como sincero
tributo de reconhecimento ao ingente esforço do seu Autor
para plasmar tão importante Obra como legado para a Humanidade
– em colaboração com os Espíritos superiores
–, traduzimos ao português, a seguir, alguns parágrafos
do Prólogo-homenaje a Allan Kardec, que encontra-se nas primeiras
páginas da nossa tradução do francês
ao espanhol do Ano de 1858 da Revista Espírita,(1) Edições
CEI – Conselho Espírita Internacional:
Sexta-feira, 1º de janeiro de 1858. É lançada
em Paris a Revue Spirite - Journal d’Études Psychologiques,
de Allan Kardec, publicada sem interrupção pelo insigne
Codificador do Espiritismo até o mês de abril de 1869.
Apesar de Kardec ter desencarnado na quarta-feira 31 de março
desse mesmo ano, já havia deixado preparada a Revue de abril
de 1869, tal era sua organização, disciplina e esforço
exemplares, qualidades – entre tantas outras – que caracterizaram
o mestre de Lyon, junto ao seu inconfundível bom senso. Sua
generosidade, desprendimento e idealismo fazem-no custear todas
as despesas com a publicação da Revista, por sua própria
conta e risco, assim como o tinha feito quase nove meses antes com
O Livro dos Espíritos. Lança o primeiro número
histórico da Revista Espírita com 36 páginas,
e o sucesso espiritual haverá de acompanhá-lo em sua
periodicidade mensal, tendo como escritório de redação
do Jornal, em essa época, sua própria residência:
rue des Martyrs, 8 (rua dos Mártires, nº 8).
A Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos
é uma Obra monumental e magnífica em todos os sentidos,
desde o ponto de vista histórico, literário, científico,
filosófico, religioso etc. Tal qual o seu ilustre Autor,
as páginas da Revue possuem enorme bagagem cultural do mais
alto valor, constituindo-se em uma síntese de grande conteúdo
biográfico, ético-moral, geográfico, astronômico,
político, artístico e doutrinário propriamente
dito. São exatamente 4409 páginas de Luz no original
francês (que temos a imensa honra de traduzir) se somarmos
os onze anos e quatro meses de publicação dos seus
doze volumes, sob a atenta direção de Kardec. Portanto,
desejamos homenageá-lo como digno mensageiro de Jesus, que
confiou ao Codificador a sublime missão de restabelecer todas
as coisas e, junto dos Espíritos superiores, instalar para
sempre na Terra o Consolador Prometido pelo Espírito de Verdade,
Paracleto que nos ensinará todas as coisas e que nos fará
recordar tudo o que o Cristo nos disse. [...]
Sem os limites naturais de um livro, a Revista é, então,
o complemento indispensável do Pentateuco Espiritista, já
que desenvolve, explica, amplia e ilustra, com a lógica de
aço de Kardec, os raciocínios expostos pelos Espíritos
que revelaram a magna Doutrina. Eis a verdadeira importância
deste gigantesco manancial da Revue Spirite no conjunto da Codificação
Kardequiana. [...] Com suas leituras em dia de vários diários
e obras literárias, científicas, filosóficas
e religiosas, o mestre lionês era um homem bem atualizado
e muito partícipe nos meios de difusão contemporâneos.
Constantemente retirava dos periódicos de todo o mundo artigos
que analisava sob a ótica espírita, transcrevendo
muitos deles na Revista, a fim de serem estudados doutrinariamente.
Para que possamos ter uma clara idéia da grande utilidade
prática da Revue no conjunto da Codificação,
citamos a seguir uma esclarecedora Nota de Kardec colocada no subcapítulo
intitulado Doutrina dos anjos decaídos e da perda do paraíso,
item 43 e seguintes do capítulo XI de A Gênese,(2)
Obra publicada em 1868: “Quando, na Revue Spirite de janeiro
de 1862, publicamos um artigo sobre a interpretação
da doutrina dos anjos decaídos, apresentamos essa teoria
como simples hipótese, sem outra autoridade afora a de uma
opinião pessoal controversível, porque nos faltavam
então elementos bastantes para uma afirmação
peremptória. Expusemo-la a título de ensaio, tendo
em vista provocar o exame da questão, decidido, porém,
a abandoná-la ou modificá-la, se fosse preciso. Presentemente,
essa teoria já passou pela prova do controle universal. Não
só foi bem aceita pela maioria dos espíritas, como
a mais racional e a mais concorde com a soberana justiça
de Deus, mas também foi confirmada pela generalidade das
instruções que os Espíritos deram sobre este
assunto. O mesmo se verificou com a que concerne à origem
da raça adâmica”.
