Allan Kardec, o "Bom Senso Encarnado",
na Introdução de "O Evangelho Segundo o Espiritismo",
divide a matéria contida no Novo Testamento
em cinco partes:
· Os Atos
comuns da vida do Cristo;
· Os Milagres;
· As Profecias;
· As Palavras
que serviram para o estabelecimento dos dogmas da Igreja;
· O Ensinamento
moral.
Considerando as controvérsias que envolveram
e envolvem as quatro primeiras, dedicou-se com exclusividade à
última, relativa aos ensinos morais, por
constituírem-se em "regras de conduta abrangendo todas
as circunstâncias da vida" e porque as mais diversas
seitas, discutindo-as, "encontrariam aí sua própria
condenação".
Mais uma vez temos de render nossa homenagem ao
Codificador, que, intuído pelo "Espírito de Verdade",
tomou essa acertadíssima decisão.
A grande maioria das Doutrinas Cristãs toma
como fundamento a "Vulgata Latina", compilada
por São Jerônimo, a pedido do Papa
Damaso I, pontífice de 366 a 384 d. C.. Coube ao nobre Padre
Jerônimo codificar os textos do Cristianismo disperso, sendo
certo que teve em mãos, no mínimo, 44 narrativas existentes,
à época, cada uma das quais tida como autêntica
por parte da Igreja oficializada pelo Imperador Constantino.
Dispondo de tão avantajado acervo, torna-se
incompreensível o motivo de terem sido recusadas quase totalmente
tais narrativas, recaindo sua aceitação sobre as constava
terem sido escritas pelos apóstolos, conforme "testemunhas
oculares". Assim, a "Vulgata Latina" ficou
composta das narrativas de Mateus, Marcos
(discípulo de Pedro), Lucas (amigo íntimo
de Paulo de Tarso) e João. As 40 outras
narrativas foram consideradas apócrifas e incluídas
no "Index Prohibitorum" da Igreja Romana.
Os originais dos Evangelhos, certamente, já
se achavam perdidos, à época. A própria Igreja
admite que seu texto original foi copiado inúmeras vezes
desde os tempos primitivos. Mateus foi o único
a escrevê-lo na língua em que o Mestre pregou: o aramaico;
seu texto foi, porém, logo vertido para o "koiné",
o grego popular de então, falado em todo o império
romano. Nesse dialeto foram escritos os demais textos aceitos. Às
mãos do erudito Padre Jerônimo chegou um número
superior a um milhar de manuscritos, entre papiros e os chamados
"unciais", estes compostos apenas de letras maiúsculas.
Não foram, porém, utilizados, devido a correções
arbitrárias por incúria de copistas, que geraram mais
de uma centena de variantes, das quais atribuiu-se importância
a cerca de uma dúzia.
Como os Evangelhos logo passaram do "koiné"
para a versão "itálica",
no dizer de Santo Agostinho, foi desta última que o Padre
Jerônimo , adotando os parâmetros de comparação
e harmonização dos manuscritos e citações
– os assim chamados "estudos críticos" –
elaborou a "Vulgata Latina". Segundo
a própria Igreja Católica foi o processo pelo qual
conseguiu-se restabelecer o texto original, "se não
do modo certo, pelo menos suficiente."
Não há, como se observa, certeza de
que os Evangelhos, tal como se acham escritos, representam aquilo
que Jesus ensinou, na sua integridade primitiva; isto, sem falar
nas inúmeras alterações e interpolações
que sofreu, da "Vulgata" até nossos dias. Afinal,
acha-se impresso em quase 1.500 idiomas! Como nos diz, porém,
o Comandante Edgard Armond: "Este fato em
quase nada desmerece seu altíssimo valor, visto que na estrutura
fundamental, a base moral ou iniciática, é mantida
em todas as quatro narrativas."
Os ensinos morais, como afirmou
Allan Kardec, permaneceram à salvaguarda
das adulterações, tão perniciosas à
integridade do bem intencionado trabalho da "Vulgata".
A mediunidade, por surpreendente
que possa parecer, é admitida na elaboração
dos Evangelhos, pela própria Igreja, para justificar e acobertar
decisões de natureza dogmática, tomadas em Concílios,
ao longo do tempo.
Os Concílios de Trento e do Vaticano
consideraram os Evangelhos livros inspirados, que têm Deus
como autor, "por serem escritos sob a inspiração
do Espírito Santo".
Já se vê o motivo de Allan Kardec ter-se
abstraído, em sua obra evangélica, das palavras que
serviram para o estabelecimento dos dogmas da Igreja.
A Igreja, para consagrar seus dogmas, admite que
"a inspiração é uma influência
sobrenatural de Deus sobre o homem: em primeiro lugar,
Deus por ela move o homem para escrever e depois o assiste de modo
tríplice para que escreva somente o que Ele quer. Ilumina-o,
para preservá-lo dos erros; assiste-o, para exarar fielmente
o que há de escrever e por fim lhe dá uma assistência
para que o escritor expresse tudo de modo consentâneo com
a verdade infalível. Desse modo, deve de fato ser chamado
autor do livro inspirado não o escritor humano, mas o próprio
Deus".
Como se observa, a Igreja não considera Jesus
o médium de Deus, mas sim os evangelistas selecionados
pelo Padre Jerônimo como médiuns psicógrafos.
Para a Igreja Romana os Evangelhos são obras mediúnicas
inspiradas por Deus e, como Deus é infalível,
não podem conter qualquer erro, por mínimo que seja.
Em decorrência dessas inferências sofistas,
toma mais valor a orientação doutrinária espírita:
de extrairmos o espírito da letra, com base
no texto do próprio Evangelho, em João
– 6 : 63:
"O Espírito é que
vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos
disse são Espírito e vida."
Bibliografia:
Kardec, Allan – "O Evangelho Segundo
o Espiritismo" FEB
Armond, Edgard – "O Redentor" -
Aliança
Almeida, João Ferreira de – "O
Novo Testamento" – Gedeões Internacionais
Cosêtre, H. – "Guia Através
do Evangelho" - Arquiconfraria de N.Sra. do Sagrado Coração
Fonte:
http://www.apologiaespirita.org/index.htm