Corria o ano de 2007, e a aquela
mulher ainda vivia no ano de 1967, época em que o marido
a deixara para viver com outra. O ex-marido se casou, teve filhos,
e ela lamentavelmente vivia 40 anos atrás, pensando no que
fizera de errado para perder o “amor de sua vida”.
Desde então foram tempos
de tristeza. Não se casou, não mais namorou, e sequer
fez novos amigos, tudo porque preferia ficar se machucando com um
passado que deveria ser esquecido.
Ao tomar conhecimento dessa
história compreendemos as razões do esquecimento temporário
que experimentamos ao reencarnarmos para as lides terrenas, sendo
esse esquecimento um presente que a Providência Divina nos
concede. Imagine o que ocorreria com a mulher da história
acima se tivesse o conhecimento de todo seu passado?
Kardec não deixou passar despercebida a questão envolvendo
o Esquecimento Temporário, e abordou o assunto com os sábios
da espiritualidade em “O Livro dos Espíritos”:
P – 392 - Por
que o Espírito encarnado perde a lembrança de seu
passado?
R - O homem não pode nem deve saber tudo. Deus em Sua sabedoria
quer assim. Sem o véu que lhe encobre certas coisas, o
homem ficaria deslumbrado, como aquele que passa sem transição
do escuro para a luz. O esquecimento do passado o faz sentir-se
mais senhor de si.
Resposta esclarecedora!
Com sangue novo, ou melhor, novo
corpo, recomeçar sem as sombras do passado e as artimanhas
do remorso, que muitas vezes nos fizeram cair, é benéfico,
porquanto, entre tantas circunstâncias que se apresentam,
o esquecimento temporário dos fatos não tolhe nossa
iniciativa, principalmente no campo do Bem ou na reconstrução
da própria vida. Ou seja, estamos de certa forma, momentaneamente
livres para escolher novos caminhos, sem culpa ou olhares de reprovação
que nos embaraçam.
E esses olhares de reprovação
e comentários maldosos presenciamos sempre que alguém
procura modificar suas disposições íntimas,
em exclamações do tipo:
- Nossa, mas ainda outro dia
deleitava-se com o vício e agora pensa que é santo!
Quanta hipocrisia!
É a velha tendência humana
de se prender ao passado, sem se atentar que as pessoas podem modificar
suas disposições.
Mas complicado mesmo é quando a culpa começa
a senhorear nossa vida. Com frequência encontramos criaturas
com doridas marcas provocadas pela culpa, e que não conseguem
tomar iniciativas de reconstrução porque querem se auto
punir, considerando que a auto punição quita os débitos
perante a própria consciência. Nada disso! O melhor caminho
é trabalhar e servir para apaziguar a consciência em
chamas pelos equívocos cometidos.
Outra situação que comprova
o benefício desse esquecimento temporário é o
relacionamento dentro do lar. Não raro guarda-se a sete chaves,
como um trunfo, uma suposta ofensa feita por um familiar, e espera-se
apenas o momento oportuno para sacar a língua e dizer:
- Ah, mas não me esqueço daquele dia que você
fez isso, aquilo e aquilo outro.
E curioso notar que são situações já ultrapassadas
há meses, quando não anos. Sim, são situações
ultrapassadas, mas não superadas pela velha imaturidade humana.
Se não conseguimos por hora equacionar emoções
vivenciadas nesta existência, imagine o que ocorreria se tivéssemos
conhecimento de fatos ocorridos há milênios, e que foram
motivos de muitas lágrimas por parte de todos os envolvidos.
Se isso ocorresse, certamente nos perderíamos embaralhados
em um turbilhão de emoções e sentimentos.
Porém, Deus é a sabedoria
suprema, conhece nossas virtudes e limitações, e nos
oferta o esquecimento temporário como sublime oportunidade
de recomeço para que aprendamos a viver a existência
atual como a de maior importância em nossa jornada, porquanto,
o passado já se foi, o futuro virá, e o presente é
para ser trabalhado, visando nosso progresso como espíritos
em evolução. Se prender ao passado doloroso ou não,
dessa ou de outra existência, para quê? Para nos aborrecermos,
desanimarmos ou nos envaidecermos em demasia por essa ou aquela posição
que ocupamos no mundo? O melhor é privilegiar o presente, pois
é ele que oferta nossas maiores possibilidades de felicidade,
aqui ou acolá, nesta e em futura existência.
Pensemos nisso.