Eis porquê a Revista Espírita – nas próprias
palavras de Kardec – tornou-se um poderoso auxiliar na implantação
do Movimento Espiritista e na elaboração da Doutrina,
ao desenvolver os postulados em toda a sua extensão, apresentando
uma considerável variedade de casos e aplicações,
além de servir como meio de correspondência direta
com os leitores. [...] Assim como a própria Doutrina dos
Espíritos, a coleção da Revista Espírita
é um grande oceano, do qual encontramo-nos somente na praia
e acreditamos que o conhecemos em sua profundidade. Por isso urge
a necessidade de estudar-se a fundo esta magna Obra, grandioso documentário
que tem servido a Kardec de vasto campo experimental e de amplo
laboratório de idéias, auscultadas nas centenas de
cartas recebidas, onde ele sondava as reações da opinião
pública, sedenta do saber espiritista. A rigorosa pesquisa
científica de Kardec é digna de menção.
É por tudo isto que o estudo profundo da Revue há
de contribuir para uma ampliação de conhecimentos
e, por conseqüência, para a formação de
uma sólida cultura doutrinária. Através de
suas luminosas páginas participamos ao vivo da História
da Doutrina Espírita – passo a passo –, das árduas
lutas e vitórias do Codificador, assim como das calúnias
e mentiras dirigidas contra ele pelos adversários do progresso.
A Revue Spirite está inscrita com letras maiores nos Anais
do Espiritismo, porque é a narração de sua
própria história e da detalhada exposição
dos acontecimentos dignos de memória, que a posteridade jamais
poderá esquecer. Era Kardec quem redigia integralmente a
Revista e quem cuidava de toda sua volumosa correspondência
e remessa, tarefa hercúlea que consumiria todo o tempo de
uma pessoa comum. Isto era apenas uma parte dos seus trabalhos,
pois também tinha o compromisso com a codificação
e edição dos outros Livros, com o Movimento Espírita
nascente, com a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
– da qual era Presidente –, com sua esposa Amélie-Gabrielle
Boudet, com as centenas de visitantes anuais que queriam saber mais
sobre a Doutrina, com as viagens doutrinárias... Esse era
o homem singular e o espírita exemplar Allan Kardec, que
se havia olvidado de si mesmo para consagrar-se por inteiro à
Causa e Razão da sua vida: o Espiritismo.
Na Revista conhecemos também o caráter, o retrato
e a estatura moral do homem Allan Kardec. Aqui, esclarece e consola
pessoalmente a uma mãe desesperada pela desencarnação
de sua filhinha, e também a um filho que sofre as saudades
do seu falecido pai; ali, colabora diretamente na recuperação
de um médium obsidiado; cá, conversa na sessão
mediúnica com um criminoso, com tanto respeito e carinho
que o faz emocionar e querer mudar de vida; acolá, incentiva
donativos para as vítimas de epidemias ou oferece assinaturas
gratuitas da Revue para os pobres. Essas “minúcias”
tão importantes encontramo-las na Revue Spirite.
Por outra parte, várias páginas da Codificação
– literalmente ou em parte – tiveram suas origens na
Revista Espírita (RE), como por exemplo o quinto artigo da
RE de outubro de 1858–V: Teoria do móvel de nossas
ações, pp. 425-428. Deste artigo derivou-se, com poucas
modificações, a extensa questão nº 872
da 2ª edição definitiva (20/03/1860) de O Livro
dos Espíritos, sob o título: Resumo teórico
do móvel das ações humanas. Outro interessante
e comovente artigo o encontramos na RE ago. 1858–II: A Caridade,
pp. 335-340. Esta bela mensagem está – em menor extensão
e sem as nove perguntas que o Codificador fez ao Espírito
São Vicente de Paulo – em O Evangelho segundo o Espiritismo,
item 12 (Instruções dos Espíritos - A beneficência)
do cap. XIII. Por modéstia e humildade, outras magnas virtudes
suas, Kardec retira do texto desta Obra (da 1ª edição
de 1864 e também da 3ª ed. definitiva de 1866) as merecidas
linhas encomiásticas dirigidas a ele por São Vicente,
que diziam: “[...] Há, entre vós, homens que
têm a cumprir missões de amor e de caridade: escutai-os,
exaltai a sua voz; fazei se resplandeçam seus méritos
e sereis, vós próprios, exaltados pelo desinteresse
e pela fé viva de que vos penetrarão”.(3)
Por outro lado, com a sua didática inconfundível cria
– como bom redator – seções atrativas
na Revue, que interessam às variadas camadas do público
leitor, seções que com o transcurso dos meses se consagraram
como fixas: Conversas familiares de Além-Túmulo, Problemas
morais, Bibliografia, Evocações particulares, Variedades,
Poesias espíritas, Necrologia, Aos leitores da Revista Espírita,
Aforismos espíritas e pensamentos avulsos, Dissertações
de Além-Túmulo, Boletim da Sociedade Parisiense de
Estudos Espíritas, Avisos, Questões e problemas, Correspondência
etc. Os artigos seguem uma ordem metódica e uma seqüência
tão lógica, que de jeito nenhum poderiam mover-se
de lugar sem afetar a coerência da progressão gradativa
dos temas e das idéias desenvolvidas. Um claro exemplo de
sua magistral concatenação é quando na RE dez.
1858–VI c: Dissertações de Além-Túmulo
– O papel da Mulher, pp. 511-513, Allan Kardec publica uma
belíssima dissertação do Espírito Bernard
Palissy sobre a elevada tarefa-missão das mulheres, e duas
páginas depois Kardec conversa por via mediúnica com
uma viúva da Índia, que em sua mais recente existência
foi obrigada, por costumes e imposições religiosas,
a queimar-se viva sobre o cadáver do seu marido (RE dez.
1858–VIII a: Conversas familiares de Além-Túmulo
– Uma viúva de Malabar, p. 515.).
Esta é uma das razões que nos aconselham a ler e a
estudar Kardec, com preferência desde o começo até
o fim sem interrupções, de capa a contracapa, e não
pulando ou lendo partes isoladas, para conseguir atingir-se o objetivo
precípuo de aproveitar melhor todas as nuances que o Codificador
vai semeando em cada artigo – com as suas respectivas citações
e remissões –, superando-se constantemente Allan Kardec
em cada texto e, ao mesmo tempo, seguindo um seguro roteiro de sensatez
irrefutável. [...] A atualidade de Kardec é realmente
impressionante. Parece que ontem mesmo escreveu as várias
páginas que hoje tanto nos comovem e que são mais
atuais do que nunca. Parece que faz pouco tempo que coordenou e
sistematizou aquelas comunicações mediúnicas
do mais alto valor, com o seu meticuloso critério científico
e com a precisão que caracteriza todo o seu trabalho metódico.
Sua presciência também é verdadeiramente notável.
[...]
Eis a nossa pálida homenagem a esse homem íntegro,
em todos os sentidos, a quem tanto devemos os espíritas de
todas as latitudes do planeta. Saudamos, então, [...] ao
Codificador com os nossos maiores anelos de que o seu excelente
e imortal legado seja melhor compreendido. Para finalizar, deixemos
a palavra com Allan Kardec, citando seus conceitos sempre sensatos,
encontrados na Revista Espírita, na Conclusão do Ano
de 1858:
“[...] Seria um fato inusitado nos fastos da publicidade se
não nos defrontássemos com contradições,
nem com críticas, sobretudo quando se trata da emissão
de idéias tão recentes; mas, se de alguma coisa devemos
admirar-nos, é de ter encontrado tão poucos contraditores,
em comparação com os sinais de aprovação
que nos foram dados, e sem dúvida isso se deve bem menos
ao mérito do escritor do que à atração
suscitada pelo próprio assunto tratado e ao crédito
que, diariamente, conquista nas mais altas camadas da sociedade.
Nós o devemos também, e disso estamos convencidos,
à dignidade que sempre temos conservado diante dos nossos
adversários, deixando que o público julgue entre a
moderação, de uma parte, e a inconveniência,
de outra.
O Espiritismo marcha no mundo inteiro a passos de gigante; todo
dia reúne alguns dissidentes pela força das coisas;
e, se de nossa parte podemos lançar alguns grãos na
balança desse grande movimento que se opera e que marcará
nossa época como uma nova era, não será melindrando
nem nos chocando frontalmente com aqueles que queremos justamente
conquistar. É por esse raciocínio, e não pelas
injurias, que nos faremos escutar. A esse respeito, os Espíritos
superiores que nos assistem dão-nos a regra de proceder e
o exemplo. Seria indigno de uma doutrina, que não prega senão
o amor e a benevolência, descer até à arena
do personalismo; deixamos esse papel aos que não a compreendem.
Nada nos fará desviar da linha que temos seguido, da calma
e do sangue-frio que não cessamos de demonstrar no exame
raciocinado de todos os problemas, sabendo que assim conquistaremos
mais partidários sérios para o Espiritismo do que
pelo azedume e pela acrimônia. [...]”(4)
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Referências:
(1) KARDEC, Allan. Revista Espírita - Periódico de
Estudios Psicológicos (Año 1858). 1ª ed. Brasília:
CEI, 2005. Prólogo-homenaje a Allan Kardec, pelo tradutor
Enrique Eliseo Baldovino, pp. III-XII.
(2) KARDEC, Allan. A Gênese. 35ª ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1995. Doutrina dos anjos decaídos e da perda do paraíso
(Nota de Kardec), tradução de Guillon Ribeiro, pp.
229-230.
(3) KARDEC, Allan. Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos
(agosto de 1858). 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. A Caridade,
tradução de Evandro Noleto Bezerra, p. 336.
(4) KARDEC, Allan. Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos
(dezembro de 1858). 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Aos leitores
da Revista Espírita, tradução de Evandro Noleto
Bezerra, pp. 526-527.
